Treino do Flamengo - 16/11/2020 (Alexandre Vidal / CRF)

As “leis” da bola

Tive o privilégio de desfrutar da amizade e intimidade de algumas figuras fascinantes do futebol brasileiro. Gosto, num papo amigo, de uma “papinha” – tradução ao pé do copo de um Red Label em copo curto, muito gelo e um sopro de água com gás, porém, máximo cuidado, pois como alertava João Saldanha, exagerando na água, afoga o whisky.

Este hábito que relaxa aprendi com Oswaldo Brandão, talvez a mais doce figura humana que tenha conhecido no futebol, em intermináveis “resenhas”, em muitas excursões da Seleção Brasileira.

Como o papo era sempre futebol, Brandão tomava seu whisquinho e falava, Gérson fumava e, eu ouvia as histórias tomando minha “papinha”. Brandão e Gérson, o “Canhota de Ouro”, tinham o mesmo problema: dormir não era com eles e, assim, varamos muitas madrugadas.

Em uma dessas, pela primeira vez ouvi o papo de simplificar ao máximo, quando a maré não está favorável. Dizia Brandão que, quando o jogo começa ruim para um jogador, em que nada dá certo, a solução é respirar fundo e não brigar com o momento, simplificando as jogadas, não arriscando, dando tempo ao tempo, até que a confiança voltasse.

E, isto também vale para o treinador. Há momentos críticos em que nada dá certo e, pior ainda, quando os problemas ocorrem de chorrilho, como agora no Flamengo, onde as contusões ocorrem em penca.

Neste momento, segundo o mestre, inventar é terminantemente proibido, pois na maré ruim só faz agravar a crise. Solução: simplificar tudo, escalando da forma mais descomplicada e óbvia possível.

Este jogo contra o São Paulo é o caso típico. Sem uma dezena de jogadores, contundidos ou por conta das eliminatórias, não há como não simplificar, até porque, agindo assim e se o resultado não for o que queremos, será fácil entender.


 
Mudando de assunto: tenho a noção exata de que o futebol, hoje, é – também – um negócio que envolve muitos interesses.

Até aí, tudo bem. Porém, há neste processo algo muito importante, qual seja permitir às classes menos favorecidas o direito de acompanhar os jogos da Seleção Brasileira que, mais uma vez, tenta manter a marca de ser a única seleção que participou de todas as copas.

Pelo jeito, nenhuma televisão de canal aberto transmitirá Uruguai x Brasil, jogo que promete, em Montevideo. O torcedor do Flamengo, doido para ver de novo Éverton Ribeiro com a 10 amarelinha, vai ficar na saudade…

Em se tratando de elo tão importante – povo brasileiro e sua seleção – este assunto não mereceria por parte da CBF, pelo que está ocorrendo, uma interferência com mão de ferro para resolver o problema?

Afinal, o que é o futebol sul-americano sem o futebol brasileiro?