Paulo Pelaipe (Foto: Alexandre Vidal / Flamengo)

Muito além de uma simples demissão

Tenho aqui procurado, dentro da medida do possível, abordar todos os assuntos pertinentes ao Flamengo, sempre com otimismo e respeito. A veia onde corre o jornalismo sempre esteve e jamais deixará de correr em mim, porém neste espaço, acima de qualquer compromisso comigo mesmo, está – e sempre estará – o que for melhor para o Flamengo.

Querem um exemplo? Assim que cheguei a Doha, de forma curiosa recebi, “de graça”, uma informação preocupante. Os jogadores estavam no quinto andar do hotel e eu, no quarto andar. Ao entrar no elevador que vinha do andar de cima, na conversa de dois jogadores, tomei conhecimento da insatisfação deles pelo fato de a diretoria ter rompido o acordo que havia sido acertado com eles, sobre a premiação.

Como pratico a política da “boa intriga”, aconselhei que esquecessem momentaneamente o assunto, pois havia pela frente o jogo das nossas vidas.

Nada comentei aqui no blog, pois tinha certeza de que alimentaria algo que poderia nos ser prejudicial em momento tão importante. Da mesma forma que o meu compromisso era com o interesse do Flamengo, os repórteres que lá estavam tinham o compromisso com a notícia. Estava na cara que, se eu soube dentro de um elevador, com tanta insatisfação em toda delegação, isto acabaria vazando.

Depois apurei com cuidado. Os jogadores entenderam que deveriam abrir mão de 30% do que receberiam para dividir de premiação – pouco mais de 60 milhões – para que este montante fosse dividido entre todos que não entravam em campo para jogar, mas que participavam da “orquestra”.

Aí, conforme o combinado, por exemplo, caberia a um roupeiro que tem salário de dois mil reais, um prêmio de 60.000. Segundo apurei, o argumento para não cumprir o acordado foi este fato ter causado perplexidade ao presidente e ao vice de relações externas que, no fundo, no fundo, compararam o Flamengo a uma empresa, onde este tipo de “ bônus” jamais ocorreria. Esqueceram que o Flamengo não é uma empresa e que os dividendos são os títulos em que, o futebol é um mundo à parte. Não bastasse, como diria minha avó Corina, “o combinado não é caro”. E, em qualquer empresa ou clube de futebol, quando não se cumpre o combinado, as consequências são inevitáveis.

Os meus amigos mais próximos desta diretoria me garantem que querem colar em Paulo Pelaipe a culpa deste fato ter vazado. Que injustiça e que falta de dignidade. Os repórteres que lá estavam podem confirmar o que aqui coloco. E, todos aqueles que, por um motivo ou por outro, levaram o assunto para outras pessoas, deveriam ter um pouco de vergonha e, assumir.

Agora, vamos ao que interessa. Um gerente do departamento de futebol, que fechou com seu vice-presidente a renovação de seu contrato, sem que aumento de um centavo houvesse, foi demitido da forma mais fria, covarde e desumana possível, através de um e-mail de alguém do RH do clube. Quando aqui falo em covardia, me atenho ao fato da falta de coragem de quem ordenou ao RH a demissão do gerente de futebol, escondendo a cara. E, quem não tem coragem, covarde é.

Vamos às consequências. Fui vice de futebol do finalzinho de 2005 até a metade do ano de 2009, onde era eu o presidente do futebol, com total apoio e respeito do presidente, à época, Márcio Braga. Jamais fui desautorizado e, tudo que decidia era fielmente cumprido e honrado pelo presidente.

A pergunta que deixo no ar é simples: como será a convivência do vice de futebol Marcos Braz, daqui para frente, após ter sido desautorizado e ridicularizado publicamente?

Como é que alguém pode suportar este tipo de comportamento?

Será que continuando, terá ele por parte dos jogadores e comissão técnica o mesmo respeito e admiração que teve até agora?

Incrível a nossa capacidade de perder para nós mesmos.

A vaidade é o maior inimigo do ser humano. O Flamengo, infelizmente, não é exceção.