Não há nada na vida que, por pior que seja, não tenha um lado bom

Quem, nos dias de hoje, onde a rivalidade é confundida com o ódio, poderia imaginar tamanho desprendimento e coragem por parte da diretoria do Vasco da Gama, colocando o escudo do Flamengo no que há de mais sagrado para o torcedor vascaíno, que é o seu uniforme?

Quem? Pra começar, quem ama a vida, quem com ela convive bem. Depois, quem tem amor ao próximo, mesmo que com ideias e gostos distintos aos nossos. E, para concluir, quem tem sensibilidade. E, esta palavra é tão ampla que, por si só, diz e abraça tudo e a todos.

O meu primeiro Flamengo x Vasco, foi no Maracanã, onde ficaram marcados para um menino rubro-negro, a grandeza do adversário e um ponteiro endiabrado chamado Sabará. Ali, muito menino, tive a noção da importância da nossa vitória, na razão direta do tamanho do nosso adversário.

Outro dia, vendo o Sportv, no novo e muitíssimo bom programa comandado pelo craque Carlos Cereto, o tema principal era se o jornalista deveria, ou não, divulgar o seu clube de coração. Houve uma entrada do Juca Kfouri, que argumentou que, embora achasse correto o jornalista tornar claro o clube pelo qual torcia, entendia que, pelo espírito bélico entra as torcidas, melhor, por uma questão de segurança, ficar na moita…

Aí volto a um passado não tão distante. Todos, “inclusive todos” os torcedores sabiam que o Flamengo era a minha paixão. Como repórter, trabalhei em centenas de jogos em São Januário e, jamais houve um único momento, pelo fato de ser eu notório rubro-negro, qualquer tipo de ofensa ou constrangimento. Sempre fui tratado em São Januário com respeito e, sem medo de errar, com muito carinho.

Neste embalo, me vem à cabeça a lembrança de que, dentro  desta premissa de respeito e carinho, nosso maior ídolo, nosso símbolo, Zico, vestiu a camisa do Vasco na despedida de Roberto Dinamite, em jogo contra o La Coruña, em que Bebeto era o astro. O nome disto é grandeza, respeito, reverência, reconhecimento, a quem, efetivamente, merece.

Parabéns à diretoria do Vasco da Gama pela enorme sensibilidade, pela coragem e pela visão de um futuro onde os torcedores entendam que o confronto é no campo. Fora dele somos todos seres humanos, onde há valores muito mais importantes do que fugazes vitórias.

No jogo da vida, com esta atitude tão linda, o Vasco ganhou um enorme espaço em cada coração rubro-negro.

E, de acordo com o título post, este foi o legado dos nossos 10 meninos que se foram. Vamos torcer muito pelo nosso clube, mas paralelo, respeitar quem ame diferente de nós. Isto não é um crime. No máximo, dentro do espírito gozador do torcedor, falta de bom gosto…

Obrigado meninos do Ninho. Vocês, quem sabe, estejam conseguindo o quase impossível.