Ontem, fui entrevistado pela Rádio Guaíba, de Porto Alegre e, os companheiros que leram o Blog, queriam falar do João Saldanha. Lá pelas tantas, um deles perguntou se um dos hábitos do nosso personagem era andar armado. Claro que não! respondi. E os tiros no Manga e no farmacêutico do Leblon, retrucou o companheiro. Fatos isolados, respondi. Bem, o episódio do Manga, ex-goleiro do Botafogo, todos sabem, mas é sempre bom repetir que, os tiros disparados nunca tiveram a direção de Manga. Os tiros para o alto, tiveram como intenção botar o goleiro pra correr e, ele não só correu, como pulou um muro que poucos saltadores conseguiriam, de tão alto. Tiros morais, diria, sem medo de errar. O do farmacêutico, foi apenas dar um susto em quem havia minutos antes destratado, da forma mais grosseira possível, a “secretária” dele.
Melhor foi a do motorista português. Discussão no trânsito e o motorista de táxi, um português enorme, começa a ofender o João que, revida as agressões verbais. O gigante português desce do táxi empunhando uma gigantesca barra de ferro e desafia o João pra sair na porrada. João desce do carro, olha para o português, e diz: “também, com esta barra de ferro…quero ver na mão…” O português olhou para aquela figurinha franzina, sorriu e, jogou a barra de ferro no chão, mais próximo do João, do que dele. João, ato contínuo, pegou a barra de ferro e encheu o português de porrada. O português foi salvo por um PM que saltou de um ônibus e acabou com a briga. Chamou o português de burro e, liberou nosso Saldanha. O PM, era rubro-negro.
Cali, Colômbia. Piscina do hotel Inter Continental, onde estávamos hospedados. João, Cury, Oscar Eurico, repórter da TV Globo, João Humberto, Loureiro, Doalcey Camargo e Waldir Amaral. Lá pelas tantas, João chama a atenção de todos e fala baixinho, quase sussurrando: ” Olhem em direção ao bar”. Olhamos e, vimos andando em nossa direção o cantor Nelson Ned, de mãos dadas com a mulher dele. João, prosseguiu: “Isto é para vocês terem uma noção exata do que é superação. Este rapaz saiu do nada e, com tudo contra ele, conseguiu ser um dos mais importantes cantores das Américas. Vendeu mais disco do que o Roberto Carlos. Tenho profunda admiração por ele.” Nisso, Nelson Ned e a mulher já estavam bem próximos à nós. Nelson Ned foi chegando e, cumprimentando o João. “E aí João, viemos te dar um abraço”. João, respondeu: “estava falando em você, enchendo a sua bola. Aliás, você só não é perfeito, porque nunca gravou uma música do Chico Buarque.” Nelson Ned, ouviu, fez cara de nojo e, disse: “Deus me livre, gravar música deste comunista de merda”. João, vermelho de raiva, como não acreditando no que estava ouvindo, disparou: “Anãozinho vagabundo!!! Vá se foder!!!!” Se houvesse ali um buraco, nós, testemunhas deste momento inacreditável, mergulharíamos nele. Como não havia, mergulhamos todos na piscina. Jorge Cury, com seu joelhinho baleado foi o primeiro a saltar, empurrado pelo riso e pela vergonha.
João cumpria à risca o mandamento básico para qualquer ser humano, em que, coerência, é fundamental. Quando escolhido para dirigir a seleção brasileira que chegaria ao tri-campeonato, João foi ele mesmo, à partir do anúncio da convocação, que aconteceu na TV Continental, na Rua das Laranjeiras. Convocou 22 jogadores, anunciando o time titular e time reserva. Nenhuma firula, nenhum mistério. Tudo transparente, tudo simples, como ele era. Ali, o mundo conheceu AS FERAS DO SALDANHA. João Saldanha era motivo de orgulho para qualquer brasileiro. Onde quer que chegasse, um batalhão de repórteres e cinegrafistas o cercavam. João, foi uma das maiores personalidades brasileiras. Reverenciado pelo mundo.
Londres. BBC. Entrevista de João Saldanha na TV inglesa. O repórter inglês, empertigado, afirma que era desigual para os europeus ter que jogar o mundial de clubes na América do Sul, pois os sul americanos tinham índole de bandido. Perguntou a opinião do João que, respondeu “Vocês ingleses são muito engraçados. Você, pode me dizer como a Scotland Yard ficou famosa? Prendendo freiras ou, prendendo muitos bandidos, quase todos ingleses? Os bandidos, historicamente, são vocês”. A entrevista coletiva acabou ali.
Enquanto escrevia, minha mente liberou fotos e momentos maravilhosos em que papai do Céu me agraciou, colocando esta figura mágica, genial, única, na minha vida. Ri e chorei. De saudade e gratidão. Como diria João, “Vida que segue”…
Um lindo domingo. Um domingo de Maraca lotado. MENGOOOOOOOOO!!!!!!!
Kleber muito bom curtir seus comentários. Faz muito tempo que faltava vida inteligente nos blogs.
Forte abraço
Parabens Kleber pela iniciativa deste blog , acompanhei muito seu trabalho na Radio Globo, nos anos 80,com muita competencia inovando o jornalismo esportivo e influenciando gerações, voce é um visionário da comunicação, profissionais que não aparecem mais.
A dupla que fez com Ronaldo Castro foi sensacional. Foi na Tupi anos 80. Inspirou a mim e a muitos que iniciaram no Rádio.