Os nossos goleiros que vi e convivi

Os meus goleiros marcantes, claro, foram todos rubro-negros, com três exceções, em três etapas distintas de vida. Vamos começar por aí.

Na infância, fora os nossos goleiros, um me marcou profundamente. Carlos Castilho era uma espécie de barreira a ser transposta pelos nossos atacantes. Duas imagens permanecem vivas: um golaço de cobertura, obra-prima assinada pelo pequenino Babá, e a final do Campeonato Carioca de 1963, onde o Flamengo foi campeão, no 0 a 0 contra o Fluminense, que tinha Castilho no gol. Só que, o herói do jogo foi Marcial, goleiro do Flamengo.

Na juventude, foi duro aturar Manga, goleiro do Botafogo, que toda semana que antecedia ao jogo contra o Flamengo, anunciava que já estava gastando o “bicho” por conta…na certeza da vitória. E o pior, é que os vaticínios de Manguinha na absurda maioria das vezes, para nosso desespero, se confirmavam. Tinha muita bronca de Manga, porém, como torcer pode e distorcer jamais, tratava-se de um baita goleiro. Sua última imagem para mim – aí já era repórter – foi a final do Campeonato Brasileiro, na vitória do Inter sobre o Cruzeiro, em que a maior figura em campo foi Manga, que pegou até pensamento…

Na fase adulta, plenamente de acordo com meu querido e genial amigo Galvão Bueno, não há como não destacar o talento, carisma e sorte de Taffarel. Como Galvão, o considero o goleiro mais marcante vestindo a amarelinha.

Sinforiano Garcia

Chegou a vez dos nossos goleiros. O primeiro foi Sinforiano Garcia. Uma imagem que não me sai da cabeça. Ano, 1955. Local: Gávea. Final de tarde e eu, na beira do campo, de mãos dadas com meu pai e minha mãe, vendo Fleitas Solich treinar o goleiro paraguaio. Curioso que, neste mesmo período, o argentino Eusébio Chamorro, conhecido como Chamorro, acabaria sendo o goleiro do tri. É ele o goleiro em todas as fotos, embora meu pai sempre tenha dito que Garcia era insuperável.

O nosso jejum de títulos – de 1955 a 1963 – foi quebrado com a ajuda de um grande goleiro. Marcial fechou o gol na final contra o Fluminense, pegando, no finalzinho do jogo, um “chutaço” de Escurinho, ponta esquerda do Fluminense.

Marcial defende o último lance

Para se ter uma ideia, o apito final coincidiu com a bola nas mãos  de Marcial. Domingo inesquecível para mim. Começou na Igreja de São Judas Tadeu e de lá, com meu pai, direto para o setor 4 do Maraca, onde ficavam os sócios do Flamengo. Marcial foi o herói do jogo recordista mundial de público, numa partida entre clubes. Pagantes, mais de 177 mil. Quase 200 mil passaram pelas roletas.

Dois anos depois, o Flamengo voltaria a ser campeão. Dois goleiros participaram da campanha, Valdomiro e Marco Aurélio, que voava mais do que passarinho. Valdomiro jogou muito mais vezes, mais o meu predileto era Marco Aurélio.

Renato

Nosso próximo goleiro em importância foi Renato, se não estou equivocado, contratado ao Atlético Mineiro. Muitíssimo bom goleiro, campeão em 1972 e 1974. Acabou no Fluminense, sendo um dos três rubro-negros incluídos no famoso troca-troca, criado pelo genial Francisco Horta.

(Cantarelli e Raul)

Na sequência, os dois goleiros que mais títulos conquistaram pelo Flamengo, foram Cantarelli e Raul. Os dois são muito especiais para mim. Klebinho, meu filho, em um determinado momento da vida, entendeu que queria ser goleiro e seu ídolo era Cantarelli. Quando Raul chegou e assumiu a condição de titular, Klebinho não abriu de Cantarelli como ídolo, fato que me causou, como pai, um certo orgulho pela retidão de caráter do filho. Os dois ganharam todos os títulos possíveis a um jogador de futebol e, em todos, estive ao lado deles em tudo que é canto do mundo.

Com Raul houve uma sequência na amizade e na convivência, pois quando o “Velho” parou, tive a honra de lançá-lo como comentarista e debatedor. Figura humana extraordinária e carismática, jogando bola, na latinha e na vida. Temos passagens históricas que um dia pretendo contar, tendo ele ao meu lado.

Hora e vez de um goleiro genial, por quem tenho profundo carinho e admiração. Um belo dia, Romário e Joel Santana, em uma segunda-feira,  me procuraram, pois o Flamengo precisava de um novo goleiro para estrear no fim de semana. Após dizer aos dois que seria impossível contratar e regularizar um goleiro a toque de caixa, sugeri a presença de Marcos Paquetá, treinador dos juniores, para discutir o tema.

Paquetá deixou claro que o melhor goleiro do Flamengo estava ainda no juvenil, completando 17 anos e se chamava Júlio César, goleiro que víamos pouco, pois o titular dos juniores era Marcelo Leite. Resumo da ópera: Com a garantia de Paquetá de que a cabeça era boa e que além de genial, Júlio Cesar estava pronto e, após ouvir a opinião do meu guru Telê Santana, tive firmeza em bancar o que para muitos era um grande risco. Paquetá e Telê acertaram. Joel foi corajoso e o Flamengo apresentava ao mundo um goleiraço que marcou época. Importante registrar a presença de Clemer, muito bom goleiro, na formação e consolidação de Júlio Cesar.

Como aqui estamos registrando apenas o lado profissional de quem vestiu a camisa do Flamengo, não há como não se destacar o grande talento de Bruno, que tinha tudo para ser o goleiro titular da Seleção Brasileira.

Sei que muitos queridos amigos do blog não irão concordar, mas não posso deixar de dizer o que penso e o que vai no coração. Acho Diego Alves, também, um goleiro espetacular. Se pudesse resumir Diego Alves em uma só palavra, sem medo de errar, sapecaria: CONFIANÇA! Isto é o que sinto quando Diego Alves está em campo. CONFIANÇA! Não esquecendo a quantidade de canecos conquistados e a importante liderança que exerce.

Se esqueci alguém, perdão. Não posso deixar de mencionar dois goleiros argentinos, extraordinários, que vestiram o Manto Sagrado, Dominguez e Ubaldo Fillol. E, peço licença para destacar – embora não tenha visto jogar – a figura pra lá de carismática de Yustrich, que só tive o prazer e a alegria de conhecer como treinador.

Quem foi o melhor goleiro da nossa história? Talvez, a pergunta mais correta seja: Qual foi o melhor goleiro que você viu jogar no Flamengo?  No que me toca, uma dúvida cruel entre Raul e Júlio Cesar, em momento de encantamento por Diego Alves.

Em nome de todos os companheiros deste blog, o nosso muitíssimo obrigado a todos. Seremos eternamente gratos. Vocês foram goleiros espetaculares que marcaram nossas vidas.

M E N G O O O O O O O O!!!!!!!!!!!!!!!!!!!