(Foto: FIFA)

E lá vou eu

Quatro fases na vida, tendo o Flamengo como princípio, meio e fim, ou seja, como o amor maior.

Primeira fase, a de torcedor apaixonado, carregando bandeirões, encarando o que fosse preciso para ver o Flamengo jogar, os incontáveis abraços em quem nunca havia visto na vida, muitas segundas-feiras de rei, e algumas outras, poucas, querendo que o mundo acabasse.

A segunda, como jornalista, como repórter, onde tive a absoluta necessidade de sair do desequilíbrio descompromissado de torcedor, para a responsabilidade profissional que exigia independência e equilíbrio. Foi difícil!

Quase a minha carreira, logo no início, foi decepada pela paixão. Atrás do gol, em um Flamengo x Botafogo, Jairzinho entra livre, encobre nosso goleiro e a bola pererecando em direção ao gol. Fração de segundo, encostado à trave, me vi em um dilema incrível. Salvar o gol e foda-se o avião? Dei sorte. Notei que a bola vinha em direção à trave e, não deu outra. Todos salvos. O Flamengo e eu…

Apenas como detalhe, ganhamos o jogo em que Tim, Elba de Pádua Lima, nosso genial treinador, colocou Luiz Cláudio em cima do meu amigo Paulo César Caju e, com isto, liquidou o Botafogo.

Na sequência, virei o repórter do Flamengo. Onde ia o time, lá estava eu. Por isso, ouso afirmar que, duvido que alguém neste planeta tenha visto Zico jogar mais do que eu. Tenho tantas para contar, mas agora não vem ao caso.

Como repórter, honrei minha profissão, sem nunca deixar de ter torcido e, muito, confesso.

A terceira etapa, como dirigente. Em nove anos, como presidente, de 1995 a 1998 e, como vice-presidente de futebol, de 2005 a 2009, pude realizar um sonho que foi servir à paixão da minha vida.

As experiências anteriores, de torcedor e, depois, do comprometimento com a ética e com a razão, sem, porém, abrir mão da paixão, foram importantíssimas nesta sublime missão. Fiz o que pude. Aliás, como presidente, eu e meus companheiros, fizemos de tudo. Resgatamos a dignidade do clube, que passou a honrar todos os seus compromissos com seus 600 funcionários, profissionais e fornecedores.

O resgate da autoestima veio em 95, com a contratação de Romário, eleito no ano anterior o melhor jogador do mundo. No embalo, a campanha do “Seja Sócio”, saindo de quatro, para quarenta mil sócios, a FLA TV e uma estrutura de marketing que propiciou novos clientes e grandes receitas.

Como vice de futebol, a sensação do dever cumprido, apesar do momento financeiro caótico, fruto de sucessivos desmandos, em especial na época da ISL, em que a “bomba” acabou no colo do meu amigo Márcio Braga.

Mesmo assim, em meio a um caos financeiro, ganhamos um campeonato sem volta olímpica em 2005, quando sobrevivemos, Deus sabe como, enxotando a segunda divisão.

Na sequência, sempre com mil problemas, um penta-tri campeonato, uma Copa do Brasil e um Campeonato Brasileiro.

Não bastasse tudo isto, ainda como dirigente, tive que conviver e encarar o desvio de caráter comum ao ser humano e, não seria o ambiente rubro-negro uma exceção, onde alguns destes calhordas ainda sobrevivem.

Talvez lendo o que acabo de escrever, fique fácil concluir o quão feliz estou nesta minha quarta etapa de vida rubro-negra, qual seja o retorno ao início de tudo. A pura e simples paixão de torcedor.

Ontem, mostrando aqui em Paris a queridos amigos os nossos inesquecíveis momentos em Lima, não consegui segurar a emoção e, chorei mais uma vez.

Como acredito no comando e no nosso time, como tenho certeza desta conquista épica e, sei que vou chorar muito de tanta felicidade, estou levando um balde coletor de lágrimas de alegria na minha bagagem.

Voltar a ser torcedor, simplesmente torcedor, é o reencontro com o que possa ser de mais puro e apaixonante na vida.

Estou muito feliz!

Doha, depois do Flamengo, nunca mais será a mesma.