A terceira camisa

(Foto: Divulgação/Adidas)

(Foto: Divulgação/Adidas)

Em meio a um verdadeiro “tiroteio eletrônico”, com muito mais críticas do que elogios, a Adidas lançou a nova camisa número 3 do Flamengo. A camisa é toda na cor preta, em homenagem ao urubu, que virou símbolo rubro-negro. A bem da verdade, a discussão maior na internet foi muito mais pelo vídeo de apresentação (veja aqui), do que propriamente pela camisa.

Antigamente, todo clube era obrigado a ter dois uniformes, pois em um determinado jogo as camisas poderiam ser parecidas, o que confundiria os torcedores e atrapalharia a arbitragem. Ainda nesta época, ninguém dava bola para os calções e, estes podiam ter a mesma cor nos dois times. Um tempo depois, em competições oficiais, passou a haver a obrigatoriedade de tudo ser diferente entre os dois times em campo. Camisas, calções e meiões diferentes colaboravam para uma melhor visualização do espetáculo, principalmente quando transmitido pela televisão.

A camisa número 2 nunca foi muito bem vista por alguns torcedores, inclusive os do Flamengo. Houve época em que muita gente achava que dava azar. Este mito caiu quando, com a camisa número 2, o Flamengo sapecou 3 x 0 no Liverpool, e conquistou seu título mais importante.

Nos anos 90, com o marketing mais próximo do mundo do futebol, as empresas de material esportivo, visando um faturamento maior, inventaram o uniforme 3. Em 95, quando assumi a presidência do Flamengo, tive duas experiências importantes com relação ao tema. A primeira, como item comemorativo do centenário do clube, o retorno do “papagaio de vintém”, camisa esta que representou o início do nosso futebol. Particularmente, certamente influenciado pela nossa história, sempre esta camisa me emocionou.

Em 95, por ser o ano do centenário, foi muito usada, e recentemente voltou, porém sem o mesmo sucesso, trazendo de volta aquela velha história da falta de sorte.

Em 96 ou, 97, não lembro bem, a Umbro, então fornecedora de material esportivo do Flamengo, fez uma pesquisa nacional com os torcedores rubro-negros. A pesquisa era o ponto de partida para a criação da nova camisa número 3, e a pergunta era simples: “Qual é a cor de sua preferência?”. Deu azul! Aí, a Umbro tomou o azul, que nada tinha a ver com as tradicionais cores do clube, como item principal do novo uniforme. A camisa ficou linda, e sem esperar a aprovação do Conselho Deliberativo, por conta própria, a empresa resolveu fazer um teste de mercado e, colocou à venda em alguns estados. Resultado: Recorde absoluto de vendas, como jamais fora visto. Resultado 2: Uma baita confusão, com o Conselho Deliberativo exigindo que as camisas fossem retiradas do mercado, pois o azul passava ao largo das tradições rubro-negras.

Na realidade, aquela foi uma ação de vanguarda, o primeiro passo para o fato novo, com os clubes utilizando cores distantes das suas cores originais. Diria mesmo e, tinha de ser no Flamengo, aquela foi uma ação revolucionária, de vanguarda. A cara do Flamengo… E, bom não esquecer que esta camisa era para ser utilizada somente em jogos festivos. Aquela ação do Flamengo, em parceria com a Umbro, hoje é copiada no mundo inteiro. O Palmeiras, virou azul. O Fluminense, cor de abóbora, e por aí vai…

O grande problema que vejo nisto tudo é que, infelizmente, o interesse financeiro começa a ocupar o lugar da tradição. Camisa 3, em homenagem à modernidade, tem que ser exceção, e não regra. Ou seja, ser usada uma vez ou outra, e jamais em jogos oficiais. No Japão, fundamental é que, quando uma televisão for ligada, e se a opção for um jogo de futebol, e nele esteja o Flamengo jogando, que o japonês aprenda que vermelho e preto, é Flamengo. Aí, será fácil, ao longo do tempo, mesmo para o japonês, identificar o clube mais popular do Brasil. E, como isto é importante…