Inacreditável, mas possível…

(Foto: Gilvan de Souza / Flamengo)

Entrei no avião e, quando caminhava procurando minha cadeira, alguém me chamou. Olhei para trás e sorridente veio em minha direção um dos comissários de bordo, que foi logo se apresentado: “Meu nome é Hilário e vamos sofrer juntos pra saber o resultado do jogo do nosso Mengão”.

Abro parênteses para dizer que o avião decolou ontem às 15h30 e, a duração da viagem foi de onze horas. Portanto, durante todo o jogo, ficamos completamente “fora da jogada”…

Cumprimentei o gentil comissário rubro-negro e, de cara, já fui perguntando se havia Wi-Fi a bordo. Com decepção visível, Hilário infirmou que não. Aproveitando a intimidade que a paixão pelo Flamengo proporciona, sondei se o comandante não poderia dar uma mãozinha e ir informando o andamento do jogo. Hilário disse que, isto estava proibido, em função de alguns abusos ocorridos. Apenas se dispôs a me informar assim que o avião pousasse. Só que, quando o avião ainda estava a dez metros do chão, já estava eu de telefone em punho, retirando do modo avião e, procurando o Globo.com. A palavra que me veio à mente, quando soube do resultado, foi a primeira da manchete do post: Inacreditável!

A sequência da manchete é o retrato do mais apaixonante esporte da face da terra, onde tudo é possível. E, só por isso, mesmo sabendo da enorme distância de qualidade entre os dois times, eu e Hilário estávamos ansiosos em saber o resultado. Mesmo tendo a convicção de sermos superiores, sabíamos que a “zebra” passeia pelos campos de grama onde a bola rola…

Claro que decepcionado e triste pela eliminação do Flamengo, no mais fácil Campeonato Carioca que disputamos ao longo da história, comecei a ser bombardeado, pelo telefone, WhatsApp e e-mail. Amigos, ou apenas conhecidos, claro que, todos rubro-negros, indignados com a surpreendente eliminação.

Houve quem dissesse ter concluído que o nosso time é uma merda. Respondi, discordando. O nosso elenco, levando-se em conta o atual futebol brasileiro, não pode ser considerado ruim.

O que ocorre é a surpreendente falta de conexão, a desproporção, entre o elenco bom e as conquistas. Quando isto ocorre, qual é a conclusão lógica? O “em torno” deve ser questionado. E, estimo que o presidente Eduardo comece a raciocinar desta forma. Não faz muito tempo, escrevi aqui que no futebol do Flamengo falta convicção, onde se muda de opinião com velocidade espantosa.

Carpegiani foi contratado para ser gerente e acabou treinador. Pará era titular absoluto. Passou a reserva e, do nada, voltou ao time. Trauco era o bambambã. Melhor jogador da temporada peruana, chegou arrebentando. Logo foi para a reserva, onde Renê, hiper combatido, virou titular.

Como ninguém tem certeza de nada no Flamengo, na hora de começar a decisão, entra Éverton 22. Caramba, se isto estava na cara que era a melhor alternativa, por que tanto tempo foi desperdiçado, em que poderia Éverton ter se adaptado à nova função?

No meio, pior ainda. Jonas, que não convenceu, foi emprestado. Arão era titular absoluto, causa da “guerra quente” entre Flamengo e Botafogo. Chegou a ser convocado para a Seleção e, de repente, foi para o banco. Voltou no momento decisivo… Cuellar, foi exaltado em verso e prosa e, de repente, virou reserva de Jonas, que era ruim e, após o empréstimo, virou solução.

No ataque – o nosso é uma piada – confusão geral. Ceifador, só ceifa pênalti. Vinícius Júnior, recorde do Guinness em entra e sai. Isto tudo, sem falar no plano tático, onde Diego virou volante.

Na hora H, mudou tudo. Retornaram os dois volantes. Some-se ainda o abuso da individualidade, onde Paquetá tem sido o mestre-sala…

O resumo da ópera é simples. No Flamengo, não há convicção em nada, por isso mudanças ocorrem com enorme velocidade. O navio do futebol não é ruim, mas viaja ao sabor do vento…