Com a cabeça aqui e lá

A cabeça doméstica colocou de lado a Copa do Brasil – foi ali e já volta – e está focada, no momento, para construir a estrada que nos leve ao inédito tri.
Na realidade, estamos diante de uma maratona, na qual já esgotamos a nossa cota de equívocos. Mesmo assim estamos no páreo, pois contando com duas vitórias nos jogos que estamos devendo, ficaremos a cinco pontos do Galo, que ainda jogará conosco no Maracanã. Desta forma, precisamos seguir firmes e torcer por um tropeço do Atlético. Este é o quadro do momento.

Por falar nisso, ainda se discute se a rodada foi de mel ou de fel para o Flamengo. No embalo de quem estava vendo o jogo, em que ganhávamos, levar o empate soou como uma desgraça. No momento, além de entregar a rapadura, mesmo que pela metade, ficou a sensação de enorme chance perdida de encostar no nosso rival.
Agora, com mais calma, devemos colocar na linha de análise os seguintes itens:

1 – Jogamos contra um time que vem desde o início do campeonato no ponto alto da tabela;
2 – O jogo foi fora de casa;
3 – O nosso time jogou sensivelmente desfalcado;
4 – O Atlético jogou contra o lanterna do campeonato é só somou um pontinho.

Em síntese, a desgraça maior, a meu conceito, foi do Atlético que, ante a fragilidade do adversário, poderia ter consolidado sua liderança.
O curioso é que nesta próxima rodada os pretendentes ao título cruzam com os cearenses, sendo a missão mais complicada a nossa, pegando o Fortaleza no Castelão, enquanto o Galo receberá o Ceará em casa.
Embora o campeonato esteja aberto, as ausências dos nossos convocados podem, infelizmente, decidir.
A nossa esperança está na instabilidade do Atlético.
Aguardemos…

A cabeça lá é a nossa cabeça em Montevideo. Recomendo a leitura do belo artigo do brilhante jornalista Mauro Cézar Pereira (abaixo), sobre tema que já abordei aqui no blog em inúmeras oportunidades.
Incrível como os sul-americanos têm a famosa síndrome de vira-lata. No fundo nos achamos inferiores, menores, medíocres. A solução? Macaco de imitação!!!
No caso da Conmebol, ignorando as brutais diferenças para o Continente Europeu, resolve copiar a Champions e define a final da Libertadores em um só jogo, com sede, como fazem os europeus, definida antecipadamente.
Ora, vivemos em um continente miserável onde a fome impera. Malha ferroviária, ZERO! Rodoviária, UM HORROR E PERIGOSA! Aérea, ESCASSA E CARÍSSIMA!

Para piorar, ao contrário do que ocorre no continente europeu, onde há um quase igual poderio financeiro entre os clubes, no nosso continente, o Brasil – apesar de todos os problemas – nada de braçada. Estejam certos de que, daqui para frente, com a quantidade de nossos clubes que disputam a Libertadores, somando-se a enorme diferença de poderio econômico entre eles e os outros clubes da América do Sul, a tendência é que nas próximas dez finais, sete sejam entre clubes brasileiros.
Aí, o absurdo: Flamengo x Corinthians, em La Paz.
Palmeiras x Grêmio, em Caracas. Fla x Flu, em Quito!!! e por aí vai…

A Conmebol, se tiver um mínimo de juízo e sensibilidade, deveria – imediatamente – introduzir uma modificação no regulamento da Libertadores. Se para ela é importante copiar o que se faz na Europa, mantendo um jogo único na final, que acrescente no regulamento:
Em caso de dois clubes de um mesmo país realizarem o jogo final, o local será no mesmo país, com estádio indicado de comum acordo entre os clubes. Não havendo acordo, a definição será da Federação local” – no nosso caso, a CBF. E, ponto!
Não abordei o importantíssimo tema segurança, pois seria redundante após a bela matéria do jornalista Mauro Cézar Pereira (abaixo).

Enfim, aguardemos que haja um mínimo de bom senso e responsabilidade por parte de quem comanda o futebol no nosso continente.


Torcidas de Flamengo e Palmeiras se preparam para grande guerra no Uruguai

As torcidas organizadas de Flamengo e Palmeiras nutrem ódio recíproco há décadas. Há quem diga que tudo começou nos 4 a 1 impostos pelo time de Telê Santana, no Maracanã, sobre o esquadrão de Zico, então em formação. Foi no Campeonato Brasileiro de 1979. Rixa que teria se acentuado nos anos 1980 e se expandido com alianças entre rubro-negros e são-paulinos e dos palmeirenses com vascaínos, entre outras.

Pois tudo isso estará envolvido no grande caldeirão de violência em potencial que se avizinha com a final da Libertadores em Montevidéu. Dos cerca de 2,3 mil quilômetros entre o Rio de Janeiro e a capital uruguaia, mais de 1,9 mil quilômetros formarão trajeto em comum percorrido pelos integrantes das organizadas dos dois clubes. Muitos viajarão em dezenas de ônibus partindo não apenas das duas capitais que sediam os clubes.

Isso significa que serão inúmeras paradas na estrada, marcadas por inevitáveis encontros entre numerosos grupos dispostos ao confronto. Em alguns casos mais motivados por ele do que pela partida. Para muitos componentes de organizadas, essa é a verdadeira “final”. Depois do conflituoso Boca Juniors x River Plate decisivo em 2018, a Libertadores está próxima de vivenciar a mais violenta decisão de sua história recente.

Nos bastidores das torcidas, a movimentação é imensa. O blog teve acesso a áudios que circulam em diversos grupos de Whatts App e redes sociais. Também conversou com integrantes e ex-participantes de organizadas de ambos os finalistas. O clima é de grande preocupação por parte de quem dimensiona e prevê os conflitos antes, durante e depois do jogo, no caminho e, claro, também na cidade que abrigará a peleja.

“Fico preocupadíssimo com a hipótese de uma tragédia ocorrer no trajeto e em Montevidéu com as torcidas do Flamengo e Palmeiras. Não estou mais em torcidas (…) mas acompanho o que ocorre pois ainda tenho amigos lá. Será uma tragédia anunciada que pode envolver muitas pessoas inocentes”, adverte um ex-líder de importante organizada do Flamengo, há anos afastado, mas conhecedor profundo do tema.

“O ódio vem sendo renovado ano a ano, com brigas e emboscadas. A última não tem dois meses. Serão milhares de flamenguistas e palmeirenses de organizadas na mesma estrada e nas ruas de Montevidéu. As convocações são todas falando de briga, direta ou indiretamente. Algumas proibiram a ida de mulheres e crianças. No meio das organizadas até de outros clubes só se fala nesse assunto. Não me surpreenderei se algo como a tragédia do jogo Juventus x Liverpool venha a ocorrer”, acrescenta, se referindo à morte de 39 torcedores italianos em meio à final da Copa dos Campeões da Europa de 1985, no estádio de Heysel, em Bruxelas, na Bélgica.

Entre os áudios diversos, chama a atenção o de um rubro-negro que, digamos, aconselha o outro falando sobre os riscos da viagem ao Uruguai para o cotejo tão aguardado: “Calma aí, Flavinho, vai levar criança para um jogo desses? Não é Clube do Bolinha não, Flavinho, o negócio é sério. Flavinho, não é Beto Carreiro, não, cara. É jogo do Flamengo, final de Libertadores contra o Palmeiras. Não é negócio de Beto Carreiro, Tivoli Parque, Parque Shangai, Terra Encantada na Barra, Disney…”

O “conselheiro” vai além: “Não é isso, não. Parada é cada um levar um oitão, uma caixa de munição, três-dois Rossi, umas vinte facas. Não é negócio de cabo de picareta, não. Leva pólvora, porra. Não pode vir com a mão, leva é pólvora, tem que levar é pólvora, o bagulho é sério. Leva gasolina já de casa, pra fazer coquetel Molotov dentro do ônibus (…). O que vai de nego sem ingresso e duro (…). Vai acabar com o Uruguai, com Montevidéu todo, vai saquear a cidade toda (…). Vai sair um monte de ônibus só com a cara e a coragem, sem um real (…) Vai dar merda, vai dar merda”.

Em outro áudio, um flamenguista afirma que o confronto é inevitável: “Meu irmão, se o Flamengo não ajudar, não botar uma estrutura, uma base forte pra ir a esse jogo, no Uruguai, vai ser uma das maiores tragédias anunciadas de torcida organizada (…). é o tipo de caô que não tem como evitar, vai se encontrar, ou na ida, ou na volta, ou na porta do estádio naquele largo grandão que tem ali. O bagulho vai ser doido pra caralho”.

Do lado palmeirense não é diferente: “Só para lembrar, tá? Caravana para o Uruguai não é passeio, hein. Sem fã clube, hein? Caravana do Uruguai é caravana de risco, hã, hã, hã. Imagina, daqui até o Uruguai torcida do Palmeiras… das desgraças. Você que vai pra fazer turismo, toma cuidado, hein? Toma cuidado, hein? Você torcedor do Palmeirão aí, ô fã clube. É estrada, cara. É ódio, é ódio, hein? É caravana”, alerta a voz alviverde, se dirigindo aos torcedores do clube que não integram o movimento.

Um comunicado de torcida palmeirense passou, há alguns dias, informações sobre a caravana da final, acrescentando que “ainda não tem informação sobre ingresso”. Nele, detalham que o aluguel de um ônibus terá o custo estimado de R$ 23 mil e que, assim, com 46 pessoas por coletivo o custo seria de aproximadamente R$ 500 por cada. Na mensagem, acrescentam que a diretoria tenta baratear e permitir parcelamento.

Entre rubro-negros, também via grupos de Whatts App, circula que a caravana provavelmente sairá do Rio de Janeiro na terça-feira para chegar até sexta ao Uruguai e cumprir “um dia de quarentena”. E mais: “A gente acha que vai estar em torno de uns 400 paus, mas é uma estimativa, não tem a informação concreta”, comunica a torcida aos seus integrantes, além de passar informações preliminares sobre documentação necessária para entrar no Uruguai, vacinação e teste PCR.

Em meio às informações que circulam e trocas de mensagens, de lado a lado o jogo é tratado como “guerra de verdade” e há convocações como esta: “Todo mundo precisa ir, já antecipa férias, já antecipa tudo que tiver, já se organizem. Nós vamos trombar com os caras, não tem como não acontecer. Ou na estrada da ida, ou lá no estádio, depois do jogo, na volta, em algum momento a gente vai trombar, e quando ver a gente vai pegar, então se programem, se organizem, tem mais ou menos dois meses pra isso”.

“Assim como nós, acredito que eles já trabalhavam com a possibilidade de dar uma final Flamengo x Palmeiras. Nosso planejamento começou já na fase de grupos, pois poderíamos pegar também o Atlético. E são nossas duas maiores rivalidades fora do Rio, Mancha Verde e Galoucura, respectivamente”, disse ao blog um componente de organizada do Flamengo.

“Já mirávamos nas duas porque ambas têm padrinhos financeiros. Talvez mandem ônibus para torcidas aliadas (de outros clubes). O fato é que com um ou com mil ônibus, nós vamos. Já com nosso planejamento pronto. E se cruzar na estrada, não vai ter policiamento que seja o suficiente para segurar. Em território do Uruguai, idem. No estádio, talvez. Nossa meta é, já que será praticamente inevitável o confronto, fazer com que seja lá”, antecipa.

As organizadas já lidam com obstáculos logísticos. Em grandes jogos costumam faltar ônibus e ambas as torcidas provavelmente irão buscar soluções em empresas de outros Estados. De qualquer forma, as estimativas são de que pelo menos 4 mil integrantes dos dois lados se desloquem até Montevidéu. Talvez a maior parte sem ingressos. “Muitos estão indo mais pelo confronto, que é inevitável, vai ter”, afirma o rubro-negro. De lado a lado há a expectativa de que patrocinadores dos clubes colaborem bancando os custos do fretamento dos coletivos para a viagem.

As torcidas são inimigas, mas em algo concordam: “A chance de dar uma merda muito grande é enorme. Vai ser igual os confrontos europeus de Champions. Europa League. A única maneira de frear isso é proibir entrada no país, né?”, frisa um integrante da velha guarda de importante torcida palmeirense. Ele lembra que há, ainda, risco de problemas com os locais.

“Temos amizade boa com Nacional e problemas sérios com Peñarol. O cenário de tragédia está aí”, diz, recordando o conflito de 2017, quando Felipe Melo deu soco em Matias Mier e a briga no campo foi parar nas arquibancadas do estádio carbonero, o Campeón del Siglo. “Não houve encontros depois disso, ou seja, grandes chances de a ferida aberta por aquele jogo do Felipe Melo ser mote para encontros movimentados em Montevidéu”, explica.

Em caso de confrontos e violência entre as torcidas de times brasileiros na capital uruguaia, o envolvimento de hinchas dos dois grandes clubes uruguaios não seria surpreendente. Mas para chegar lá é preciso atravessar a fronteira, outro local perigoso nos dias anteriores à final. “Na divisa a fiscalização demora pra liberar pessoas. Imagine se tem dez ônibus do Palmeiras esperando liberação e chegam pelo menos uns quatro do Rio, isso com no máximo dez guardas de fronteira”, prevê.

O experiente integrante de organizada palmeirense acredita que jogos únicos de final da Libertadores só darão certo em lugares de difícil acesso por via terrestre, ou seja, se for no Equador, Peru, Colômbia, por exemplo. “No Paraguai, Uruguai, Argentina, fica muito complicado. E além disso as torcidas locais não são de aceitar uma festa e ficar apenas olhando, né?”

As organizadas do Palmeiras calculam que terão pelo menos 1,2 mil a 1,5 mil ingressos. “E vai muita gente sem”, assegura. Desde Inter de Limeira x Palmeiras, em março de 2020, não fazem uma caravana. Mais um estímulo.

Em contato com o blog, a Conmebol informou que “todas as providências estão sendo tomadas junto às autoridades uruguaias para que os envolvidos na final da Libertadores, dos atletas aos torcedores, estejam em segurança durante a estadia em Montevidéu. Para tal, um ato de segurança integrado está sendo desenvolvido em conjunto pela entidade com as forças de segurança do país sede da partida entre Palmeiras e Flamengo”.

Mauro Cézar Pereira

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