A polêmica do momento

(Reprodução da TV)

Abro espaço no nosso mundo rubro-negro pela enorme curiosidade de saber a opinião dos queridos amigos do blog sobre o que reputo como a polêmica do momento.

Um tempinho atrás, o zagueiro do São Paulo, Rodrigo Caio, levantou todo este tema, quando, através de uma confissão “ao vivo e a cores”, fez o arbitro do jogo voltar atrás e reconsiderar o que havia marcado.

Ontem, o corintiano Jô fez o gol da vitória sobre o Vasco, conduzindo a bola, no toque final, com o antebraço, para o fundo da rede. As imagens conseguiram flagrar o diálogo de Jô com um jogador do Vasco, onde fica claro que o atacante corintiano afirma que havia feito o gol com o peito. Nas entrevistas posteriores ao jogo, ele já saiu pela tangente, dizendo que não se lembrava de que parte do corpo utilizara para colocar a bola pra dentro do gol.

Hoje, no Globo, Paulo Cézar Caju, por quem tenho carinho especial, criticou a postura de Jô, afirmando que a não confissão dele ao árbitro era apenas uma sequência da falência moral que estamos assistindo no país.

Parei muito para pensar sobre o tema. A primeira dúvida é se devemos estabelecer um paralelo nas atitudes que tomamos na vida com a que ocorre dentro de um campo de futebol. Por exemplo: Se você recebe de troco uma quantia bem maior do que deveria e, verificando isso, não acusa o fato, é a mesma coisa que fazer um gol com a mão e não confessar ao árbitro?

Voltando ao jogo de ontem. Como reagiria o torcedor corintiano se, o gol da vitória tivesse sido anulado pelo fato de Jô ter confessado que usou o braço? Jô seria exaltado ou execrado? Querem saber? Acho que a postura de Jô, não acusando o fato, tem tudo a ver com as consequências que teria de assumir junto ao seu torcedor, além do fato de não ter sido desta forma que Jô foi criado no mundo do futebol.

No fundo, estamos vivendo um momento de enorme contradição entre o que, quando meninos, aprendemos, e o que se pratica nos dias de hoje. Quando criança, era inimaginável se dedurar alguém, fosse pelo que fosse e, principalmente, em caso de se tirar vantagem pessoal ao entregar alguém. A porrada comia e não era pouca.

O exemplo disso é um filme antológico, “Perfume de Mulher”, com uma interpretação divina de Al Pacino que, na telinha, era um coronel aposentado que, com a intenção de se suicidar, decide gastar todo dinheiro que economizara nos melhores prazeres da vida e, como era cego, contrata um jovem para ser o seu guia nesta procura pelo prazer e, ao mesmo tempo, despedida de vida.

O final do filme é um discurso épico do Coronel contra figuras importantes de uma universidade que incentivavam uma delação. Se o seu guia delatasse, teria sua bolsa de estudos garantida. Se não, seria expulso. Ali, o Coronel indaga se era assim mesmo que aquela universidade pretendia formar e moldar o caráter daquela juventude, que iria crescer aprendendo a ser covarde e pusilânime.

O coronel ganhou a batalha no filme, mas perdeu na vida real, pois na terra do Coronel nasceu a famosa “delação premiada”, onde virou moda dedurar em benefício próprio. Alguns juristas poderão defender a tese, afirmando que alguns criminosos foram desmascarados graças a este artifício e, é verdade. A pergunta é: Quem está com a razão, o Coronel, defensor da ética humana, ou o resultado prático no combate ao crime, custe o que custar, inclusive a derrocada da ética humana?

No futebol, lá atrás, onde havia mais humor, imperava a “boa malandragem”, onde nas mesas de botequim se ouvia com frequência um torcedor dizendo para o outro: “quero ganhar do seu time, no último minuto, com um gol de mão e, em impedimento!!!”.

E foi assim que Jô cresceu, ouvindo este tipo de coisa uma infinidade de vezes e, provavelmente como torcedor, dizendo o mesmo. Como é que uma pessoa é criada de uma forma e, se exige dela uma reação antagônica a tudo que ao longo da vida ela aprendeu?

Não acho que o mundo lá atrás era desprovido de caráter. Muito pelo contrário. Acho que os valores de antes eram muito mais assimilados do que os de hoje. Talvez, ou melhor, com certeza, havia mais retidão de caráter, de respeito, de disciplina, de amor ao próximo e à própria vida. Havia mais humor. Muito mais… Nada era levado tão a sério e futebol era paixão e prazer. Hoje, se resume à mesma paixão e a uma violência sem limites.

Fica no ar a questão: Com quem ficamos? Com o passado, inflexível na retidão de caráter no dia a dia do ser humano, e permissivo às ”malandragens” do futebol? Ou com o presente, onde a retidão de caráter no dia a dia não é tão importante desde que ajude a combater a criminalidade? Ia esquecendo: e com o futebol, obrigatoriamente, verdade pura?

Convenhamos. O tema é intrigante e profundo. Duas perguntas diretas:

  1. Se você fosse o Jô, confessaria ao árbitro que o gol foi com o braço?
  2. Para ter algum tipo de benefício, você delataria alguém?