Jabuti não sobe em árvore

Thiago-carybe-mil-folhas-575x262Como deixar de contar, mesmo nada tendo a ver com futebol, o fato ocorrido há dois dias e que pipocou esta manhã. Muito mais importante que o assunto em si, é a leitura a ser feita, principalmente por quem tem prazer em conviver e estudar a alma humana.

Numa casa noturna recém inaugurada em Ipanema, Rio de Janeiro, cuja proposta é boa gastronomia no embalo de vídeos musicais espetaculares, aparece um grupo para jantar, faixa etária mais elevada e todos muito animados. Lá pelas tantas, já em meio à sobremesa, alguém na mesa percebe um dente dentro de um doce conhecido mundialmente por mil folhas. Alguém berra: ”o que é isso?” Imediatamente uma voz feminina, já meio cansada, responde: ”um dente no mil folhas!!!!!” E todos à mesa, espantados começam a esbravejar: ”Que horror!!!! Que absurdo!!! Um dente, sabe-se lá de que boca, dentro do mil folhas!!!! Cadê o gerente?” E, eis que surge um dos sócios e, assustado ante situação tão inusitada, sem saber o que dizer, dispara: ”Isto acontece…”  Claro que, no momento de pânico a reação o conduziu a dizer um absurdo, até porque, é exatamente o contrário, isto é, este fato nunca acontece…

Além do fato inusitado, os animados fregueses passaram a ter um gancho extraordinário. Alguém importante da casa havia afirmado que um dente num doce mil folhas era algo normal e possível. Em síntese, o prato estava feito e, o mais importante, ninguém mais pensava na pergunta óbvia: Como um dente foi parar dentro do doce? Os veículos de comunicação foram contactados e, até famosos e importantes colunistas foram acionados. Saiu na imprensa e, deu no rádio. Os proprietários da casa, os funcionários e principalmente o chef da cozinha, aliás, renomado chef, todos intrigados com o ocorrido. Quem pediu a palavra foi o chef e, com autoridade de quem conhece profundamente o tema, disparou a bomba: ”Impossível um dente no mil folhas!!! Jogo fora o meu diploma!!! Tem caroço neste angu”… e passou a fornecer dados técnicos, até então desconhecidos de todos, principalmente quando disse que tecnicamente não havia como um objeto sólido passar pela biqueira da bombona de creme. Segundo ele, se fosse um fio de cabelo, até seria possível, um dente, nunca, jamais. Ante depoimento tão firme, a pergunta anterior ficou robustecida. Como um dente foi parar no mil folhas? O chef, intrigado, perguntou: “Cadê o diabo do dente?” Aí, foi informado pelos garçons que a reclamante, que em situação normal deveria ter tido aversão, repulsa, ao objeto, tal como teria a uma barata, simplesmente, tratou o dente intruso com o maior carinho do mundo, inclusive, o acariciando. O chef, espantado, insiste: “E o dente, cadê o dente?” Aí, foi informado que a senhora reclamante havia levado o mimo para casa. O chef, bom na gastronomia e conhecedor profundo da alma humana, lembrou a história do Jabuti que, como é de conhecimento público, não sobe em árvore. Lembrou, com rara sabedoria, que se o Jabuti apareceu em cima da árvore, alguém o colocou lá.

Como a mente humana é pródiga na criação, principalmente quando a vaidade está em jogo e o mico, gigantesco…