Peru de fora

Talvez alguns amigos lembrem que era comum se referir a quem não tivesse domínio total sobre um determinado tema de “peru de fora”.

E havia a conclusão como se fosse um tiro mortal: “peru de fora não palpita”.

Assim devem estar pensando os dirigentes do Flamengo, ante a avassaladora onda de insatisfação pela produção do nosso qualificado e caro elenco. Devem estar comentando entre eles: “peru de fora não sabe nada. Peru de fora não dá palpite”.

Sou obrigado a reconhecer que,  quem está com a mão na massa, quem vive o dia a dia, tem condições infinitamente melhores para uma melhor avaliação, porém, mesmo quem não esteja na linha de frente, mas que tenha razoável conhecimento de causa, ante fatos e informações, pode ter, também, avaliação que possa ser levada em conta.

Mesmo sendo “peru de fora”, porém, com alguma vivência e devorador de todas as informações que partam da Gávea ou do Ninho, após uma noite sem dormir, me atrevo a concluir que o nosso problema seja bem mais profundo do que discutir se Rogério Ceni deve ou não ser demitido.

A verdade é que o doce Portuga foi algo raro, maravilhoso, um ponto fora da curva que, como aspecto negativo, foi encobrir algumas deficiências que, só deram a cara quando foi embora, com sua competente equipe.

Jorge Jesus foi tudo naquele momento mágico. Foi presidente, vice de futebol, diretor, treinador, supervisor, psicólogo, nutricionista e até jardineiro.

Com a saída dos portugueses ficou clara a deficiência da nossa estrutura que, para começar, sofre de crise de liderança. Afinal, quem dá o tom no departamento de futebol? O presidente? o vice de futebol? o conselhinho? o talentoso Bap? todos eles? Nenhum deles?…

Enfim, não há engrenagem no futebol que funcione sem comando definido. E, pelos fatos e pelas informações, não há como não se concluir desta forma.

Rogério Ceni é acusado de só programar os treinamentos para a parte da tarde, para ficar bem com a rapaziada, que não gosta de acordar cedo. Também é acusado de dar folga geral nos períodos de Natal e Ano Novo, enquanto nos outros clubes o trabalho rolava.

Rogério Ceni é acusado e, com razão, de pensar pequeno, pedindo renovações de contrato de jogadores que estamos cansados de saber que não vão dar em nada, ao invés de vasculhar o mercado, procurando soluções definitivas para o time.

Agora, pergunto: como é que isto ocorre sem que ninguém discuta ou se oponha a decisões não pertinentes por parte do treinador?

Acho que a esta altura do campeonato, a primeira coisa a ser feita é definir a engrenagem do futebol. Alguém que assuma o comando, de verdade. Jogador de futebol é sensível e abomina “aspones”.

Feito isto, definir o que seja melhor para este momento complicado e, executar o plano de voo, sem medo e com autoridade.

O momento pede soluções rápidas. Não se classificar para a Libertadores seria a morte de todas as projeções para a próxima temporada. Impensável!

Portanto, o momento requer ação.