(Reprodução YouTube / FlaTV)

A falta do papo amigo

A maior conversa fiada no mundo da bola é a história da interferência dos dirigentes nas decisões dos treinadores.

Há os casos folclóricos, como o de Castor de Andrade que, dizem, não abria mão de participar da escalação do time do Bangu. Os amigos mais íntimos de Castor afirmavam que ao contratar o treinador, este já era avisado de que era desta forma que “a banda iria tocar…”

Não posso garantir que tenha sido verdade, apenas posso afirmar que Castor sabia do riscado, tanto é que, em uma época de grandes times e muitíssimos craques, o Bangu chegou a ser campeão carioca – lembram dos 3 a 0? – e vice-campeão brasileiro.

Ubirajara; Fidélis, Mario Tito, Luís Alberto e Ari Clemente; Jaime e Ocimar; Paulo Borges, Bianchini, Parada e Aladim. Que timaço! E… sei lá por quem, mas muito bem escalado…

Há nesta relação – dirigente/treinador – duas palavras mágicas: respeito e confiança.

A partir daí é mais do que natural o bom entendimento, onde o diálogo se transforma em rotina, com todas as questões sendo debatidas com franqueza e, claro, cabendo ao treinador decidir. O diálogo entre o dirigente do futebol e os membros da comissão técnica, diria mesmo, ser algo básico para se tentar atingir a perfeição. O debate enriquece a cabeça do treinador e permite, em muitas ocasiões, modificar conceitos.

Se houvesse esta rotina no Flamengo, muito provavelmente, Gérson, nosso único armador criativo no jogo passado, não seria escalado fixo na ponta direita, decisão que ceifou o poder de criação do nosso time.

O treinador catalão, que continue abraçando a sua tática posicional, mas que entenda ser necessário respeitar as características individuais dos jogadores. E, tudo isto se faz sem discussão, apenas com argumentos consistentes.

O responsável pelo futebol de um clube tem o dever e, consequentemente, o direito de participar. Quando ele é respeitado e sabe o seu limite, jamais haverá o menor problema de relacionamento.

Tenho a nítida impressão de que esteja faltando este diálogo, tão necessário e sadio, no Flamengo.

O dirigente querer saber do treinador a escalação e a forma como o time vai jogar não é nenhuma intromissão. É obrigação!

Levantar dúvidas, com bons argumentos, é dar ao treinador a possibilidade de rever um pensamento equivocado.

O diálogo não humilha ninguém. Ao contrário, soma, faz crescer a possibilidade de sucesso.