Fora do Rio, recebi a informação de que o nosso Conselho Deliberativo, por expressiva maioria, aprovou a venda, pelo valor de sete milhões de reais, do casarão, na rua Jaime Silvado, em São Conrado.
Longe de querer criticar uma decisão soberana do Conselho mais democrático do Flamengo, mas não dá para não ficar com um nó na garganta e, impossível impedir que doces lembranças não sejam reavivadas.
Como profissional de imprensa, dali vi o Flamengo sair para vitórias memoráveis e para muitos títulos. Ali, numa época em que havia ligação estreita entre jogadores e repórteres, pude realizar matérias maravilhosas.
No casarão da Jaime Silvado, Bebeto, de malas prontas, foi convencido por dois rubro-negros a não retornar para Salvador. A solidão e a saudade da família angustiavam o baianinho. Os argumentos foram convincentes e, Bebeto acabou ficando. O final deste lindo filme todos sabem.
Em 95, quando assumimos a presidência, o casarão estava em petição de miséria, caindo aos pedaços. Fizemos à época, em ação comandada por Plinio Serpa Pinto, uma reforma espetacular, que deixou a nossa concentração um brinco. A grande vantagem em ali concentrar era pela integração, onde todos estavam juntos o tempo todo e, não interagir era impossível.
Vários gênios da bola ali passaram. Ali foi a casa de Zico, o nosso Rei. O último gênio que por lá passou foi Romário.
Tudo ainda está muito claro em minha memória. Os portões, de entrada e garagem. A varanda, a sala de TV, a sala de sinuca, a copa, a cozinha e o salão de refeição, tudo isto em baixo.
Em cima, o varandão, os enormes banheiros e os quartos. O casarão era muito aconchegante.
Claro que, as mudanças fazem parte do processo de vida. Óbvio que há muito mais conforto no Hotel Windsor, que é a nossa concentração desde 2005. Não quero, nem posso comparar estes dois momentos. O que posso assegurar, é que havia magia naquele casarão e que ele é um pedaço importantíssimo da nossa história.
Quando passo pela praia do Flamengo, não há uma única vez que meus olhos não procurem o número 66, local onde o nosso clube deu os seus primeiros passinhos na vida. Ali, durante quase 10 anos, quatro vezes por semana, suava o quimono com o escudo rubro-negro.
A sede velha, como era chamada, era a minha segunda casa. Também, tudo claro na minha cabeça como se fosse hoje. Na chegada, portaria muito simples e a quadra de futebol de salão, de cimento. Na sequência, o ginásio no andar de cima e, em baixo, vestiários à esquerda de quem entrava e, em seguida, a sala de levantamento de peso. Mais adiante, a quadra de peteca. Subindo a escada, o judô e o boxe. E, ainda havia um bar, na parte de baixo, bem em frente aos vestiários.
Sei que um dia, ante as circunstâncias, houve a necessidade de se vender a sede velha. Sei que hoje, ante um imóvel sem ocupação, o conselho entendeu que vender e aplicar os recursos no Centro de Treinamento era oportuno.
Da mesma forma, tenho a certeza absoluta de que, muito em breve, o Flamengo terá um equilíbrio financeiro suficiente para grandes investimentos, sem a necessidade de ter que se desfazer de sua própria história. O único problema é que este passado, parte significativa de uma vida de glórias, não poderá jamais ser recomprado. Será apenas uma doce e inesquecível lembrança para quem teve o privilégio de ter vivido momento tão especial. Só que estas pessoas não são eternas e quando a última aqui não mais estiver, terá sido quebrado definitivamente o elo entre o passado, o presente e o futuro.
A sede velha e o casarão de São Conrado deveriam fazer parte do Museu Rubro-Negro, onde todas as gerações futuras, de alguma forma, teriam o direito de, mergulhando no passado, saborear melhor o Flamengo deles.
Enfim, entendo e respeito todas as decisões, mas com um apertado nó na garganta e, lamentando pelos rubro-negros do futuro, fadados, desde já, a amar um clube com a memória comprometida.
Querido Presidente.
Obrigado por compartilhar conosco mais este excelente texto narrando um pouco mais da história do nosso Mengão.
Parabéns!
Parabéns, Kléber! Memória não tem preço!
Caro Kleber Leite, já dizia o tricolor Nelson Rodrigues, que a memória do brasileiro não vai além da missa de sétimo dia. Veja só, o Sr Sérgio Cabral Filho destruiu o Maracanã e sua grandiosa história, num piscar de olhos, passou por cima até do tombamento do estádio, do velho maraca, só ficou a “casca”. Conheci razoavelmente a sede velha da Praia do Flamengo e sei que o casarão de São Conrado está em ruínas. Deixar degradar dessa forma é que não poderia ter acontecido. Espero que pelo menos tenham preservado documentos, foto e até vídeos destes dois locais que ajudaram a fazer a grandiosa história rubro-negra. Durante um bom tempo, o casarão da Rua Jaime Silvado foi também concentração da seleção brasileira, além dos nosso craques, por lá passaram Pelé, Tostão, Rivelino, Gérson, Jairzinho e cia..
Infelizmente a história ficou em segundo plano para voltarmos a fazer história.
Realmente Memoria nao tem preco, grande Texto. Porem tambem acho bastante triste deixar o casarao da forma como estava , abandonado pronto para ser invadido ou ate desabar. Infelizmente e dificil lidar com o Passional e Profissional como e o mundo do Futebol, apesar de esta se organizando o clube ainda tem muitas dividas e o casarao nao rendia nenhum ganho pelo contrario gerava apenas dividas.
Nostalgia…lembranças de uma época mágica. Lembrança de ouvir jogos no rádio…de ouvir programas esportivos em busca de informações.Globo, nacional e tupi. De torcer pra tv pegar bem para assistir o Flamengo jogar. Da tremedeira que me deu na final do mundial. Assistindo com a imagem ruim ao lado do meu pai…e ele me perguntando porque eu estava tremendo. Do choro incontindo ao ver o gol de china do grêmio no 1×1 no maraca na final em 82. De sair pulando e gritando na casa de um amigo ao ver o gol do zico na final contra o Santos em 83. Nostalgia..memórias que nao tem nada que pague ou apague. Da tristeza ao perder o inacreditável carioca para o flu em 95..assim como a copa do brasil em 97…lembrança e tristeza ao ver o zico chorar em 89 ao perder um jogo para o SP por 3×0 no morumbi. Para quem viveu essa época ao ler esse texto do presidente..deve ter sentido o que é ser nostálgico e pq amamos tanto esse clube. Parabéns presidente e por favor nos presentei mais com as histórias de quem só viveu os bastidores pode contar. Obrigado por nos deixar viver isso tudo novamente.
Caro Kléber! Somente quem viveu esse tempo é capaz de expressar em palavras os nós que se formaram na sua garganta. Lógico que em nome de uma reformulação e talvez de forma ordeira, a nossa diretoria está se desfazendo desse pedaço da história para construir outra. Que no fururo,o nosso CT tenha a honra de abrigar alguém a quem possamoa chamar de REI e mesmo não sendo um Zico, que seja capaz de transformar o nó da garganta num grito multiplicado e renovado de É CAMPEÃO! Belo texto e te dá os parabéns é pouco! Nos curvamos diante de você. SRN
Gol de Tonho para o Grêmio no primeiro jogo da final no maraca, minutos depois golaço do Zico caro Liliano Brandão….
Po kleber
Esse aqui não é nem o post sobre o qual queria falar, leio seu blog quase diariamente, acho que você representa todos nós, por isso mesmo venho aqui pedir um pouco mais de calma com nosso treinador, ele fez milagre com o time, ajeitou muito rápido, com o muricy nem parecia um time de futebol, hoje vejo todos os jogadores correndo e se impondo, mostrando o que é Flamengo, estamos vacilando muito no final dos jogos, o último jogo prova isso, estava pra um 5×0 e foi 2×1 quase infartando, jogo contra o flu, corinthians são prova disdo também..
Por favor kleber
Peço pra deixar o treinador trabalhar pq sua opinião acaba tumultuando
Opinião de quem acha sua opinião importante
Saudaçoes rubro negras
Presidente, concordo com o senhor em relação a transformar a sede velha e o casarão de São Conrado em parte do Museu Rubro-Negro. Entretanto, na situação atual temos que fazer caixa.
Sobre a Praia do Flamengo 66, também nunca esquecerei deste endereço. Foi em 1997 quando fui chamado para uma entrevista de emprego ali. Peguei um táxi na Candelária e disse para o taxista que o destino era Praia do Flamengo 66. O taxista me
perguntou qual era o meu time e respondi Flamengo. Ele disse que o Fla foi fundado neste endereço. No prédio, há à direita uma placa sobre o Fla. Sobre a entrevista de emprego esta foi bem sucedida mas preferi declinar uma vez que eu já estava curso um Mestrado na PUC-Rio e preferi estudar. O fato é que a minha primeira oferta de emprego foi feita na Praia do Flamengo 66!
Mansão Fadel Fadel…
Eterno Presidente e querido Kleber, chorei copiosamente ao saber da notícia.
Aprendi uma coisa com a minha saudosa vó Maria Madalena, “Patrimônio não se desfaz meu filho”.
Parece-me que transformaram 7 milhões em 70.
O dinheiro sumirá em algum investimento passageiro e ficaremos sem a mansão que faz parte da linda história do clube. E que poderia ser muito bem aproveitada, mas que por incompetência foi deixada de lado, sem nenhum projeto.Como um trapo ou como já não servisse para mais nada, o que discordo plenamente. Se estivesse no conselho, votaria contra e apresentaria um projeto para a mansão.
Muitos gestores de hoje, confundem os significados das palavras futuro e avanço.
Saudações Rubro-Negras!
História vendida por dois anos de contrato de qualquer jogador mediano.
Dirigentes do Flamengo, que desculpa mais esfarrapada: ” O casarão estava em péssimas condições”. Ora, se estava em péssimas condições, onde vcs estavam que não cuidaram dele, que não deram a ele uma destinação e o conservaram? Uma construção tão bem localizada não serve para nada? Nem para concentração de atletas da base? Ou como sugeriu Kleber, museu que guardasse um pouquinho de nossa história?
Senhores, a cada dia que passa fico a imaginar que, grandes homens do mercado, tão bem falados, podem ter sucesso em negócios, mas o coração, é de gelo!
Obrigado pela correção prezado Anca…mas chorei do mesmo jeito…..
Querido Kleber, faço das suas, minhas lembranças. Quantas foram as ocasiões nas quais junto com o nosso saudoso barão e ainda menino fui almoçar no casarão de São Conrado num domingo de clássico no Maracanã.
Ali a convivência era única e inimaginável nos dias de hoje. Jogadores, comissão técnica, diretoria, imprensa e até torcedores que vinham acompanhar a saída para o estádio.
Tempo bom, que infelizmente não volta mais. Mas que sempre estará guardado na memória com muito carinho. Saudações.
Prezados,
Muitos saudosistas reclamando da venda, mas existem coisas que devem ficar apenas na memória. Para a atual estrutura de times de futebol, o casarão não apresentaria qualquer utilidade para o time profissional.
Do mesmo modo, também não haveria lógica em deixar como hospedagem da base, considerando que no Ninho teremos hotel para 190 meninos, com refeitório e escola. O casarão não poderia oferecer algo parecido que pudesse ser aceito pelo MP e pelo Juizado da Infância e Juventude, para moradia de jovens.
Os tempos são outros. Essas belas história do casarão poderiam ser contadas em um grande museu em uma futura Arena, tal qual fizeram com o lendário Estádio Wembley…
Poderiam gravar um documentário com relatos dos jogadores, diretores e repórteres o quanto antes, pois o tempo passa… Fica a dica, Presidente e Jornalista Kleber Leite.
Um grande abraço!
Kleber,
compartilho com seu momento nostálgico. É muito bom falar de passado, especialmente quando você é parte dessa época.
Mas o realento é saber que o dinheiro será bem aplicado. Vai ajudar a que o presente vire um passado ainda mais saboroso para futuras gerações de rubro-negros, sem os percalços vividos hoje por nossa geração.
1 – Muralha ou PV
2 – Rodinei ou Pará
3 – Réver ou Donatti
4 – Juan ou Vaz
6 – Jorge ou Éverton ou Chiquinho
5 – Márcio Araújo ou Cuellar ou Ronaldo
8 – Arão ou Éverton ou Mancuello
7 – Mancuello ou Éverton ou Gabriel
10 – Diego ou Patrick ou Adryan ou Paquetá
11 – Éderson ou Emerson ou Cirino ou Fernandinho ou Thiago
9 – Guerrero ou Damião ou Vizeu
Kleber, meu presidente,
Essa casa faz parte da minha, da sua, da nossa história!
Sou totalmente contra sua venda e acho que transformá-la num museu seria espetacular! Sempre que passo por São Conrado estico o pescoço na direção da casa. Já vi Zico, Bebeto e vários outros craques naquela varandinha de madeira. Perder essa casa é perder um pedaço do nosso passado. Que tristeza.
Pô Roberto,
Eu já olhei muito pra aquela varanda ao passar por São Conrado mas nunca dei essa sorte, só via uns moleques que, creio, eram juniores… E me posiciono contra a venda também, o dinheiro arrecadado nessa venda vai sumir num instante, virará pó numa indenização a um Carlos Eduardo da vida.
OBS: Após escrever as linhas acima, dei uma pesquisada na internet e vejam que interessante, SÓ EM 2015, pagamos METADE DO VALOR DESSA CASA A TRÊS EX-JOGADORES: ANDRÉ SANTOS, CARLOS EDUARDO e ELANO RECEBERAM 3 MILHÕES APÓS SAÍREM DO FLAMENGO, APENAS EM 2015!!! NO TOTAL DE 2015, 18 MILHÕES FORAM PAGOS A EX-JOGADORES.
PRA QUE VENDER ESSA CASA? A CASA FICA, MAS O DINHEIRO VAI…
Kleber,
Ontem fiquei muito emocionado lendo este teu post e só hj depois que li a mensagem do Otavinho Drumond é que tive coragem de escrever.
Eu ainda menino ia sempre a concentração levado pelo meu pai, lá aprendi a jogar buraco com meus ídolos Paulo Henrique e Murilo, vi muitas partidas de sinuca e o Rodrigues Neto tentava me ensinar, assisti diversas preleções do Tim, Fleitas Solich, Zagalo que formaram a minha personalidade de treinador, tinha a deliciosa comida do seu Joaquim, o gerente Haroldo, para muitos é só um casarão, mas para alguns são parte importante de uma vida.
Sou daqueles que vou lutar sempre pela preservação da história do Flamengo, o Flamengo cresceu e quero ve-lo cada vez maior, mais não podemos esquecer das pessoas e de seus patrimônios que o fizeram o maior do mundo.
Quanta saudade do meu pai, Tio Ivan Drumond o Barão, Dr Hélio Mauricio, Flavio Soares de Moura, Veiga Brito, Fadel Fadel. Dr Moreira Leite e tantos outros
Rada, só quem conviveu com aqueles tempos,sabe quão belas são aquelas lembranças.
Certamente Tio Radamés, Barão, Hélio Maurício, Veiga, Seu Moreira estão lá em cima curtindo muito nossas lembranças e torcendo pelo nosso Flamengo
Lembro pouco dessa concentração, não sou dessa época, mas acho que vender essa casa não é solução para nada, é, na verdade, dilapidação de patrimônio, simplesmente isso. Um patrimônio que vai acabar parando nos bolsos de quem não merece recebê-lo.
Kleber, presidente mais ousado e criativo depois do Márcio Braga e sua turma. ..Por favor não coloque ninguém no mesmo parágrafo com o Zico…a não ser se for anterior como um Dida…um Carlinhos….ou contemporâneo como Geraldo…Doval…Rondineli…enfim. ..as feras.
-.-.-.-.-..****..-.-.-.-
Quer falar do Romario. ..Bebeto…Pet etc tudo bem mas com a reverência de outro parágrafo. ..
Abs
Sr. Kleber. Obrigado por dividir conosco mais uma história rubro negra. como tive vontade de conhecer essa casa, minha irmã mora no RJ desde 1991, do outro lado da rua, em um condomínio vizinho ao Fashion Mall. Como fiquei na varanda olhando para aquela casa, imaginando como seria dentro, lembrando reportagens que vi quando criança, quantos jogadores passaram por ai, quantas vezes passei de carro ou a pé e tive vontade de tocar na campainha, loucuras de um rubro negro.
Realmente hoje ninguém imagina uma casa como concentração, se a venda for para adquirir algo para o clube, acho correto, se não, ela deveria ser transformada em Museu, mais uma forma de arrecadar $$$ ( Tio Patinhas EBM e sua turma adoram…) e valorizar a história do clube.
Parabéns Lattari e Drumond pelos depoimentos emocionados…