Poesia Rubro-Negra de alma Colorada

Amigos,

Acho que já está mais do que claro que, aqui neste blog, o respeito, é princípio, meio e fim. Aqui, todos entendemos que uma opinião contrária à nossa não significa agressão ou animosidade. Entendemos todos que alguém possa pensar diferente e, em muitos dos casos, a opinião que a princípio era antagônica, pode começar a ser simpática… Isto nada mais é do que o somatório de espírito democrático e sensibilidade.

Aqui, neste blog, já me rendi a opiniões diferentes e até distantes das minhas. Capitulei algumas vezes, sendo coerente com o que prego. Afinal, que mal há em reverenciar um pensamento ou uma ideia mais adequada do que a sua? Enfim, deste mal não sofro.

Fiz esta introdução para apresentar o pensamento de um companheiro querido que, conosco interage permanentemente neste blog. Eduardo Bisotto, não é rubro-negro. Na alma deste nosso amigo, o preto foi esquecido, resultando o Colorado como produto final.

Fiquei impressionado ao ler o pensamento deste torcedor do grande Internacional de Porto Alegre, a respeito de algo tão íntimo para nós rubro-negros, qual seja discutir a nossa historia. O texto me comoveu. Claro que, muito próximo ao que escrevi no post, cujo título foi “Por favor, leiam…“.

Com todo respeito a quem comentou com posições contrárias – sempre haverá de minha parte total respeito a quem pense de forma diferente – não dá para não publicar este poema …


Olá, Kleber, olá amigos do blog. Li ontem a postagem e na mesma hora fiz questão de ler todos os comentários. Se não é o post mais polêmico do blog, certamente é um dos mais desde que Kleber tomou esta iniciativa fantástica, se expondo humildemente e se abrindo justamente para a maior torcida esportiva do Planeta.

Antes de mais nada, um parênteses: sou colorado. Mas não reconhecer a grandeza do Flamengo é simplesmente burrice. E aos que dizem que times como o Barcelona tem mais mais torcedores, por favor! Um moleque brasileiro que assiste Champions pela TV e nunca vai passar perto do Messi ou mesmo do Neymar, não tem um milésimo da ligação afetiva que qualquer molequinho carioca tem com o Flamengo. Isso não é torcida. É admiração. O quê é algo bem diferente. Fecha parênteses.

Por quê demorei tanto pra comentar? Porque concluí que exporia melhor tudo que penso a respeito do assunto sendo chato e mandando um textão. Quis avaliar calmamente, antes de dar palpites em uma discussão tão polêmica. Pra começar, quero dizer que concordo integralmente com a postura exteriorizada por Kleber.

Dos anos 2000 para cá, o debate público no Brasil vem degringolando. Tudo começou com um rapaz que trombeteou por longos oito anos que “nunca antes na história do Brasil, isto”, “nunca antes na história do Brasil, aquilo”. Isso reflete um aspecto absolutamente negativo da nossa história como povo: somos absurdamente imediatistas, esquecemos hoje o quê defendíamos e fazíamos ontem e amanhã já temos uma nova ideia, completamente diferente da de hoje.

Temos uma dificuldade imensa de reconhecer o que nossos pais fizeram por nós. E isso, lamentavelmente, acaba transbordando para a esfera pública. Não admitimos que um adversário político tenha feito algo de bom antes que nosso grupo tenha tomado o poder. Não admitimos que alguém de quem discordamos possa ter feito algo de bom e plantado as sementes para que nós mesmos possamos colher. Estamos sempre com novas estreias, novas inaugurações, novos começos.

Basta constatar isso para entendermos nossa tara por trocar de técnicos a cada três rodadas ingratas. Não cremos no trabalho a longo prazo. Desaprendemos a sabedoria do Brasil rural: para colher, é preciso preparar o terreno, adubar, plantar, irrigar com cuidado, para só então chegarmos aos frutos.

Li comovido entre os comentários o depoimento do genial Radamés Lattari, patrimônio não só do Flamengo, mas de todo o esporte brasileiro. Radamés lembrou de seu pai e de outros flamenguistas ilustres botando dinheiro do bolso para fazer esta instituição ir à frente. Kleber, no próprio post, foi tão generoso quanto o próprio Radamés: destacou seu desafeto, Edmundo Santos Silva, pelo título com o gol do Pet.

Isso é postura de gente grande, com visão, com maturidade. Postura de Homens, assim mesmo, com H maiúsculo. Uma postura que lamentavelmente beira o impossível encontrar nas redes sociais, nas áreas de comentários e nos blogs Brasil afora.

Abro um parênteses novamente: alguém aqui já parou pra pensar no que significa o simples fato de Kleber Leite topar manter um blog? Estamos falando do Presidente do Flamengo que repatriou Romário direto do Barcelona. E não era um jogador em fim de carreira: era simplesmente o recém eleito melhor do mundo. Estamos falando do empresário de marketing esportivo mais bem sucedido do país. Somente um gigante, com segurança, maturidade e humildade suficientes toparia se expor desta maneira. Fecho mais este parênteses e caminho para concluir.

Quando a Chapa Azul se apresentou para o pleito, o Flamengo vivia de fato uma crise grave. Crise que, talvez, fosse mais de confiança do mercado do que propriamente financeira. Quem é do ramo sabe a diferença. Às vezes uma determinada empresa tem liquidez, tem perspectiva de honrar todas as suas contas, mas os seus dirigentes e o modo como a conduzem não inspiram no mercado a confiança necessária. Por isso, seus ativos se desvalorizam.

Quando ascendeu ao poder, com o apoio do grupo político do Kleber (algo que descobri lendo este blog), esta gestão aproveitou esta crise de confiança para vender uma ideia de Marco-Zero, de recomeço, basicamente de “nunca antes na história deste Flamengo”. Se entendi, é justamente este discurso que incomoda Kleber. E com absoluta razão.

A análise da BDO é estritamente financeira e matemática. Mas Kleber está corretíssimo ao dizer que o gol de Pet, a contratação de Romário, a geração de ouro de Zico e companhia e tudo que veio até mesmo antes disso, foram fundamentais na construção desta marca.

“Ah!, mas antes dos Azuis a marca não tinha este valor”, haverá de bradar o jovem que aprendeu a analisar construção de marcas com os estudos hiper-recentes publicados em blogs sobre o assunto. Querido: não haveria marca para os Azuis gerirem sem Kleber Leite, sem Márcio Braga, sem Michel Assef, sem Radamés Lattari e tantos outros monstros sagrados que dedicaram tempo, dinheiro, paciência e até a própria saúde para construir o Flamengo.

Por fim, qualquer um que entenda de gestão financeira sabe que o comentário de Radamés no post é absolutamente preciso: a gestão do Botafogo, do ponto de vista técnico, é tão boa quanto a do Flamengo. Só há uma “pequena” diferença: o Flamengo gera INFINITAMENTE mais receita do que o Botafogo, pela sua história gloriosa e pelos tantos abnegados que se entregaram a esta paixão.

Encerro me desculpando pelo excesso de tamanho do texto e pela prolixidade, mas achei necessário dado o contexto.

Forte abraço a todos, especialmente ao Kleber por nos propiciar este espaço! É sempre um prazer participar do debate por aqui.

Eduardo Bisotto


Perdão aos que pensam diferente, mas este é o tipo de mensagem que lava a alma. Que faz com que eu conclua que tudo valeu a pena.

Obrigado, amigo Bisotto. Pelo carinho, pela sensibilidade e, pelo espírito rubro-negro, mesmo sem o negro na alma.

Saudações Rubro-Negras. E, Coloradas…