Uma rádio no céu

Estou dando um tempinho nos nossos temas rubro-negros muito em função do quão atual é o último post, que levanta a bandeira da simplicidade, a meu ver, a maneira mais rápida para que nosso treinador encontre o caminho das vitórias e, consequentemente, a paz.

Esta decisão de dar um tempinho nos posts tem a obrigação de ser interrompida, pois acabo de receber uma triste informação, enviada pelo querido amigo Gilson Ricardo.

Faleceu Alfredo Raimundo Filho. Os mais jovens e, também, muita gente da antiga, há de estar indagando: de quem se trata?

Explico. Alfredo Raimundo foi um ser apaixonado pelo Rádio. Foi repórter esportivo, tendo começado na Rádio Imperial de Petrópolis e, como repórter de campo, brilhou na Rádio Globo.

Embora tenha sido repórter de destaque, Alfredo Raimundo entrou para a página de ouro do Rádio como executivo, tendo começado como diretor administrativo e chegando a presidente do grupo associado, dono da Rádio Tupi.

Trabalhar em rádio, em 1969, quando comecei, era uma aventura, onde o fato raro era quem trabalhava receber seus salários em dia. Dei sorte, pois neste ano de 69, o grupo associado entregou o comando da Rádio Tupi para um trio genial: José Mauro, diretor geral; Alfredo Raimundo, diretor administrativo; e Paulo Max, diretor comercial. Estes três operaram o milagre, criando a SUPER Rádio Tupi, onde sobrava seriedade e talento e, em consequência, uma baita audiência, credibilidade e faturamento suficiente para manter a dignidade de muitos chefes de família, entre eles, eu.

Tive a honra de conviver e aprender com Alfredo Raimundo. Com ele aprendi que se pode vencer na vida, prosperar, com inspiração e muita transpiração, mantendo sempre a dignidade.

Certa noite no Maracanã, fui chamado pela comunicação interna com a cabine. Imaginei que fosse Doalcey Camargo querendo falar comigo.

Era Alfredo Raimundo para me dar uma bronca. O jogo era Flamengo x Santos e irado estava Alfredo Raimundo pelo fato de, até aquele momento, Pelé não ter sido entrevistado. A partida estava no primeiro tempo.

No intervalo, esperei Pelé na porta do vestiário do Santos e o Rei ajudou a garantir meu emprego. No final da entrevista, “por livre e espontânea vontade”, Pelé sapecou: “quero aproveitar para deixar o meu abraço para meu querido amigo rubro-negro Alfredo Raimundo, diretor da Super Rádio Tupi e fanático torcedor do Flamengo, e dizer a ele que estou com saudade, mas que, hoje, ele vai dormir de cabeça inchada”.

Sucesso total! Alfredo esqueceu o deslize do repórter mais preocupado com o Flamengo do que com o rei do futebol. Passou uma semana sendo cumprimentado pela amizade e afeto demonstrados pelo rei de todos os estádios.

Com esta foto da minha primeira carteira de trabalho, assinada por ele, anúncio que irá ao ar no céu uma nova emissora de rádio, comandada pelo trio José Mauro, Paulo Max e Alfredo Raimundo. Duas coisas são garantidas: uma baita audiência e pagamentos religiosamente em dia para seus funcionários.

Descanse em paz meu amigo e, obrigado por tudo!