O Flamengo fora das quatro linhas

Meu amigo Michel Assef sempre disse que clube de futebol é uma utopia, em que a pessoa entra para fazer amigos e, em fração de segundos ganha um montão de inimigos.

Isto vai de encontro à filosofia de vida do meu inesquecível pai no rádio, Doalcei Bueno de Camargo que, sem medir as palavras, dizia: “o ser humano é um grande filho da puta. Há exceções”.

Juntando-se um e outro, Michel e Doalcei, talvez tenhamos o retrato do Flamengo de hoje fora das quatro linhas. Não vou aqui advogar em causa própria e cansar os meus amigos e companheiros do blog com a sórdida artimanha de que fui vítima, corrigida em primeira instância pelo judiciário.

Neste exato momento, há dois movimentos que chamam a atenção de todos. No primeiro – e que será apreciado hoje em reunião do Conselho de Administração – há a tentativa de impugnação da candidatura de Ricardo Lomba, sob a alegação de que, como Auditor da Receita Federal, estaria impedido de exercer o cargo de presidente do Flamengo.

Na verdade, sem qualquer envolvimento político de minha parte, um argumento absurdo, pois no estatuto do Flamengo não há qualquer menção à possibilidade de impedimento pelo motivo alegado. Na realidade, se fosse o caso, quem teria que se manifestar era a Receita Federal que, até agora, sabedora da intenção de Ricardo Lomba em ser presidente do Flamengo, simplesmente não se manifestou e, por conseguinte, como quem cala consente, está de acordo. Aliás, já há um caso rigorosamente igual, pois, o Fluminense elegeu seu presidente em idêntica situação.

Pior ainda, a iniciativa do candidato de oposição ao cargo de vice-presidente nas próximas eleições, aproveitando-se da posição que ocupa atualmente, de presidente do Conselho Deliberativo, para formar uma comissão a fim de analisar a venda de Lucas Paquetá para o Milan. Na comissão formada, há a figura de Arthur Rocha, responsável pela contratação de Dimba, a mais estranha transação – compra e venda – nos 123 anos de vida do mais querido clube do Brasil.

Incrível como alguém que é candidato da oposição – e atua como presidente do Conselho Deliberativo, com óbvios objetivos políticos – tem a coragem, a ousadia e a cara de pau de colocar em dúvida a dignidade de quem dirige o clube com transparência e absoluta correção.

E, que ninguém venha aqui dizer que é apenas uma comissão para avaliar um fato. Conversa fiada. A atitude foi tomada e a comissão criada, com o propósito de levantar suspeita com relação a negociação envolvendo Lucas Paquetá.

Em síntese, poderíamos ter tido um ano, esportivamente falando, bem melhor, ficando a sensação clara de que, apesar de certa frustração pela perda de alguns títulos que tínhamos condições de conquistar, que, pelo  menos dentro das quatro linhas o Flamengo é bem mais próximo de quem o ama, do que fora delas, onde a vaidade e os interesses pessoais falam muitíssimo mais alto.