(Foto: Wagner Meier / Getty Images)

As diversas formas de se ver a vida

Sempre ouvi de grandes dirigentes do nosso futebol – muitos deles já não estão entre nós – que jamais se deve tomar qualquer tipo de decisão no vestiário. Em síntese, ainda sob os efeitos da emoção, qualquer tipo de conclusão que venha contribuir para decisão a ser tomada, deve ser mais depurada. O vestiário apressa e, como o apressado pode correr o risco de comer cru, melhor concluir e decidir tudo no pacotão pós vinte e quatro horas do jogo.

Sei que algumas coisas que vou aqui colocar passarão longe da concordância de alguns – talvez muitos – amigos do blog.

Tenham apenas a certeza de que é sincero.

1 – Vi na TV, umas trinta vezes, o lance da expulsão de Gabigol. Não tenho nenhuma dúvida de que o nosso craque da cabeça quente agrediu verbalmente o árbitro. Reparem que, quando o árbitro, que caminhava de costas para Gabigol, vira, no mesmo momento um jogador do Bahia faz o mesmo, pedindo com aquele gesto característico o cartão para o nosso jogador que, aqui pra nós, não é santo, tem cabeça quente, já tendo nos deixado na mão algumas vezes. Tipo do jogador marrento que árbitro não tem nenhuma boa vontade.

O argumento de que nenhum árbitro tomaria a mesma atitude não vale. Vale o que a regra determina.

E, por favor, sem essa da teoria da conspiração de que o árbitro, por ser paulista, estava ali para afundar o Flamengo. Não acredito nisso, embora ache que a diretoria de arbitragem da CBF poderia ter mais sensibilidade nas escalações. . Se há tantos árbitros, por que escalar um paulista se o São Paulo tem interesse direto no jogo? É aquele tal negócio: A Rainha da Inglaterra não baste ser honesta. Tem que parecer honesta.

2 – No lance da atitude racista, está claro que:

Pela reação de Gérson, difícil acreditar que o nosso camisa 8 não tivesse sido vítima desta praga que divide a humanidade.

Mano Menezes, ao contrário do que muita gente interpretou como apoiador de atitude racista, quando insinuou que Gérson estivesse sendo malandro, a meu conceito, estava apenas dizendo não acreditar que seu jovem jogador fosse capaz de cometer tamanha atrocidade. Não senti, em nenhum momento, que estivesse ele apoiando ou sendo conivente com a atitude criminosa. Tanto é que, em determinado momento – e o áudio é claro – argumenta que seu jogador é apenas um menino. Isto não é reação de quem apoia o racismo e sim, de quem não acredita que alguém tão jovem, com carinha de garoto, possa ser tão estúpido e cruel.

3 – Correta a atitude do Bahia, informando que, mesmo com seu jogador negando a agressão racista, pela gravidade e repercussão do caso, o estava afastando até que a questão fosse, definitivamente, esclarecida.

4 – E a quem caberá desenvolver e apurar o tema? Será a CBF ou, por se tratar da possibilidade real de um crime ter sido cometido, sair da área esportiva?

5 – Vejam que detalhe interessante. Há dois meses, um clube árabe fez a seguinte proposta ao treinador Mano Menezes: dois anos de contrato, com salário anual de três milhões e meio de dólares, livre de impostos, mais toda aquela monumental mordomia que já conhecemos.

Mano declinou do convite, afirmando ter um compromisso moral com o presidente do Bahia. O clube árabe já contratou um outro treinador e o restante da história todos sabem.

É por essas e por outras que se deve ter muito cuidado ao se criticar treinador que deixa um clube em função de uma melhor proposta. No futebol, não necessariamente, vento que venta lá, venta cá…

6 – Rogério Ceni acertou tudo no jogo. Houve quem reclamasse de que Éverton Ribeiro – que realmente não estava bem – é que deveria ter saído e não, Arrascaeta. O treinador agiu certo. Jogando com dez, abrir mão de um jogador combativo, que corre o campo todo como o nosso camisa sete, seria insano. E, ainda por cima, ficando com Arrascaeta que tem muitas virtudes e um único grande defeito, que é não ser participativo o jogo todo.

Nas alterações então, nem falar. Pedro e Vitinho foram peças decisivas para a virada.

7 – Cometi no post anterior uma falha indesculpável, ao não dar ênfase à estupenda atuação do nosso baita goleiro, Diego Alves. Foi decisivo para a vitória épica.

Peço desculpa.

Enfim, que o espírito do Natal que vem chegando tome conta dos corações não afortunados pelo amor e pela bondade. E que, de uma vez por todas, o ser humano entenda que alma não tem cor.