Companheiros e amigos deste blog: Há no ar, e o momento é oportuno, uma rara oportunidade de se discutir o quão injusto o Estado tem sido com os clubes que, com enorme esforço, seguram a bandeira olímpica do Brasil. Neste tema, sem medo de errar, ao longo de 120 anos, o Flamengo vem sendo o verdadeiro porta bandeira dos esportes olímpicos, gastando incalculável fortuna e, nada recebendo em troca.
Convido vocês para que leiam dois comentários sobre o tema. Os dois muito profundos, oportunos e inteligentes, embora, e nada mais normal, haja em algum momento alguma discordância entre eles.
O primeiro, do companheiro Eduardo Bisotto, e o segundo, desta bandeira rubro-negra, que é Radamés Lattari. Leiam e, opinem. A opinião de cada um pode ser um empurrão para alguém em Brasília acordar.
De: Eduardo Bisotto
Kleber, me permita discordar.
1º – Não é em “qualquer lugar civilizado” que o Estado resolve a equação esportiva. Aliás, é justamente o contrário. A maior potência olímpica do Planeta, os Estados Unidos, tem toda a gestão esportiva em mãos privadas. A formação é feita nas Universidades e os atletas se profissionalizam a partir disso.
2º – Que dívida o país teria com o Flamengo pela decisão do Flamengo (e de seus associados) em investir em esportes deficitários? Em tempo: esta equação só poderia ser levantada se a contabilidade histórica fosse realizada nos mínimos detalhes. Ou seja: botar na ponta da caneta quanto custaram ao longo dos tempos os esportes olímpicos e quanto eles deram de retorno para o país, ao mesmo tempo em que se computam os prejuízos havidos com o futebol.
Em tempo: parabéns pelo blog. A despeito da eventual discordância de idéias, é raríssimo um dirigente esportivo e empresário do seu quilate, ainda mais enfrentando uma grave crise em escala global, manter um espaço tão transparente para divulgação daquilo que pensa.
Meus cumprimentos!
De: Radamés Lattari
Caro Kleber,
Este artigo me agrada muito, sou um apaixonado pelo Flamengo e esporte em geral, herança boa deixada por meu pai.
Concordo com vc quando diz que o governo tem uma divida com o Flamengo, e digo o porque.
1 – No Brasil não existe politica esportiva.
2 – Nossas escolas públicas não possuem instalações esportivas e nossos profissionais nem sempre são preparados para a iniciação esportiva.
3 – Nos países civilizados os alunos com problemas é que frequentam escolas particulares , normalmente se estuda nas escolas do governo
4 – A verba destinada aos Comitês Olímpicos é muito superior a que é destinada ao nosso.
5 – No Brasil são os clubes que formam os atletas que representam o nosso país, usando o uniforme com os patrocinadores das confederações nos pódios, os clubes neste momento não tem direito a nada.
6 – Clubes vivem da paixão, paixão não se vende, os patrocinadores é que vivem das vendas dos seus produtos.
7 – Realmente hoje através de leis de incentivo os clubes tem conseguido verbas, mas estas são insuficientes para cobrir todas as despesas.
8 – Mas e o passado… Ao longo dos anos os clubes contraíram dívidas com os seus esportes olímpicos e o governo jamais os ajudou, veja o exemplo no próximo item.
9 – Nos jogos Olímpicos de Los Angeles em 84 quase a metade da delegação brasileira era composta por atletas ou profissionais de diversos setores do Flamengo.
10 – Portanto se o hoje o governo deve menos aos clubes formadores, não podemos esquecer que ao longo dos anos esta dívida é gigantesca.
Kleber, primeiro quero elogiar e defender sua tese que sempre foi a minha também, mas numa próxima oportunidade escreverei a minha preocupação quanto ao futuro do esporte brasileiro, acredito que teremos uma imensa crise após os jogos Rio 2016, poucos esportes vão sobreviver e somente uma elite de atletas vai conseguir prosseguir com seus treinamentos em alto nível devido a uma ajuda do COB que evoluiu muito, mas quem faz este esporte com o apoio do governo vai sofrer muito, vejo o futuro do esporte brasileiro com muita preocupação.
Abraço e Saudações Rubronegras,
Radamés Lattari
A bola está com vocês…
Kléber, discordo frontalmente do Sr. Eduardo Bisotto. Ainda que a iniciativa privada forneça a grande maioria dos atletas olímpicos, ela conta com incentivos fiscais por aluno/atleta que venha a representar seu país. Não acredito que nenhuma universidade americana, por si só, tenha sido responsável por 40% de uma delegação americana ao jogos olímpicos. E ainda que tivesse, não teria recebido os incentivos parcos que o governo brasileiro oferece. As Olimpíadas, assim como a copa do mundo, movimentam bilhões de dólares em patrocínio, direitos de transmissão e etc. Mesmo que a fatia do bolo que cabe ao Brasil não seja igual à copa do mundo de futebol, visto que são muito mais países representados e várias modalidades, ainda assim, esta fatia não é dividida nem entre os atletas, visto que a grande maioria tem como ajuda de custo menos de 2 salários mínimos, e nem aos clubes formadores. Se não me engano, no Pan-Americano de 2001 o Flamengo, se fosse um país, teria sido o 6º maior medalhista. Não há como negar que as federeções esportivas e nosso comitê olímpico sempre lucraram às nossas custas. Nada mais justo que o governo brasileiro faça a conta que o Sr Eduardo citou: Verifique todos os atletas que o Flamengo enviou aos jogos olímpicos e pan-americanos, verifique quantos foram não só atletas do Flamengo, mas foram formados desde as escolinhas, quantas medalhas nossos atletas trouxeram a este país, e nos faça o ressarcimento. Acredito que abaterá toda nossa dívida e ainda receberemos o troco.
Caro Kleber, esse tema é muito interessante e importante, pena que eu não tenha conteúdo para opinar.Olhando o nosso pais de uma forma geral, vejo (infelizmente)prioridades na frente do nosso esporte,isso tudo porque infelizmente chegamos ao ponto que precisamos de medidas emergenciais a curto prazo,tanto na saúde quanto na segurança pública.Quanto ao Flamengo,acho que esse exemplo do Pan pelo menos tinha que servir de exemplo para sermos mais respeitados, tem gente que tinha que lavar a boca para falar dessa instituição genuinamente brasileira, um verdadeiro patrimônio nacional,grande abc a todos.
Amigo Pedro.
Acompanho integralmente sua opinião! Também não me interesso muito pelos esportes olímpicos.
Até porque, enquanto não for aprovado nas olimpíadas, ARREMESSO DE POLÍTICO, vou continuar ignorante no assunto…
Quando Cielo nadava pelo Flamengo, até assistia.
Quando limaram o cara, não sei nem por onde anda.
Contudo, li com muita atenção os dois depoimentos e pincei 3 opiniões do Radamés, as quais, concordo plenamente…
1 – No Brasil não existe politica esportiva.
2 – Nossas escolas públicas não possuem instalações esportivas e nossos profissionais nem sempre são preparados para a iniciação esportiva.
3 – Clubes vivem da paixão, paixão não se vende, os patrocinadores é que vivem das vendas dos seus produtos.
PS – Para quem tinha alguma dúvida sobre como caminha o futebol do Flamengo, Renan colou (abaixo) com muita propriedade a matéria do globoesporte.globo
Caro Kleber,
Para os amigos do blog conhecerem um pouco mais do conselho gestor. Como o senhor já tinha nos explicados antes. Só não sabia que decisões tambem eram tomadas pelo WATTSAPP. Onde vamos chegar?
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/2015/07/reunioes-whatsapp-e-poder-no-futebol-o-conselho-gestor-do-fla.html
Kleber, meu caro, minha opinião contrapõe a do Eduardo Bisotto, pois fiz intercâmbio nos EUA, e por lá é bem claro que a iniciação e o gosto pelo esporte não surgem por mãos da iniciativa privada, e sim, pelos braços do governo, ainda nas High Schools PÚBLICAS.
Estudei numa cidade de 300 habitantes no interior do Mississippi, em 1987, o mais pobre dentre todos os 50 estados norte-americanos, por onze meses. A Jumpertown High School, escola que frequentei, era pública e contava com um ginásio, veja bem, em 1987, que traria inveja aos ginásios dos quatro grandes do Rio, que frequentei enquanto atleta do basquete rubro-negro (junto com o atual vice de esportes amadores, o Alexandre Póvoa, vulgo Popó) e também depois como torcedor. Fora o ginásio, havia campos de treinamento para futebol americano gigantes e com uma infraestrutura também invejável, sem falar do Beisebol e da piscina olímpica aquecida. Isso numa escola pública, voltada a um município de apenas 300 habitantes (de acordo com o Wikipédia, hoje são 400!).
Outro exemplo vi recentemente em Pembroke Pines, cidade do interior da Florida, onde meu sobrinho é o craque do time da escola (já pegou até seleção americana sub-15!). Eles possuem simplesmente um CT para o treinamento de futebol/soccer (da escola!) com quatro campos muito bons e iluminados, salas de fisioterapia, musculação etc. QUATRO CAMPOS!!! Qual clube do Rio possui isso atualmente? (Ver fotos aqui, aqui e aqui)
É aí que nasce o gosto pelo esporte, quando ainda jovens. É aí também que a base é formada e treinada, para posteriormente ser enviada às universidades, quando a peneira é feita e só os melhores recebem bolsas. Logo o poder público tem extrema relevância na formação dos atletas americanos. E esse papel, em nosso país, é feito sim pelos clubes, já que as escolas lamentavelmente não cumprem essa função.
Uma bela discussão sr. kleber, sou contrário ao Flamengo receber uma grana pelo investimento feito nas modalidades olímpicas e ajudar assim a representar a nação nas disputas internacionais.
Tanto o Eduardo como o nosso excelente treinador Radamés estão certos nos seus pontos de vista. O Brasil precisa de uma política esportiva de longo prazo, investir no esporte educacional, no esporte de participação e assim surgirão talentos para o esporte de rendimento. Ele pode utilizar também os clubes esportivos, as ongs, projetos sociais, estabelecendo metas para liberar alguma verba, são inúmeras as possibilidades.
O Flamengo deveria ter escolinhas espalhadas pelo Brasil inteiro de outros esporte olímpicos como tem do seu carro chefe o futebol. O nosso basquete é super campeão, o remo tb, o vôlei ganhou tudo anos passados, todo torcedor que jogar no Flamengo, não apenas no futebol, compram camisa, assistem aos jogos, é um público esquecido, esse público gasta dinheiro pelo Flamengo.
O Radamés esta certo da preocupação do esporte brasileiro depois da Rio 2016. Não existe uma política e futuras gerações serão prejudicadas, sem falar em regiões do Brasil onde o conhecimento para se desenvolver o esporte, demora a chegar.
Em relação a reportagem do globo esporte .com alguns ex presidentes, o conselho deliberativo, devem entrar de cabeça e acabar com isso, é uma vergonha o nosso clube ser comandado assim e pior é essa notícia sair em todos os lugares e ninguém da diretoria marca uma entrevista coletiva para desmentir ou afirmar que é assim mesmo, o silêncio impera nos azuis.
Sr. Kleber, já perguntei uma vez, O que o sr. faria nesse momento, com o poder da caneta ?
Olêlê, olálá, o BAP vem ai e o bicho vai pegar…
Grande Carlos Egon, hoje fomos “brindados”com uma matéria, que gentilmente foi apontada pelo Renan (espetacular por sinal) e uma entrevista na ESPN do BAP,como citou o André…parece claro agora que o tal do conselho gestor é um mico, uma verdadeira piada de mal gosto, que pelo jeito vai ser o fiel da balança nas eleições e que pelo o jeito o Bandeira não tem autonomia ou visão pra acabar com essa barca furada, vale a pena ler,apesar de um pouco extensa a matéria, SRN
Amigo Pedro.
Faz tempo que nosso presidente vem sinalizando, o quanto é nefasto para o futebol do Flamengo este tal Conselho Gestor.
A matéria é QUASE um repeteco de tudo que Bap falou, quando rompeu com Banana de Mello por causa da Ferj. Ou seja! Foi a gota…
Algumas razões me fizeram recuar em relação ao Bap.
Não questiono em hipótese alguma, sua competência profissional e sua cabeça extraterrestre.
Começou azedar, quando majorou os ingressos covardemente em detrimento do povão.
Numa entrevista, no auditório do clube, deixou bem claro que futebol profissional é para quem podia pagar. Quem não pudesse, ficasse em casa…
Não podemos isentá-lo de todas as contratações absurdas, quando estava no poder, e sempre endeusado pelos Azuis. Inclusive Carlos Eduardo.
Fez parte sim, do atual Clube do Bolinha, que sempre fechou os olhos para os profissionais que militam no futebol.
Inteira razão, por ter rompido com o presidente!
Realmente Bandeira de Mello não tem nenhum perfil para presidente do Flamengo, está claro, que está adorando o “poder” (sem ter).
A matéria é bastante elucidativa. Mas já vi este filme com o mesmo personagem, quando venceram as eleições.
Como a teoria na prática é outro papo, Bap prometeu o que não podia cumprir.
O que me desaponta terrivelmente, é a tabelinha com Wallim Vasconcellos.
Ex vice presidente de futebol, que não sabe a diferença entre uma bola e uma jabuticaba, de uma arrogância absurda, e com dom natural para fazer política.
Prova disso, é que renunciou ao cargo, colocou o Wrobel no seu lugar, e continua dando as cartas no Departamento de Futebol. Por baixo dos panos. Sem aparecer…
É um VICE DE PATRIMÔNIO que manda mais que o presidente, e o grande responsável por nossos fracassos no futebol.
Portanto, caro Pedro, enquanto Bap estiver atrelado a este personagem, se puder fazer campanha contra ele, farei com o maior prazer.
Os Azuis resgataram o respeito perdido. Por outro lado, NO FUTEBOL, estão conseguindo a façanha de nos fazer lembrar da antecessora.
Belíssima discussão. Começo por me pôr no meu lugar: sou só um palpiteiro desimportante. Radamés é um patrimônio do esporte brasileiro, com um legado reconhecido por alguém do porte de Bernardinho. Desnecessário dizer qual opinião importa mais.
Agora por partes, tentando clarear minhas opiniões que alguns comentaristas parecem não ter entendido de maneira adequada.
1º – Eu não afirmei que nos Estados Unidos não existe nenhum investimento em esportes. Falávamos de esportes de alto rendimento. O quê são as Universidades americanas? Organizações estatais? Não, né? Indubitável que a base muito bem feita em escolas públicas ajuda. Mas o alto rendimento fica por conta da iniciativa privada.
2º – De pleno acordo com Radamés sobre não termos qualquer política esportiva. Poderíamos debater ad infinitum sobre qual a política seria a mais adequada. Há o modelo americano (foco na base e esportes de alto rendimento por conta da iniciativa privada) e também o modelo chinês (uma evolução do velho modelo comunista: o Estado isola os potenciais atletas, desenvolve os quê conseguem sobreviver e descarta o resto como lixo). O problema é que não temos nada. Concordo muito com Radamés sobre a questão do pós-Rio 2016. A chance de haver um desmonte nas parcas políticas pontuais montadas para incentivar os atletas não é pequena.
Por fim: a discussão sobre um modelo brasileiro para o esporte é necessária e urgente. Gente do calibre do Radamés e do próprio Kleber, gestor esportivo, dirigente com vasta experiência e empresário, certamente tem muito a contribuir. O quê não dá é pra seguirmos sem modelo nenhum e sacando soluções de improviso de tempos em tempos.
Forte abraço à todos e um muito obrigado especial ao Kleber. Certamente eu não mereço a deferência de ter minha opinião pareada com a de um gigante como Radamés Lattari.