DESABAFO

Mais uma vez, sem nenhum prazer, sou obrigado a voltar ao tema “Consórcio Plaza”.

Hoje, um querido amigo me desaconselhou e, como exemplo, citou o momento político do país, afirmando que não adianta explicar, por melhor e justos que sejam os argumentos, quando quem está do outro lado já tem opinião formada, mesmo que sem profundo conhecimento de causa.

Há sentido na colocação e diria até que é pragmática. O problema é que isto está atravessado na minha garganta e, mesmo ante um enorme sentimento de impotência ao longo de tanto tempo, isto continua me machucando, pelo lado pessoal e, principalmente, por ver o Flamengo ter sido vítima, não agora, onde as pessoas que dirigem o clube são corretas, e sim, lá atrás, de uma conspiração de malandragem, inconsequência e incompetência. A história que, quem quiser mais riqueza de detalhes, inclusive com documentos, vai encontrar aqui no blog (aqui), pode ser resumida da seguinte forma:

Com o shopping aprovado, conseguimos, eu e Gilberto Cardoso, mais 6 milhões de reais junto ao Consórcio, para: quitar dívida da gestão anterior junto ao Consórcio, recursos para resolver penhoras inadiáveis e comprar junto à Parmalat o passe do jogador Edmundo. Resumindo, o projeto do shopping passou a custar mais 6 milhões de reais para o Consórcio. Com tudo documentado, e com data fixada para o depósito dos 6 milhões, nos comprometemos nas outras pontas (penhoras e Parmalat).

Faltando dois dias para o depósito na nossa conta, recebo em Barcelona telefonema de Michel Assef e Getúlio Brasil, dando conta de que o Consórcio queria uma garantia para a aplicação dos 6 milhões, caso o shopping não fosse aprovado, e a garantia solicitada era o passe de Edmundo. Como os nossos cheques já estavam na rua para os compromissos que assumimos, a nossa posição de negociação ficou frágil.

Concordamos, exigindo que no contrato houvesse uma cláusula em que, com o shopping aprovado, esta “dívida” estaria automaticamente quitada, com o Flamengo nada devendo. O Consórcio aceitou, e no contrato esta é a cláusula 3.1.

Raciocinamos que na pior das hipóteses, com o shopping rejeitado, o Flamengo teria utilizado um grande jogador sem qualquer custo. O X da questão é que o shopping foi totalmente aprovado, tendo sido a assinatura do Governador a última etapa, e fez com que o contrato começasse a ter efeito, pois, a partir daquele momento, o shopping estava oficialmente aprovado, portanto, entre os benefícios para o Flamengo, a construção do Mini estádio na Gávea, o centro de treinamento construído, a parte social do clube recuperada e, com o Flamengo livre da “dívida” de 6 milhões de reais.

O tempo passou, desocupamos a Gávea para o início das obras, e o futebol foi se instalar no Fla-Barra.

Tudo corria às mil maravilhas, até que em evento social, já na gestão seguinte, José Isaac Perez, presidente do Consórcio, em momento de euforia, afirma ao Governador Garotinho e, na frente de outras pessoas, que havia corrompido quase toda Câmara dos Vereadores para aprovar o projeto. Pasmo, o governador se dirigiu ao ex-presidente Gilberto Cardoso, seu amigo pessoal que havia trabalhado junto a ele para que sancionasse o projeto do shopping, comunicando que, pela gravidade do fato, não havia outro caminho senão revogar. O que efetivamente ocorreu dois dias depois.

Aí, com Edmundo Santos Silva à frente, o Flamengo ao invés de acionar o Consórcio, que deu causa à não construção do shopping, não toma nenhuma providência, e ainda por cima passa a ser acionado pelo Consórcio. Pior do que tudo isso foi a defesa do clube, admitindo uma “dívida” que não existia e, em meio a dinheirama que caía por todos os lados dos cofres da ISL, negociar a tal “dívida”. Era, à época, uma louca vontade de pagar…

Este foi um período em que estive ausente por dois motivos. Pela total incompatibilidade de vida com quem dirigia o clube e, pelo fato de ter morado quatro anos em São Paulo.

Quando tomei conhecimento do caso pela imprensa, imediatamente, por livre e espontânea vontade, relatei o que aqui disse, em reunião do Conselho Deliberativo.

Sofro com o desenrolar deste caso. Dói em mim a injustiça que alguns cometem tentando me empurrar responsabilidade que jamais tive. Não gosto de tocar nestes casos, até por considerar cabotino, mas ante a situação, não tenho como não fazer.

Será que, levando-se em conta a coerência, alguém que quando assume o clube que estava em situação financeira caótica, com quatro meses de salários atrasados de 600 funcionários e mais uma centena de profissionais, inclusive os do futebol, dos seus próprios recursos, deposita junto com mais dois companheiros, significativa quantia para estancar o dilema, e é ressarcido quatro anos depois sem um tostão de juros, seria negligente com a paixão da sua vida?

Será que alguém que por nove anos, como presidente e vice-presidente de futebol, que rodou o Brasil e parte do mundo a serviço do Flamengo, nunca admitiu que o clube pagasse uma única passagem aérea, uma única hospedagem de hotel ou, uma Coca Cola, seria negligente ou irresponsável com qualquer coisa pertinente ao Flamengo?

Será que, um presidente que descobre que o clube foi vítima da “esperteza” de um diretor, por ele lá colocado, assume a responsabilidade, devolvendo aos cofres da instituição a quantia afanada, tem cara de ser negligente ou irresponsável?

Aos que não gostam de mim, peço apenas que, independente do sentimento de justiça, atentem, por favor, para a coerência.

Ontem, o Conselho Deliberativo entendeu que o acordo é o melhor caminho neste caso. Decisão do Conselho Deliberativo, no Flamengo, é como a lei. Não se discute.

Desculpem o desabafo, mas precisava…