(Foto: Dominick Reuter / AFP)

Coração partido

Comecei a me ligar, ou melhor, a me apaixonar pelo tênis pela curiosidade em entender o fenômeno Guga. A paixão foi tão grande que, inclusive, comecei a jogar, sem que jamais tenha sequer assistido a qualquer aula de tênis.

Quis o destino que Guga, em função de um problema no quadril, fosse obrigado a abandonar as quadras.

Órfão, não demorei a encontrar por quem torcer e me apaixonar. Como Guga, Federer me proporcionou inúmeras alegrias jogando mundo a fora, conquistando torneios e mais torneios e batendo recordes como se toma cafezinho. Caramba, eu havia escolhido para torcer, nada mais, nada menos, do que o melhor tenista de todos os tempos.

Além da técnica inigualável, a elegância. A sensação que se tem é a de Roger Federer joga de smoking…

Só que, o tempo, também para ele, passa. Primeiro, as vitórias que eram obtidas com extrema facilidade só eram conquistadas após jogos longos e duríssimos. Na sequência, as derrotas, antes inimagináveis, começaram a fazer parte do contexto. O problema é que ninguém estava habituado a isso. Federer e seus milhares de apaixonados fãs começaram a conhecer um mundo novo.

Após o jogo desta terça-feira, quando foi eliminado do US OPEN por um tenista búlgaro – Grigor Dimitrov, que aliás, jogou muito bem – por 3 a 2, em jogo de quase quatro horas, sem conseguir dormir, pela primeira vez me veio à cabeça se não era hora de Federer parar.

Do pensamento inicial, vem outro imediato. Melhor sofrer mais um pouco, mas não deixar de ter o privilégio de ver Roger Federer nas quadras ou, parar de sofrer por vê-lo querer ser o mesmo, mas tendo o tempo como inimigo mortal?

Fui dormir sem chegar a uma conclusão. Qual será o pensamento de quem gosta tanto de Federer, como eu?

Parar e estancar sofrimentos certos ou, não abrir mão desta magia em vê-lo jogar, mesmo sabendo que – sempre – as possibilidades de vitória serão cada vez mais remotas?

Sem saber ainda responder, o que posso dizer que é humilhante ver o maior tenista de todos os tempos, passar pelo que está passando.

O compromisso de Federer, pela sua genialidade, é com a glória. Federer, sem vitórias, não é Federer.