Passado e futuro do Flamengo

Logo após a primeira eleição, onde a Chapa Azul foi consagrada vencedora, foi consolidado no Flamengo um movimento que, nada mais é do que a fundação de um clube dentro do próprio clube, o que não deixa de ser algo preocupante, pois o poder é a meta deste grupo, cujo nome é “SóFla”.

Afirmo que é um clube dentro do Flamengo, pois os “associados” da “SóFla” têm regulamento interno, como se estatuto fosse. Ali, há a obrigatoriedade de se pensar como a maioria, não havendo nenhuma possibilidade de um “associado” dar seguimento ao seu pensamento e assumir postura diferente do que foi decidido pelo grupo.

Marquinho Assef contou o caso de um membro da “SóFla” que foi expulso, pelo fato de não concordar com determinada postura que seria tomada em determinada reunião do Conselho Deliberativo do Flamengo.

E, como são participativos, como têm meta, no caso o poder, estão sempre presentes, influindo decisivamente em todas as reuniões.

Abro que parênteses para lembrar que o Conselho Deliberativo do Flamengo é composto pelos membros natos, eleitos e por todos os sócios proprietários, só que, estes sócios proprietários que representam a maioria esmagadora do Conselho, são obrigados – a cada final de ano – a encaminhar um documento dizendo que querem participar das reuniões do Conselho Deliberativo. Claro que, a hiper maioria dos sócios proprietários, por um motivo ou outro, deixa de enviar o tal documento e, com isso, apesar de proprietários, são proibidos de participar das reuniões, o que reduz o conselho a quase uma confraria. E, aí reside o perigo.

Por favor, não confundir este movimento em que os seus membros são obrigados a agir de acordo com a vontade da maioria, como alguns outros que surgiram, como a FAF, Dragões Negros e por aí vai.

Estes grupos eram na verdade uma junção de grandes rubro-negros que, embora formando um grupo, podiam discordar dentro dele. Em síntese, o objetivo não era o poder, e sim, contribuir para o bem do Flamengo. Márcio Braga e Antônio Augusto já pertenceram a um mesmo grupo e, um montão de vezes, saíram no pau, em função de pensamentos distintos. Em síntese, havia no ar, única e exclusivamente o interesse em contribuir, e não, o de assumir o clube.

Muito me impressiona a forma desrespeitosa com que este grupo da “SóFla” trata o passado do Flamengo. Muitas vezes tenho a nítida impressão de que, na cabeça deles, o Flamengo, maior paixão popular deste país, foi fundado há seis anos. Que todas as glórias, os títulos e o maior patrimônio, que é a sua torcida, foram obra do Divino Espírito Santo, em tabelinha com São Judas Tadeu.

Incrível que estas pessoas, jovens em sua grande maioria, não tenham percebido que o mundo mudou e que as dificuldades que muitos dirigentes tiveram no passado, em função de uma série de fatores, hoje não mais existem. Só que, a solução de hoje, teve início lá atrás.

Hoje, o Flamengo pode ter o seu dia a dia tranquilo muito em função da fortuna que arrecada com os direitos de televisão. Só que, para se chegar a isso, houve um pontapé inicial, dado lá atrás, quando Marcio Braga, Michel Assef e outros companheiros, peitaram o genial Dr. Roberto Marinho, exigindo que a Rede Globo pagasse ao Flamengo toda vez que um jogo fosse transmitido. Dr. Roberto achava que o Flamengo é que deveria pagar à Rede Globo, pois esta transmitindo os jogos, divulgava a marca Flamengo. A discussão foi longa, vitoriosa e, o resultado aí está…

O patrocínio nas camisas que, representa hoje, algo significativo para o bem-estar do dia a dia, também foi um obstáculo difícil de ser transposto, pois havia quem pensasse que isto seria uma intromissão, uma agressão, ao “Manto Sagrado”. E, aí também, o Flamengo foi pioneiro e recordista. Pioneiro, por ter sido o primeiro clube brasileiro a ter um contrato específico para a exibição de uma marca em seus uniformes e, recordista por este patrocínio – Petrobrás – ter sido o mais longevo – 24 anos – na história do futebol mundial.

O sócio torcedor, que a exemplo dos direitos de televisão e do patrocínio nos uniformes, representa hoje algo também significativo na contribuição do bem-estar rubro-negro, também é fruto de uma ação antiga. Este movimento, hoje consolidado, teve início em 1995, com a criação do “SÓCIO OFF RIO”, responsável pela transformação do quadro social que, de seis, chegou a quarenta mil sócios.

O marketing, tão importante também, da mesma forma, não foi criado seis anos atrás. Através do marketing ou, como alguns preferem chamar, engenharia financeira, o Flamengo, lá atrás, conseguiu, por meio de ações criativas, trazer Zico de volta e, contratar Romário, Lúcio, Bebeto e Edmundo, sem que o clube injetasse – até porque não tinha – um único centavo.

E, tudo isto sem falar nos dirigentes que viveram o Flamengo em um outro momento, em um outro mundo, além de dedicarem suas vidas à nossa paixão maior, contribuíram com seus próprios patrimônios para superar momentos dificílimos e cruéis para o clube. Desde o primeiro dia como presidente do Flamengo, sou testemunha de que quatro rubro-negros colocaram a mão no bolso para “salvar a pátria” …

Aliás, e me dirijo especificamente aos companheiros que fazem parte do grupo “SóFla”, como é que vocês acham que, em 1995, assumindo o clube que ia para o quarto mês de atraso em todos os salários – 600 funcionários e mais os profissionais do futebol – foi possível retomar a dignidade, com o Flamengo cumprindo todas as suas obrigações com funcionários, profissionais e fornecedores, sem atrasar um dia sequer, de 1995 a 1998? e… isto sem mencionar que, em meio a este tiroteio, tivemos que “recomprar” o passe de Sávio, dado foi como garantia para uma empresa a quem o Flamengo devia.

Lá atrás, amigos, houve o caso de dirigente tão apaixonado que até sua empresa perdeu. Este é o quinto da relação de rubro-negros que tiraram do próprio bolso para resolver a vida do Flamengo. Infelizmente, este quinto, que vivo está, perdeu tudo, menos o seu amor pelo Flamengo. Por ele tenho o maior respeito e menos mal que esteja, em justíssima homenagem, eternizado em algo tão importante para as futuras gerações do nosso futebol.

Resolvi fazer este desabafo, após receber mensagem relativa a esta campanha eleitoral, onde o recado, talvez pelo desespero em função do que as pesquisas apontam, só faz denegrir todos aqueles que um dia foram dirigentes. A mensagem mostra fotos de dirigentes e alerta para o “perigo” destes voltarem, caso a Chapa Roxa seja eleita.

No meu caso, além da foto, a citação de que a Klefer recebeu a visita da Polícia Federal na sua sede. Pura verdade. Só esqueceram de dizer que nada que desabonasse a conduta da empresa, e de seus diretores, foi encontrado. Quanta maldade, quanto ódio enrustido, quanta hipocrisia, quanta falsidade, quanto desconhecimento de causa do que é o Flamengo.

Pena que o extraordinário rubro-negro Walter Oaquim esteja neste mesmo barco eleitoral, o do ódio, candidato à vice-presidente na Chapa Rosa, do “SóFla”. As urnas vão dizer neste sábado, o que os rubro-negros pensam. O Flamengo, fundado em 1895, não precisa de um clube dentro dele. Não cabe. O Flamengo já é grande demais.