Dicas de Don Atílio Garrido

Em janeiro de 2006, com enorme dificuldade de montar o elenco do Flamengo que tinha um pouco mais de meia dúzia de jogadores sob contrato, recebo um telefonema de Punta del Leste, do meu querido amigo Atílio Garrido que, preocupado com a minha complicada missão, fazia uma recomendação entusiasmada sobre um centroavante muito jovem, acho que à época com 18 anos, em quem apostava todas as suas fichas.

Atilio Garrido junto a Ghiggia

Atilio Garrido junto a Ghiggia

Atílio é do ramo. Respira futebol 24 horas por dia. A empresa da qual é o principal executivo, é detentora de praticamente todos os direitos do futebol, no mundo, para o Uruguai. Também é escritor, jornalista e historiador. Soma-se a tudo isso o fato de ser meu amigo de fé, de não ter interesse em nada, de só querer ajudar. Mergulhei de cabeça na indicação. Para ter 80% dos direitos econômicos do jovem atacante, o Flamengo teria que dispor, à vista, de 500 mil dólares. Possibilidade de caixa no Flamengo para a operação era zero. Possibilidade de, mesmo só para ajudar, eu comprar o jogador, sendo o vice-presidente de futebol, ética e moralmente impossível. Tive a ideia de propor um negócio ao empresário Eduardo Uram, que tinha bom trânsito no Flamengo, que lá já convivia com quem anteriormente a mim tocava o futebol e, talvez imaginasse ele que houvesse alguma restrição de minha parte com relação ao modo como antes as coisas caminhavam no futebol, onde de certo modo ele fazia parte. Marquei uma reunião e, assim que chegou, dei o recado: “Uram, para provar que nada tenho contra você, estou oferecendo uma oportunidade de negócio. O Flamengo localizou um jovem atacante no Uruguai e precisa de 500 mil dólares para comprar 80% dos direitos econômicos. Como você sabe, não há dinheiro no caixa. A proposta é simples. Você vai ao Uruguai, compra o jogador, pagando os 500 mil dólares. O jogador vem para o Rio, assina contrato de cinco anos com o Flamengo. O Flamengo, fica com 40% dos direitos, você com 40% e o Nacional, clube que detém atualmente os direitos, fica com 20%. Esta é a proposta.” Uram pediu para ir ao Uruguai com seus olheiros de confiança e prometeu que em duas semanas diria sim ou não. Passadas as duas semanas, me ligou ele, meio sem jeito, de Montevidéu, para dizer que após acompanhar com seus auxiliares, treinamentos e dois jogos do atacante, não se sentia seguro para tal investimento. Agradeci e, pelas informações prestadas por eles não houve o menor estímulo para dar continuidade ao tema. O jogador em questão era bem jovem, Luiz Soares.

Conto isto, não para mais uma vez lembrar ao Uram ter perdido ele provavelmente o melhor negócio de sua vida, pois os 500 mil dólares poderiam ter se transformado em 100 milhões de euros. No futebol, este tipo de coisa acontece. Conto isto para dizer que o olho clínico de Atílio Garrido, com quem almocei hoje, localizou dois jogadores, segundo ele, muito interessantes. Ambos do Defensor do Uruguai.

Felipe Gedoz e De Arrascaeta.

Felipe Gedoz e De Arrascaeta.

O primeiro, já aqui neste Blog elogiado pelo comentarista Roger Flores, é um brasileiro de nome Felipe Gedoz, de 22 anos que, segundo Atílio, é um atacante muito rápido que joga pelos lados do campo, chuta muito forte e bate falta como gente grande. O segundo é Giorgian De Arrascaeta, de 21 anos, um número 10 autêntico. Segundo Atílio, este De Arrascaeta já brilha nas divisões de base das seleções do Uruguai há muito tempo, tendo sido o grande destaque do mundial sub-20 realizado na Turquia, em que o Uruguai foi vice-campeão após empatar no tempo normal e perder para a França, nos pênaltis, o jogo final.

Dicas, de quem conhece e, de quem tem história para contar…