Gol de barriga

Recebi convite para prestar depoimento para um livro, de autoria de Marcelo Kieling, André Viana e Paulo Andel, em comemoração aos 20 anos do gol de barriga de Renato Gaúcho. Mesmo sendo para qualquer rubro-negro um assunto pouco agradável, acabo de encaminhar a maneira como vi e convivi com o tema. Pela ordem, primeiro o convite que recebi e, em seguida, o meu depoimento.


Caro Kleber,

Boa tarde!

Foto: Anibal Philot/Agência O Globo

Foto: Anibal Philot/Agência O Globo

Em parceria com André Viana e Paulo Andel, estou escrevendo um livro sobre o Gol de Barriga, que em 2015 completa 20 anos.Sei da sua pele rubro-negra, mas seria de grande importância ter a sua visão e seu sentimento sobre aquele jogo e como você viveu o momento daquele gol.Será um grande honra poder contar com seu depoimento em nosso livro. Assim, peço que me enviem o seu relato para meu e-mail pessoal, ou podemos agendar um encontro onde tomaremos o seu depoimento.

Estou ao dispor para quaisquer informações.

Um forte abraço,

Marcelo Kieling


“Este tema, ainda polêmico, foi vivenciado por mim de duas formas. A primeira, no calor do jogo e, em função de uma filosofia muito pessoal sobre futebol, por uma questão de coerência, soube entender e aceitar o que aconteceu naquele dia no Maracanã. Quem me acompanha sabe que dou enorme valor ao fator sorte no futebol, principalmente quando as forças são parelhas. No lance específico em que acabou acontecendo o gol de Renato, o Fluminense recebeu o sopro da sorte em duas oportunidades. Inicialmente, quando Ailton ameaça chutar três vezes consecutivas e nas três, o jogador que estava em frente a ele, que era o meio campo Charles Guerreiro, vira de costas, o que convenhamos é impensável em se tratando de um jogo entre profissionais. Depois, pelo fato de não ter havido um cruzamento e sim, Ailton se livrando da bola de qualquer maneira e esta ir de encontro à barriga de Renato e, daí em direção ao gol. Sorte e estrela. Sorte do Fluminense e estrela de Renato, inegavelmente, um vencedor.

A segunda maneira de conviver com o tema foi mais duro, pois semanas após o jogo da decisão , ficou muito claro para mim, por fatos apurados, que o Fla-Flu em questão, na realidade deveria ter sido um simples jogo amistoso, já que, se episódios estranhos não tivessem acontecido, como o Fluminense ter jogado com o América no Maracanã e não no Andaraí,  como jogaram Flamengo, Botafogo e Vasco e,  principalmente, pelo  festival de erros de arbitragem no jogo Flamengo e Bangu, realizado na Gávea, o Flamengo teria sido campeão por antecipação e consequentemente o gol de barriga, mesmo que tivesse acontecido não teria a importância que tem hoje. Estes episódios, felizmente, no mundo do futebol, fazem parte do passado. O jogo hoje é mais limpo, principalmente fora de campo. De qualquer forma, como diria Castor de Andrade, “vale o que está escrito”, mesmo que tenha sido com a barriga…”

Kleber Leite.