Sorte no primeiro round

Aqui pra nós, o azareiro namorou Dona Leila e Cia…
Claro que, no futebol, tudo pode acontecer, mas, como dizia o Velho Lobo, “se há vantagem, eu quero”.

Nesta Libertadores, começamos pelo Internacional, que está em fase complicada.
Passando, nas quartas de final, Cerro ou Estudiantes.
A seguir, na semi, um destes quatro: Racing, Peñarol, Fortaleza ou Vélez.
Enquanto isso, o Palmeiras, nas quartas de final, já deve encarar o River.
Passando, na semi, pode encarar Botafogo ou São Paulo.
Na teoria, saímos na frente. Sorteio para nós. Azareio para o Palmeiras.

Na Copa do Brasil, na teoria, Bahia, Cruzeiro e Vasco, entre os grandes do futebol brasileiro, foram os sortudos.
Todos os outros confrontos, duros — inclusive o nosso, contra o Atlético Mineiro.
O Palmeiras repetiu o azareio no sorteio da Libertadores. Na Copa do Brasil, encara o Corinthians.

Voltando ao que interessa, ou seja, à Libertadores. Em função do Mundial de Clubes e datas FIFA, teremos um intervalo considerável até o reinício da competição. Precisamos resolver o problema do nosso ataque, com duas caras novas, além de um meia de qualidade que possa substituir Arrascaeta quando necessário.
No mais, que São Judas, que está de mal com Trump, mesmo assim vá com o Mengão…

Para encerrar:
Divido com vocês o texto maravilhoso de Joaquim Ferreira dos Santos, publicado no Globo.
Joaquim, verdadeiro poeta do dia a dia, amante do futebol, só faltou falar na pensão da Cremilda. No mais, para quem gosta do velho esporte bretão, um convite bem-humorado à reflexão.
Boa leitura e saudações rubro-negras.


Você é Embaçado?

O futebol explica o Brasil e há uma cena nova nos gramados que nos resume com exatidão: um país descontrolado, de parlamento grosso e ignorância urbana grassa. É a cena do time de pernas-de-pau, todos sem qualquer razoabilidade técnica, chutão para tudo que é lado, enquanto à beira do gramado o treinador, com ares de psicanalista, aponta com o indicador de cada uma das mãos para cada um dos lados da própria cabeça. Seria cômico, não fosse ridículo.

Ele faz o teatrinho como se desse ordem de esmerada sofisticação, capaz de, se a mensagem for alcançada por seus botocudos, mudar o rumo do jogo: “Não é a bola!”, parece gritar aos comandados, enquanto espeta a cabeça com a inteligência harvardiana dos dois dedos. “É o psicológico! É o jogo mental!”

Eu sou do tempo da marchinha — principalmente daquela que em 1958 comemorou o nosso primeiro campeonato mundial e dizia na letra que “o brasileiro foi no estrangeiro / mostrar o futebol como ele é”. Desde a semana passada, quando o italiano Carlo Ancelotti assumiu o comando da seleção, a marchinha perdeu o sentido — agora é o estrangeiro que veio aqui para mostrar o futebol como ele deve ser.

Nem o mental do Freud explica. A cura do país pela bola foi passada para Carletto — e, a propósito, vai ser preciso um bom tradutor para botar a nossa tragicomédia em italiano.

Dias atrás, um locutor narrava um jogo do Palmeiras. Após o atacante Estevão estufar o barbante adversário com um chute de três dedos de fora da área, ele adjetivou, de forma empolgada e admirada, o autor do tento esmeraldino:
“Esse Estevão é embaçado!” — gritou, pegando carona na gíria comum no rap da periferia paulista, onde a excelência dos vapores dá sentido ao emprego positivo da expressão.

Dizem que quem começou essa esquisitice de virar pelo avesso o sentido das palavras,  e transformar em elogio o que antes era desaforo, foi o locutor Januário de Oliveira (1941–2021). Nos anos 90, ele exaltava o autor do gol, geralmente um Romário ou um Bebeto, com a adjetivação de “sinistro, muito sinistro”. Pegou. E agora chegamos ao louvor do “embaçado” — embora, já que o jogo agora é mental, isso soe como um tremendo ato falho para informar sobre o tosco que vai pelo Campeonato Brasileiro.

Eu sou do século passado: do goleiro de cotoveleira, do troféu Belfort Duarte ao jogador jamais expulso, do alçapão da Rua Bariri, do Gérson fumando Continental sem filtro no vestiário, do babalorixá chupando laranja-lima para repor a vitamina C, do arquibaldo, do geraldino e da suíte Champion oferecida ao craque da partida para relaxar gostoso com seu broto.

O elogio era bom e bonito. O locutor Waldir Amaral, após narrar um gol espetacular — fosse do Dida, Vavá, Waldo ou Paulinho Valentim —, gritava da cabine ainda não refrigerada da Rádio Globo que o autor era um “indivíduo competente”. E todos entendiam. Freud e Lacan não eram escalados para fechar o meio de campo, os técnicos não espetavam a cabeça como esquema tático e, cáspite, ninguém estava preocupado em traduzir “embaçado” para o italiano.

Joaquim Ferreira dos Santos