A voz do povo não é mais a voz de Deus

Dois episódios recentes refletem com total clareza as incríveis transformações neste planeta, ainda abençoado por Deus.

Não faz muito tempo, a máxima mundial dando conta de que a voz do povo era a voz de Deus era soberana, embora pudesse até não ser unânime. Mas, era a voz da maioria e, computada de forma natural e correta.

Aí, entra a internet nas nossas vidas. Nada contra, muito pelo contrário. Apenas o registro de mais uma transformação impulsionada por este fenômeno, talvez o maior na história da humanidade.

A velocidade e a facilidade em transformar 1 em 1 milhão de pessoas, em minutos e, até em segundos, fazem com que o jogo deixe de ser limpo, ou seja, que a voz do povo, por incrível que pareça, possa ser diferente da voz de Deus. E o que é a voz de Deus? Simples. Qualquer coisa que retrate o que seja justo.

Dois episódios no mesmo dia. A FIFA, utilizando o mecanismo da modernidade, entrega ao povo do mundo inteiro o direito de eleger o gol mais bonito da temporada. Embora os gols de Arrascaeta e Luizito Soares tenham sido, longe, os mais bonitos, o gol eleito foi o do sul-coreano Heung-Min Son. Por quê? Pelos recursos propiciados pela internet, em que milhões de coreanos e chineses foram envolvidos não para julgar qual tenha sido o gol mais bonito, e sim, para votar no jogador coreano. Como na Coréia e na e China tem pouca gente, deu no que deu…

E sem essa da FIFA colocar em seu veículo oficial de comunicação, que “especialistas” participaram. Que especialistas foram esses? Nome e endereço, por favor. Conversa fiada. O que valeu foi o voto da mobilização, o quantitativo que, no fundo,  é o que interessa à FIFA. . Que os seus “geniais” executivos, que a cada cinco minutos mudam a regra do futebol,  não achem que nascemos ontem…

Separado por horas, aqui no Brasil, a finalíssima do “The Voice Brasil”. Não quero aqui discutir se o resultado foi justo ou não. O que pretendo é chamar atenção para o critério equivocado de votação, que passa longe da voz de Deus, pois, ao invés de a qualidade dos concorrentes ser o item definitivo para o resultado, quem define é a quantidade de seguidores e a força na mobilização dos técnicos – Lulu, Iza,  Carlinhos Brown e Michel Teló –  e não o talento dos concorrentes. Em síntese, não necessariamente ganha o melhor. Vence quem tem o técnico com maior poder de mobilização.

E qual é a solução? Simples. Respeitar o lado comercial, dando voz ao “povo”, porém sendo este peso 1, num total de três ou quatro, como fez a TV Globo para corrigir lambança igual, produzida na escolha do melhor jogador em campo no Campeonato Brasileiro, em que, antes,  só o público votava  e, agora, além do público, mais dois ou três especialistas, todos com o mesmo peso.

Que no próximo ano, além do voto do povo, sejam convocados três super craques, como Zidane, Zico e Beckenbauer, tendo o voto de cada um deles o mesmo peso do voto popular.

Que a FIFA e a REDE GLOBO acordem, pois estão sendo coniventes com algo sagrado e consagrado. A voz do povo deve continuar sendo a voz de Deus.