(Foto: Gilvan de Souza / Flamengo)

Duas boas cabeças. Duas opiniões diferentes

O que me chamou a atenção neste pós jogo entre Flamengo e Atlético Mineiro, foi constatar como profissionais – e de excelente nível – concluíram de forma antagônica o comportamento do eterno estagiário rubro-negro, Mauricio Barbieri.

Passo a reproduzir, primeiro o depoimento de Carlos Eduardo Éboli, da Rádio Globo no “Redação Sportv”, e repercutido no Globo.com e, em seguida, a opinião de Renato Maurício Prado, em sua coluna diária no Jornal do Brasil.


Jornalista fala em “grito de liberdade” de Barbieri: “Vitinho entrou em campo para não jogar”

Foi o grito de liberdade de Barbieri. Com 35 minutos de Vitinho colocando a mão na cintura, correndo para não chegar, se esforçando pouco e ineficiente tecnicamente, ele o trocou pelo Marlos Moreno. O Vitinho não conseguia ser uma válvula de escape para o Flamengo contra-atacar. Não pesou o fato de ser o jogador mais caro da história do Flamengo, não pesou ser uma contratação badalada, não pesou a recepção que ele teve. O que pesou foi a decisão do treinador. O Vitinho ontem entrou em campo para não jogar.

Carlos Eduardo Éboli – Redação SporTV – 24-09-2018


Fla vence. Apesar de Barbieri

“O técnico Maurício Barbieri é incrível! Até em um dia em que o Flamengo consegue uma vitória importantíssima, sobre o Atlético Mineiro, diminuindo para três pontos a distância para o líder São Paulo, ele consegue desagradar a torcida, com escolhas e decisões, no mínimo, discutíveis. Diria eu, escalafobéticas.

De cara, a escalação: por que começar com Matheus Sávio, jogador que repetidamente tem se mostrado inútil tanto no ataque quanto na recomposição do meio-campo? Será ele um “leão de treino”, aquele tipo de atleta que arrasa nos treinamentos, mas no jogo de verdade desaparece?

Como, nos dias de hoje, todas as práticas são secretas, nem dá pra saber. Mas até as balizas do Ninho do Urubu sabem que Matheus Sávio irrita profundamente a torcida e, jogo após jogo, não consegue justificar sua entrada em campo. Pra que insistir com alguém que já é vaiado no primeiro tempo? Não dá pra entender.

Com mais uma atuação medíocre, Sávio foi substituído por Vitinho, no intervalo. E o que houve meia hora depois? Barbieri tirou o reforço mais caro da história do clube e colocou em seu lugar Marlos Moreno! Vitinho não entrou bem? Não. Mas até com uma das pernas amarradas é melhor e mais perigoso nos contra-ataques que o Cafuringa colombiano! O que pretendia o estagiário?

A maior lambança, porém, tinha sido feita, um pouco antes. Aos 26 minutos – vou repetir: 26 minutos do segundo tempo -, com o Flamengo bem no jogo, podendo marcar o terceiro gol e liquidar a fatura, o treinador rubro-negro sacou o centroavante Henrique Dourado (outra escolha bizarra para titular) e pôs em campo o volante Piris da Motta. Ou seja: covardemente, recuou o Fla e entregou o campo ao adversário.

A partir daí, só o Atlético Mineiro jogou. E o gol de empate não saiu por sorte dos rubro-negros, que levaram até bola no travessão, no último lance da partida. Os maiores méritos da importante vitória rubro-negra foram de jogadores como Lucas Paquetá (enfim, voltando a atuar muito bem), Éverton Ribeiro, Cuéllar, Willian Arão (outro que está recuperando a antiga forma) e o lateral-esquerdo Trauco – que nunca entendi o motivo de ser reserva do limitadíssimo Renê.

Se Barbieri o escalou para poupar o titular, pensando no jogo de quarta-feira, contra o Corinthians, atirou no que viu, acertou no que não viu. O mínimo que se espera agora é que mantenha o peruano para a segunda partida da semifinal da Copa do Brasil. Apesar de certa deficiência na marcação, ele é disparado o melhor lateral do elenco. O único que sabe apoiar e cruzar com perfeição. Não à toa, os dois gols de ontem nasceram de seus pés. O primeiro, de Arão, numa jogada espetacular, chegando ao fundo e cruzando rasteiro, para trás. O segundo, com um passe perfeito, pelo alto, na cabeça de Paquetá.

Não dá pra saber que escalação o estagiário mandará a campo na quarta-feira contra o Corinthians, jogo importantíssimo, que pode levar o Flamengo à sua primeira final na temporada. Pelo que os centroavantes não conseguem fazer (muito por causa do esquema de muita gente rondando a área, mas ninguém encostando no pobre coitado), a melhor formação, com a volta de Diego, pode ser com Paquetá avançado e Arão ao lado de Cuéllar. Do lado esquerdo, Trauco na lateral e (apesar de ainda não estar bem entrosado) Vitinho no ataque.

Em suma: Diego Alves, Rodinei (ou Pará, tanto faz), Réver, Léo Duarte e Trauco; Cuéllar, Willian Arão e Diego; Éverton Ribeiro, Lucas Paquetá e Vitinho. Não pode ser muito diferente disso.

Vê se não inventa, estagiário! Ou a sua cabeça ainda pode rolar…”

Renato Mauricio Prado – Jornal do Brasil – 24-09-2018


Querem saber o que acho como resumo da ópera? Simples, pois a resposta está aqui mesmo no nosso blog, quando o meu ponto de vista é igual ao do Renato Mauricio Prado, enquanto que alguns queridos companheiros, em seus comentários, iam para um caminho muito próximo do pensamento de Carlos Eduardo Éboli.

Como não sou de ficar em cima do muro, gostaria de ratificar algumas posições:

1 – Nada tenho contra Barbieri. O meu problema é conceitual. Não entendo e admito, como um jovem de 36 anos, sem ter jogado profissionalmente e, consequentemente, sem vivência no futebol, seja o treinador do mais importante e popular clube brasileiro.

2 – Barbieri vem se equivocando quando escala Paquetá como volante. O mais agudo e perigoso jogador do Flamengo não pode jogar de forma tão recuada. Desperdício de talento. Sem a mínima intenção de comparar, mas já imaginaram Zico jogando de volante?

3 – Vitinho custou 45 milhões de reais. A mais cara contratação da história do Flamengo e, quando aqui chegou, estava em plena atividade na Rússia, portanto, com ritmo de jogo e fisicamente bem. Se Vitinho não está rendendo, esta responsabilidade tem que ser dividida com o treinador, que o tem escalado para uma função antes exercida por Vinícius Júnior, quando sabemos que esta nunca foi a posição exata de Vitinho.

4 – Deixar Vitinho no banco para escalar Matheus Sávio é dose para 80 javalis enfurecidos.

5 – Achar que, como diz muito bem Renato Mauricio Prado, Marlos Moreno, o “Cafuringa colombiano”, que há 80 jogos não faz um gol, possa resolver alguma coisa, é acreditar em Papai Noel, Gata Borralheira e, por aí vai…

6 – Ainda está atravessado na minha garganta o episódio de Belo Horizonte, quando o Flamengo jogou no domingo contra o América e, com o jogo seguinte programado para quarta-feira, ainda em Belo Horizonte, contra o Cruzeiro, em clara demonstração de falta de experiência e autoridade, Barbieri se curvou ao apelo dos jogadores e a delegação retornou ao Rio, para em seguida voltar novamente a Belo Horizonte. E, é por isto que os jogadores o defendem. Aliás, se defendem…

7 – O time que Renato Mauricio Prado escala como o ideal, ante as circunstancias, é o que eu venho clamando aqui no blog e, faz tempo…

Continuo afirmando que, apesar de tudo aqui colocado, com um mínimo de juízo e bom senso do nosso eterno estagiário, ainda dá para sonhar com os dois títulos. Otimismo é comigo mesmo.