Pelos nossos meninos e pelo Boechat

Amigos: Sugeri ontem que mudássemos de assunto. Desculpem, errei. A alma não permite, além da necessidade de enfrentar os oportunistas e mesquinhos que querem colocar o Flamengo no mesmo saco, onde lá estão, irresponsabilidade, inconsequência e desamor.

Hoje, por sugestão de Patricia, minha mulher, fomos acender 10 velinhas para os nossos meninos na divina Igreja de Saint Germain Des Prés. Sei que o tempo é o senhor da razão, mas confesso que está muito difícil voltar à normalidade do dia a dia, com a lembrança permanente desta tragédia que corrói, maltrata e esmaga as nossas almas. Além do fato de serem meninos, a paixão descomunal pelo Flamengo, a nos unir mais ainda.

Rezamos por eles, pedindo luz para as dez alminhas lindas e, muita paz e superação para os parentes e amigos que aqui estão.

Estou retornando amanhã, ainda com a alma combalida, mas disposto, dentro dos meus limites, a lutar até onde for necessário – e contra quem quer que seja – para que não haja nenhuma dúvida de que, além dos nossos dez meninos, houve mais uma vítima, embora seja esta, imortal.

O Flamengo também é vítima, não por conta do destino ou da vontade de Deus. O Flamengo é vítima do ser humano mesquinho, sem um mínimo de sensibilidade e, com a alma tomada pelo prazer de destruir.

Não é possível que as pessoas não saibam diferenciar uma possível falha humana com a maldade em jogar na lama uma instituição centenária, que tem ocupado o lugar do Estado, através do esporte, na formação da nossa juventude.

Repito que ninguém está aqui para passar uma borracha em qualquer falha humana que tenha ocorrido e, tão pouco alijar o clube de eventual reparação aos familiares dos nossos meninos.  Muito pelo contrário.

Pelo que conheço das pessoas que hoje dirigem o Flamengo, duvido que não seja feita uma proposta digna às famílias enlutadas. O Flamengo nunca abandonou os seus filhos. Não seria neste trágico momento que isto aconteceria.

Que qualquer atleta rubro-negro que vá entrar em campo, em quadra, na piscina ou seja lá onde for, vestindo o Manto Sagrado, tenha o maior orgulho do mundo por estar representando a maior paixão popular deste país.

O Flamengo é Sagrado e Eterno. No que me compete, só tenho a dizer que na minha lápide, gostaria que alguém não esquecesse de escrever: “Aqui jaz quem amou a vida, a família, os amigos e, cuja maior glória foi a honra ter servido à sua maior paixão. Uma vez Flamengo e, tomara que, até depois da morte.”

Não bastasse o sofrimento pelos nossos meninos, recebo a notícia da morte de Ricardo Boechat, gênio da comunicação e grande rubro-negro.

Em meio a esta nova dor, fico me questionando como ainda se permite o uso de helicópteros, com certeza, o veículo que, proporcionalmente, mais mata no mundo.

Certa vez, meu doce e querido amigo Comandante Rolim Amaro, o homem que criou a TAM, me disse para nunca andar de helicóptero por se tratar de uma verdadeira casca de ovo.

Quem me aconselhou – e sigo o conselho até hoje – acabou morrendo pilotando um helicóptero. Enfim, o retrato quase fiel do ser humano. Indecifrável…

Que o querido Boechat descanse em paz.