Julio Cesar

(Foto: Gilvan de Souza, Rodrigo Branco / Flamengo)

Já contei isto aqui, mas pela importância deste sábado, quando um dos maiores goleiros do Flamengo e do futebol brasileiro estará pendurando luvas e chuteiras, acho que o replay é válido.

Participava de uma reunião de diretoria no Flamengo, quando a eficientíssima secretária da presidência, Martha Camargo, cochicha no meu ouvido que havia duas visitas me aguardando e, que o assunto parecia ser importante.

As visitas eram Romário e Joel Santana que, pacientemente, aguardaram o encerramento da reunião de diretoria e, um tanto preocupados, me levavam um tema importante.

Informaram que estávamos com um sério problema no gol, pois havia um caso de contusão e outro de ordem “psicológica”. Não vou me aprofundar no tema em respeito ao profissional que, segundo eles, o goleiro em questão, até que não era ruim, mas… “chamava gol”!!!

O pior, é que me participavam e ao mesmo tempo pediam uma solução imediata, como se contratar um goleiro fosse a mesma coisa que tomar um cafezinho.

O goleiro – e bom – Clemer acabou sendo contratado, mas a solução tinha que ser imediata, ou seja, para o final de semana seguinte. Diante da situação, pedi à nossa secretária Martha, que localizasse Marcos Paquetá, que era o nosso treinador dos juniores.

Em quarenta minutos chegou Paquetá e, de imediato, pedi uma detalhada análise dos goleiros das categorias de base. O do time de juniores eu já conhecia, pois sempre ia ver os jogos da garotada que, em muitas oportunidades, faziam a preliminar. Tratava-se de Marcelo Leite, de quem tinha boa impressão.

Paquetá, de forma absolutamente pragmática, não mediu palavras quando fez a seguinte colocação: “Presidente, o melhor goleiro DO FLAMENGO, entre juvenis, juniores e os profissionais, está no juvenil. Tem 17 anos e o nome dele é Julio Cesar”.

Ante tamanha contundência na afirmativa, todos nós pedimos que Paquetá falasse um pouco sobre Julio Cesar e, após ouvirmos com atenção, não lembro se foi Joel que perguntou – acho que sim – como era a cabecinha dele, ao que Paquetá afirmou que o nosso personagem, além de um goleiro espetacular, tinha cabeça muito boa e que era um menino de 17, com mentalidade de um homem de 30.

Sem ninguém perceber, enquanto conversavam, fui até a sala da vice-presidência, onde estava meu companheiro Getúlio Brasil e dei um telefonema. Liguei para meu guru Telê Santana, a quem amava e admirava. Contei o caso. Telê ouviu e sapecou: “Se o goleiro é tudo isso e, se a cabeça é boa, vá em frente, sem medo”. E assim foi. Julio Cesar foi guindado, direto da categoria juvenil, para os profissionais.

Ainda menino, na largada, foi campeão da Copa dos Campeões mundiais e campeão da Copa de Ouro, da Confederação Sul-americana. O que veio a seguir, todo mundo já sabe.

Além de tudo isto, Julio Cesar era e continua sendo um rubro-negro apaixonado. Claro que todo bom profissional, quando defende um clube, dá o melhor de si, vibra nas vitórias e sofre nas derrotas. Agora, quando o profissional é exemplar e veste a camisa do clube pelo qual tem paixão, aí é outro mundo. Diria mesmo, tratar-se de uma realização de vida, uma vitória, de goleada, da alma.

Certa vez, em uma festa de aniversário, o pai de Jullio Cesar foi ao meu encontro para, segundo ele, me agradecer, com atraso, tudo que havia feito pelo filho dele, citando inclusive uma passagem em que, numa entrevista, quando ainda ninguém sabia quem era Julio Cesar, eu havia me referido a ele como genial goleiro. Agradeci a gentileza e disse que todos os méritos eram de Julio, pois no futebol, graças a Deus, não há padrinhos. Vinga quem é bom, pelos seus próprios méritos.

Tive a honra e o prazer indescritível de ter visto nascer para o futebol, no clube que é a minha paixão de vida, um dos mais notáveis goleiros do futebol mundial. E, não bastasse isso, uma figura humana adorável, única.

Obrigado Júlio. Não errei. Você foi genial.

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