Cruzeiro 0 x 1 Flamengo
Dentro de campo, malandragem de quem tem uma longa e vitoriosa história no futebol. David Luiz, independente da inocência da barreira cruzeirense, foi genial. Nada a ver, mas parecido com o gol que consagrou Ronaldo Fenômeno, no início de carreira, jogando pelo Cruzeiro, roubando a bola do goleiro e fazendo um gol para a história. Quem com malandragem fere, com malandragem é ferido…
Assim deve estar se sentindo o torcedor do Cruzeiro.
Resultado muito importante, pois mantém o Flamengo no G4, preservando dois pontos de vantagem sobre o Internacional.
No primeiro tempo, Bruno Henrique foi bem e foi o destaque no ataque rubro-negro.
Por falar em Bruno Henrique, que faz parte do título deste post, faço questão, pela coragem e por colocar o dedo na ferida que assola o futebol, de transcrever o artigo de hoje, no Globo, do brilhante jornalista Martin Fernandez.
Quem não leu, oportunidade imperdível.
O futebol devorado pelas apostas
Após seis anos de descontrole absoluto, uma nuvem de desconfiança estacionada sobre a modalidade no país
Martín Fernandez – esportes@oglobo.com.br
O futebol brasileiro tem um problema com apostas, não por acaso sua maior fonte de financiamento. Luiz Henrique, o melhor jogador em atividade no Brasil, está sendo investigado pelo procurador Alejandro Luzon Canovas, chefe do combate ao crime organizado. Lucas Paquetá, titular intocável da seleção brasileira e atleta da Premier League, foi acusado formalmente pela federação de futebol da Inglaterra, o que pode, a qualquer momento, resultar numa punição severa que encerraria sua carreira. Bruno Henrique, atacante e ídolo do Flamengo, foi enquadrado ontem pela Polícia Federal como suspeito de tomar cartão num jogo do Campeonato Brasileiro para beneficiar apostadores.
Todos os três jogadores são inocentes até que o contrário seja provado. O que não muda o fato de que há uma nuvem de desconfiança estacionada sobre o futebol brasileiro. Após quase seis anos de descontrole absoluto, de bilhões de reais despejados sobre qualquer pessoa física ou jurídica que faça parte da paisagem do futebol, não havia como ser diferente.
É razoável argumentar que as casas de apostas são prejudicadas quando armações desse tipo acontecem, afinal seu negócio depende da imprevisibilidade total do que acontece em campo. Se resultados ou mesmo fragmentos dos jogos – como cartões amarelos ou escanteios – foram manipulados ou previamente combinados, casas de apostas deixam de fazer sentido.
Mas também é preciso ponderar que este é o ambiente totalmente selvagem que as próprias casas de apostas ajudaram a criar. Não deve existir nenhum outro mercado no planeta em que os protagonistas das apostas são proibidos de consumir os produtos que eles mesmos ajudam a popularizar. É como se atletas anunciassem drogas: “Consuma doping! Eu não posso, mas você vai adorar”.
A publicidade criou um mundo em que a experiência de um jogo de futebol não é completa sem apostas, em que o dinheiro fácil está acessível para qualquer um – até, ou sobretudo, para quem é próximo de um jogador. Por que não?
Só quem parece disposto a fazer algo para conter os danos é o governo federal. A investigação da PF sobre Bruno Henrique andou porque a Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda obrigou as empresas a terem sede e representantes no Brasil, ou jamais seriam encontradas para fornecer as informações requisitadas. Enquanto isso, o futebol continua despreocupado, prestes a ser devorado pelo monstro ao qual abriu as portas.