Carta aberta ao Bap

Acabo de receber do ex-presidente Hélio Ferraz, e-mail com a matéria do EXTRA (ler aqui) que respondo agora neste Blog.

bapBap,

Nada mais me surpreende nesta vida. O fato de ter nascido em mil novecentos e não tão antigamente, não me torna um sábio, mas foi tempo suficiente para entender que do ser humano tudo pode se esperar. Deixando a filosofia de vida de lado, no que me diz respeito, tenho os seguintes comentários com relação a sua entrevista ao EXTRA.

1- Jamais ao longo de nove anos, quatro como presidente e cinco como vice-presidente de futebol, cometi o menor deslize e jamais fui irresponsável. Nestes nove anos a entrega de minha parte foi integral. O tempo dedicado ao Flamengo chegou inclusive a colocar em risco a saúde da empresa que presidia. Mais do que ninguém, você sabe o quão importante é estar presente o tempo todo, delegando o possível e resolvendo pessoalmente as questões mais complicadas. Por isso, pelo seu inegável talento, você é o presidente da Sky e, como tal, mergulha de cabeça integralmente atendendo os interesses da sua empresa. Fosse você um pouquinho irresponsável com a sua empresa, dedicando mais tempo ao Flamengo, certamente o panorama do clube seria outro, pois o seu talento estaria produzindo vitórias e conquistas para o clube. Não estou criticando você e tão pouco fazendo a apologia da irresponsabilidade profissional. Estou tentando dizer à você que fui irresponsável sim, mas com a empresa que dirigia e, porque não dizer, com a minha própria família.

2- Quando você diz que “Estes caras de mil novecentos e antigamente posam agora de espertos, mas na verdade são irresponsáveis. Sempre foram. A conta está aí“, deveria tentar fazer um mínimo de esforço para entender a vida centenária do Flamengo em que, a única diretoria que não herdou problemas do passado, foi a primeira. Já disse aqui e repito que, quando assumimos em 1995, três rubro-negros tiveram que do próprio bolso injetar o equivalente a um milhão e oito centos mil dólares, pois funcionários e atletas não recebiam seus salários há quatro meses. Lembro ainda que, neste período de 1995 a 1998, além de pagar inúmeras dívidas deixadas por gestões anteriores, sem que isto fosse tornado público, o Flamengo manteve a sua dignidade, pagando religiosamente em dia todos os seus funcionários e atletas. Milagre? Não. Apenas inspiração e transpiração que fizeram em 1996, num país de terceiro mundo, o Flamengo ser o sexto clube em faturamento no planeta.

3- Você, na reportagem se refere a Romário, Sávio e Edmundo, como se estes três representassem toda uma história de irresponsabilidade administrativa. Vamos lá:

  • ROMÁRIO – Você tentou recentemente montar uma estratégia de marketing com três apoiadores pagando 300 mil reais mensais durante 5 meses para trazer Robinho, com trinta anos. Robinho foi para o Santos. Realmente, sei que não é fácil. Em 1995, sem um único centavo do Flamengo, até porque, como hoje, lá atrás também não havia, por meio de um Pool de empresas, mais uma rede nacional de TV, arrecadamos, À ÉPOCA, o equivalente a quatro milhões e meio de dólares e Romário, o maior jogador do mundo, veio jogar no Flamengo. (veja descrição da operação aqui, em reportagem da Folha, de 11/01/95).
  • SÁVIO – A grande promessa do Flamengo, não fosse a ação de três rubro-negros, dois dos quais vou citar, Plínio Serpa Pinto e Jorge Rodrigues, que liberaram com recursos pessoais o “passe” de Sávio, que estava vinculado como garantia de uma dívida não paga. Não fosse esta ação de verdadeiros rubro-negros, Sávio teria ali encerrado a sua carreira no Flamengo.
  • EDMUNDO – Quando no Blog contei toda a verdadeira história do Consórcio Plaza, página mais vergonhosa da história centenária do Flamengo, enviei a você uma mensagem, pedindo que não deixasse de ler, ao que você respondeu que leria. Quem não leu, pode fazer isto agora, pois está aqui e deixa claro toda irresponsabilidade e incompetência, com pitacos de patifaria, da qual o Flamengo foi vítima. E, quem leu, passa a saber que a minha contribuição para este triste episódio foi zero. Qualquer outra colocação atribuo a má-fé de gente sem caráter, querendo tirar partido político deste vergonhoso episódio.

Para encerrar, quando enviei um SMS para você, dizendo que havia obtido a informação de que Julio César havia se liberado naquele dia do compromisso com o clube inglês e que, livre, gostaria de jogar no Flamengo, foi na realidade uma meia verdade. Foi o próprio Julio César quem me telefonou. Para evitar suscetibilidades, afirmei que havia apurado, pois assim não haveria qualquer ciumeira que viesse a prejudicar o que considerava uma ótima oportunidade para o Flamengo, pois estamos com Felipe afastado e, com Julio no gol, teríamos um baita e experiente goleiro, um líder, um ídolo, tudo isto num momento de tanta necessidade para o Clube.

Pena você não ter entendido. E pena, de coração, que você tenha sido tão injusto. Não esperava isto de você.

Vida que segue…