Marcelo Cortes

Mundial injusto

Fico aqui no meu cantinho observando e matutando. Meu primeiro espanto, ainda tentando entender, fica por conta de como o futebol, que tem a FIFA como seu representante, pode se curvar e admitir que algo seja mais importante do que ele próprio.
O mundial de clubes sempre teve um lado financeiro, o que é muito natural, até porque sem milho não há pipoca. O problema é quando o aspecto financeiro deixar de ser parte do processo para se tornar protagonista.

O exemplo claro está no fato de a FIFA ter anunciado as sedes, por indicação do rei do Marrocos que, em seguida, reformulou sua decisão anterior, determinando a mudança para duas novas cidades. E a FIFA, ignorando a quantidade significativa de torcedores que tomaram as providências óbvias, como comprar passagens e reservar hotéis (alguns não aceitando devolução de pagamento), acatou como cordeirinho a vontade de sua majestade…
Como se o dinheiro fosse o mais importante e, como se a FIFA estivesse de pires na mão…
Sabe o que é isso? Absoluta inversão da ordem natural das coisas. Nada, absolutamente nada, no mundo do futebol está acima do interesse dos clubes e de seus torcedores.
Vinte e cinco milhões de euros não podem transformar o futebol em um circo.

A injustiça invade as quatro linhas. Como é que alguém pode esperar um jogo igual, se um dos times recém retornou das férias, enquanto o outro está no meio da temporada, no ápice, no esplendor da forma física?
“Ah, isto é em função da Copa do Mundo”, alguém pode argumentar. Conversa fiada, digo eu. Onde está escrito que o mês da decisão do mundial, pela fato da copa ter sido atípica, tem que ser em fevereiro? Por que não em março, abril ou maio? Simples a resposta: foi feita a vontade do Real Madrid.

Conversei com um querido amigo, dirigente rubro-negro, que entende meus argumentos, mas tem receio de expor o mesmo ponto de vista e isto ser interpretado como se já estivesse arranjando desculpa para um possível insucesso.
Entendo e respeito o cuidado, porém, me sinto à vontade para afirmar que tudo isto contraria os princípios básicos de dignidade e igualdade.
Lembram dos estaduais, quando quase todas as “zebras” ocorrem no início do campeonato, quando os times grandes ainda estão azeitando seus motores? Pois é…

Normalmente nossa equipe de preparação física faria um preparo crescente, na medida em que as competições mais importantes não são programadas para o início da temporada. O problemão é que vamos disputar o título mais importante do ano, já de cara, um mês após o retorno das férias. Missão complicada…
Enfim, é o que nos compete tentar. Como isto aqui é Flamengo, tudo é possível.