Mise-en-scène

Pra começar, o que vou aqui colocar, por favor, que não seja generalizado.

Com a presença cada vez mais forte da televisão nos jogos de futebol, muitos treinadores devem ter entendido que, como são permanentemente focalizados, têm a obrigação de dar espetáculo à parte ou, na pior das hipóteses, ser figura de destaque nas transmissões dos jogos.

No início deste processo, ficava intrigado quando via um treinador gesticulando e gritando muito e, quando procurava o alvo daquela reação ou dos gritos, não via nenhum jogador. Comecei a perceber que este tipo de atitude, a de representar para o público telespectador, estava e continua se alastrando. Tenho quase a certeza de que os nossos “professores”, quando focalizados, se sentem na obrigação de mostrar serviço e a maneira que encontram é exatamente gesticulando e gritando, mesmo que não seja para ninguém, até porque, no enquadramento de câmera, só aparecem eles mesmos.

Há também o caso da permanente “resenha” (bate-papo, no linguajar dos boleiros) do treinador com o árbitro número quatro, ou seja, o árbitro reserva. Aqui pra nós: qual o sentido neste diálogo? O árbitro reserva nada decide. Não tem nenhum poder para interferir na decisão da arbitragem. Então, para que essa resenha interminável provocada pelos treinadores? A resposta é simples. Puro MISE-EN-SCÈNE, ou seja, representação pura…ou, na linguagem popular, jogando pra galera…