Todos nós fomos impactados pela tragédia de hoje em São Conrado.
O mundo, espantado ante este drama, faz com que cada um de nós conclua que a vida nada mais é do que um fiapo.
O futebol já teve a sua tragédia escrita no mesmo lugar. Ali, pescando, sugado pelas ondas, morreu o zagueiro gaúcho Ari Ercílio, que jogava no Fluminense.
Deixo com vocês, sobre o triste tema, o texto do genial Nelson Rodrigues.
1 – Amigos, só conhecia Ari Ercílio de “Mário Filho”. No passado, o campo pequeno criava uma intimidade entre o torcedor e o espetáculo. Era uma relação muito mais intensa, uma convivência muito mais dramática. O torcedor sentia-se como um jogador a mais, dando botinadas em todas as direções. Mas o ex-Maracanã inaugurou uma nova distância entre o público e o espetáculo.
2 – E havia entre mim e Ari Ercílio, a separar-nos, essa distância imensa. Nunca lhe apertei a mão, nunca um “oba” nos ligou e ele seria para mim quase um desconhecido. Mas aí é que está: – o sentimento pode contrariar todas as leis da óptica. Eu gostava do gaúcho e, por ser gaúcho, dei-lhe o nome de “Domingos dos Pampas”. Várias vezes, o Marcelo Soares de Moura, em pleno fogo das batalhas, dizia: – Boa do “Domingos dos Pampas”. E o Miguel Lins era outro. Várias vezes, disse-me: – “Bacana essa do Domingos dos Pampas”. E esse “Domingos dos Pampas” criou, entre mim e ele, uma boa, nobilíssima amizade. Apesar da distância do “M ário Filho”, e da miopia que me persegue, tínhamos uma proximidade amiga.
3 – Até que, anteontem, ouço na televisão: – “Morreu Ari Ercílio”. A chamada morte natural não agride com essa violência. Há a doença, a história da doença, vai preparando não só o próprio doente, mas os outros. Há uma progressão compassiva. O pior é quando tudo acontece de repente. A pessoa está viva, tem um vasto futuro, criará seus filhos e, depois, os filhos dos seus filhos. E, de repente, a queda.
4 – Ari estava mais vivo do que nunca. Já voltava. Mas resolveu dar mais dois ou três passos. E veio a queda. Seu corpo desliza, rola, mergulha. Por que pescar ali, onde o pescador está a um milímetro da vertigem, olhando cara a cara o precipício? Outros já morreram naquele local ou nas proximidades. Lembro-me de Jackson Figueredo, que pescava também, caiu e cujo corpo foi aparecer a milhas e milhas de distância.
5 – Vejam vocês: – eu não ia escrever sobre Ari Ercílio. E explico: – não há nada mais antiliterário do que o verdadeiro sentimento. Sim, o verdadeiro sentimento escreve mal, muito mal. Quando uma crônica de saudade sai perfeita, desconfiemos da saudade: Ia dedicar a Ari Ercílio duas linhas, de passagem. E já estou chegando ao fim do meu espaço.
6 – Eis o que eu queria dizer: – a morte é anterior a si mesma. Começa antes, muito antes. Vocês imaginem que Ari Ercílio tinha feito um seguro de vida de não sei quantos milhões. Segundo me informa o Denis Menezes, a senhora do grande zagueiro ouvira do seu marido este vaticínio: – “Eu não emplaco 73”. Era já o processo da morte.
7 – Outra coisa impressionante: – Ari Ercílio estava pescando num lugar sem problemas: Nisto passa alguém e diz-lhe: – “Não adianta, companheiro. Ai não dá nada. Peixe é ali. Olha: – ali”. Era a morte que o chamava. E, segundo Denis Menezes, o grande jogador chamou a esposa para descer. Ela não quis.
8 – Ele queria terminar sua carreira no Fluminense. Terminou a carreira e a vida. Há entre Ari Ercílio e o Fluminense um vínculo mais forte que a vida e do que a morte. Amém.
Nelson Rodrigues, jornal O Globo, 22 de novembro de 1972.
Aos familiares das vítimas, os nossos sentimentos. Infelizmente, quem projetou a ciclovia não conhecia sequer o histórico do local. Ignorância fatal.
Pior de tudo é não ver ninguém assumindo a responsabilidade. o Prefeito, furioso, quer saber quem contratou a empreiteira. O secretário, indignado, quer saber quem aprovou o projeto. A empreiteira, em busca de sua honra, quer saber porque não foi avisada das ondas quando o projeto foi encomendado. Os órgãos de fiscalização, consternados, querem saber poque não foram acionados durante a execução da obra. E no fim, temo que a mãe natureza, perplexa, acabe no banco dos réus como a única culpada da tragédia.
Com certeza, amigo Dani, após perícias, inquéritos e testemunhas compradas… vão culpar Netuno…
Meu querido Kleber.
Tragédia absolutamente previsível e mais que provável.
Só quem não conhece o Rio, ignora a Avenida Niemeyer e sua ira.
Evidentemente, em dia de ressaca ou quando a lua muda, aquilo fica muito pior que o início dela.
Quando mais novo, mergulhei ao longo e matei muitas garoupas e sargos, evidentemente, sempre acompanhado dos meus grandes amigos Roberto Santtinoni e Foca.
Nós, disputamos o Carioca pelo Marimbás.
Só é possível mergulhar ali (assim como no Costa Brava), com o mar baixinho.
Sabemos de inúmeros acidentes fatais com pescadores. Quando lava, joga água até na avenida.
Portanto, este acidente nem mesmo pode ser comparado ao episódio da arquibancada entre Flamengo x Botafogo na final de 1992. Até porque, o peso da massa empurrou a grade de proteção.
Eduardo Paes, com aquela carinha de aluno seminarista, não deve nem saber nadar… e, nosso querido Pezão, vem de Piraí…
Eita aninho porreta!!!
Até um geólogo em início de carreira, mesmo tendo vindo de Marte, teria concluído o óbvio! Alie este fato a um engenheiro formado pelo professor Homem de Lata, que aprendeu engenharia no Pais da Fantasia, e violà, temos uma tragédia perfeita! Mas nada disso importa caro amigo, nada mesmo, pois o importante é a grana que rola! Recente estudo apontou o Brasil como uns dos países menos corruptos no que se refere a interesses pessoais, a maciça porcentagem da corrupção nacional tem como destino as campanhas partidárias. Pasmem!
Qdo minha mãe faleceu em 1992, vítima de uma pedaço de reboco que se soltou de um prédio, em concluí duas coisas: Que para morrer basta estar vivo, e que a justiça do Brasil não é a justiça dos EUA. Mover uma ação contra o Estado (prefeitura no caso) é tarefa mais árdua e complicada ainda.
Mudando de assunto, o espantoso desembarque do Flamengo em Manaus: Eu realmente creio, que depois da temporada cigana do Flamengo em 2016, com as moderníssimas e ociosas arenas da Copa, concluir que nunca mais o “mando de campo” será o mesmo. É bom ir se acostumando, pois existe fortíssima demanda.
Pêsames aos familiares e cadeia para as autoridades que contrataram e não fiscalizaram a obra. O grande problema no Brasil é a impunidade.