O profissional

Esta palavra meio que virou bandeira no mundo do futebol. De norte a sul do Brasil, quase todos os jornalistas apontam o profissionalismo como única saída para qualquer clube ser bem-sucedido. Só que, embora pareça simples, este tema é bem complexo. A coluna desta segunda-feira de Rodrigo Capelo, no Globo, e a de Rodrigo Mattos, sábado passado no UOL, são um convite para reflexão profunda sobre o tema.
Os dois jovens craques do jornalismo abordam temas diferentes. Rodrigo Mattos, no UOL, fez uma análise da mensagem de muitos rubro-negros ao presidente Landim, mensagem esta, que também clamava pelo profissionalismo no Flamengo. No final do texto, Rodrigo estranhou ter eu também assinado o texto, com o argumento de que estava eu pregando o que não havia feito no Flamengo nos anos 2000, isto é, que o Flamengo não adotara o profissionalismo como bandeira e, em consequência, a dívida do clube havia aumentado.

Ainda no sábado, mantive contato com Rodrigo Mattos que, além de ser competente na profissão que abraçou, é um gentleman na acepção da palavra. Disse a ele que fui presidente, não nos anos 2000, e sim de 1995 a 1998, e que ali fora dada a largada para o profissionalismo no Flamengo. Neste período, de forma ininterrupta, o clube retomou a dignidade, cumprindo religiosamente, até o quinto dia do mês subsequente, suas obrigações trabalhistas com seus seiscentos funcionários e com o departamento de futebol.
Após a retomada da dignidade, foi a vez da autoestima, com a contratação do melhor jogador do mundo, sem que para isto o Flamengo tivesse que colocar um único centavo. Não bastasse não ter gastado nada, só na estreia de Romário, em Goiás, contra a seleção do Uruguai, em 1995 – em um único jogo – o equivalente a um milhão e meio de dólares, limpinhos, entraram nos cofres-fortes do clube. Na sequência, também via incursões bem-sucedidas de marketing, Lúcio, Edmundo e Bebeto foram contratados sem que o Flamengo tivesse que desfalcar os seus recursos.
As relações com patrocinadores, fornecedores e TV mudaram de patamar. Ali nasceram a FLATV, a campanha SEJA SÓCIO e o SÓCIO OFF RIO. De seis mil, chegamos a quarenta mil sócios.
Em síntese, os amadores do clube, que eram profissionais em suas áreas, adotaram a máxima do ex-presidente da FIFA, João Havelange: “administrar é gerar recursos”.

Quase que os Rodrigos – Capelo e Mattos – fazem uma tabelinha em veículos distintos. Rodrigo Capelo afirma – e coerente é – que na composição de uma diretoria, o vice jurídico é um advogado, o vice de marketing, alguém da área, o de finanças, um economista, e só no futebol, há um vice-presidente amador. Aí começa a polêmica.

Paulo Pelaipe, o profissional que a torcida do Flamengo clama para voltar, não é filho de chocadeira, isto é, fez algum curso em Harvard para ser dirigente profissional?
NÃO! A escola de Paulo Pelaipe foi o Grêmio, onde foi vice-presidente de futebol de forma amadora, isto é, não remunerada. Talvez aí esteja o ponto. As pessoas confundem amador, com descompromisso, falta de conhecimento de causa, inconsequência e até irresponsabilidade. Não é assim! Pelaipe foi tão bom vice-presidente amador no Grêmio como diretor no Flamengo. A diferença é que no Grêmio não era remunerado e, no Flamengo, sim.
Há vice-presidentes de futebol que poderiam, pela experiência acumulada, perfeitamente serem transformados em profissionais.
Voltando no tempo e fugindo do Flamengo para evitar ciumeiras, cito três exemplos de vice-presidentes de futebol, não remunerados, portanto amadores, e que foram espetaculares: João Boueri (Fluminense), Antônio do Passo (Vasco e Seleção Brasileira) e Adilson Monteiro Alves (Corinthians).

Meu amigo Radamés Lattari atribui a queda de produção de Gabigol à falta de foco. Gabigol anda dividido entre ser cantor e jogador.
Isto é um exemplo que serve para a composição no comando do futebol, que também requer tempo integral. Qualquer solução serve, desde que o vice de futebol – não remunerado ou o diretor remunerado – tenha tempo para se entregar totalmente e, principalmente, tenha liderança, competência e que seja incorruptível.
Aí, de uma forma ou de outra, não há como não dar certo.