O querido amigo Elso Venâncio, ex-grande repórter da Rádio Globo, presidente da Sport Plus, e nas horas vagas cantor e peladeiro, demonstrou insatisfação e, com toda razão, pelo fato de não se comentar como Carlos Alberto Torres virou capitão, ou melhor, “Capita”.
Na esteira da bronca do Elso, conto pra vocês. Ainda jovem, acho que tinha 19 anos, no Santos, Carlos Alberto tomou conhecimento de um quase motim do elenco santista, inconformado com os salários atrasados e, com os jogadores descontentes pelo fato de Pelé receber uma cota muitíssimo superior nas viagens para o exterior. E, naquele exato momento, a diretoria santista anunciava uma longa excursão por gramados europeus, o que provocou uma tentativa de rebelião por parte dos jogadores que, em manifesto, deram o famoso “ou dá ou desce” pra cima da diretoria. Em síntese, o clube pagava a mesma cota para todos os jogadores ou, ninguém embarcaria.
Confusão geral na Vila famosa. O presidente Atiê Cury, revoltado com a atitude assumida pelos jogadores, foi ao campo, juntou todo grupo no meio do gramado e começou a esbravejar: “O que vocês pensam da vida? Ficaram malucos? Perderam o juízo? Querem ficar desempregados? Vocês precisam saber que esta excursão só vai acontecer porque ele – apontando para Pelé – joga aqui. E, vocês todos são beneficiados, pois mesmo ganhando menos, o que é natural, ganham alguma coisa. Não aceito esta atitude e vou perguntar uma única vez: quem se nega a viajar levante o braço!!!”
Silêncio total e um único braço, solitário braço, apareceu no cenário. O presidente olhou para o jogador e mandou que ele se dirigisse imediatamente ao gabinete da presidência. Era do nosso Carlão o bracinho isolado e único. Carlão afirmou depois que, o trajeto, a pé, que levava três minutos, teve a sensação de uma eternidade. Lá chegando, aguardou o presidente que, quinze minutos depois, chegou esbaforido.
Carlão, imaginando uma demissão sumária, humildemente mandou o “pois não presidente…” E, ouviu o que não esperava. O presidente então perguntou: “Você sabe o motivo de estar aqui?” Carlão, disse apenas uma palavra. ”Imagino…”. Aí veio a surpresa. Atiê, o presidente, olhando nos olhos do nosso personagem, afirmou que ele estava ali porque era homem, porque tinha dignidade, porque teve coragem de assumir o que havia combinado com o grupo e, a recíproca não havia sido verdadeira. E sapecou uma proposta: “Quer ser o nosso capitão a partir de hoje?”
Carlão ali virou “Capita” para sempre, inclusive na seleção. E, ganhou como capitão, o direito de ter uma cota por cada jogo amistoso no exterior, não tão próxima, mas também não tão distante da do Rei…
Assim, Carlos Alberto Torres, o Carlão, virou Carlos Alberto Torres, o Capita.
Eu vi a reportagem antiga em homenagem ao Capita aonde ele narrou este fato.Foi na ESPN BRASIL.
Sensacional !!!
Todo borrado, mas nem ele poderia imaginar isso.