Rei para sempre

Já esperávamos, mas dói do mesmo jeito. Pelé nos deixou. Pelé nunca deixará de existir. Este é o enigma que só os gênios têm direito. Daqui a mil anos Pelé continuará existindo, até porque, na maior paixão popular do planeta, o Rei jamais será esquecido.

Tenho uma passagem marcante com Pelé. Eu, repórter da Rádio Tupi, e Pelé, no Maracanã, vestindo o Manto Sagrado. Naquela noite, juntos, com a camisa do Flamengo, Pelé e Zico. A cobertura da Rádio Tupi foi espetacular, com Pelé sendo acompanhado desde a sua chegada ao Rio de Janeiro e se estendendo até sua saída de campo na memorável goleada rubro-negra. Enquanto vários companheiros colavam e entrevistavam sua majestade, a minha paixão maior fez com que, como sempre, estivesse grudado em outro Rei, o nosso Rei Arthur.

Em determinado momento da transmissão, recebi um recado para me comunicar com a cabine, com urgência. Lá fui eu para o fosso do Maracanã, e de lá liguei pela linha interna. Quem atendeu o telefone foi o nosso diretor administrativo, Alfredo Raimundo, que, sem muita conversa, me passou um pito:
– “Kleber, como é que você até agora não entrevistou Pelé?”
– “Alfredo, desculpe, mas Pelé já foi entrevistado por vários companheiros”, respondi. E, a bronca prosseguiu: – “você é o principal repórter. Inadmissível que você não tenha batido aquele papo com ele. Inadmissível!”
Atordoado pelo puxão de orelha, reagi dizendo que iria dar um jeito…

Como sempre tive trânsito livre no Flamengo, consegui entrar no vestiário e, antes que o time fosse para o aquecimento, me dirige a Pelé que estava na sala de massagem, contando a bronca que levei e que precisava da ajuda dele para uma matéria imediata e, com um “molho” à parte.

Abri o microfone dizendo: “ Rei na área!”.
De imediato veio o famoso “Brahma na jogada”. Aí, comecei: “com exclusividade, dentro do vestiário do Flamengo, ao lado do Rei Pelé, que daqui a pouquinho entrará em campo, pela primeira vez, vestindo o Manto Sagrado. E aí Pelé, esta camisa pesa até para um rei? Pelé, salvou meu emprego: ”Kleber, antes de responder, faço questão de enviar um forte abraço para meu amigo Alfredo Raimundo, craque na administração da Super Rádio Tupi”…
Alfredo Raimundo – depois me contaram – dava cambalhotas de alegria na cabine. Afinal, não é todo dia que o Rei do futebol “enche a bola” de alguém de forma tão escancarada.
Resumindo, neste episódio fica fácil concluir que antes de ser Rei, Pelé era um ser humano extraordinário.

Que papai do Céu o receba como um Rei do bem.
Pelé eterno…