Nelson Rodrigues

O óbvio ululante

Ia começar a desenvolver este post, cuja inspiração seria o nosso momento complicado no futebol.  Conclusões à parte sobre a nossa campanha, incompatível com nosso qualificado e caro elenco, muita gente achando que a diretoria deveria ter se posicionado, dando algum tipo de explicação, enquanto que, pessoalmente, tenho horror a coletivas para explicar insucesso.

Solução para o que não vai bem, não é explicação, e sim, atitude. Neste caso, não sei se por estratégia ou coincidência, ponto para a diretoria, desde que o silêncio público tenha sido acompanhado de atitudes internas.

Não vou aqui me aprofundar, após uma série de informações que recebi, pois tenho a noção exata de que em nada ajudaria. Como torço a favor, melhor deixar tudo isto para uma outra oportunidade ou, não.

Agora, o que interessa é ainda mirar no título. Pensando assim, se não vier pela boa – é difícil mesmo – talvez seja o melhor pensamento para, pelo menos, ficarmos entre os quatro primeiros colocados. Afinal, temos ou não obrigação, pelo poderio financeiro e elenco, de disputar a Libertadores?

Em meio a tudo que aqui comento, recebi telefonema do nosso eterno presidente Márcio Braga, encantado e, com razão, com uma coluna escrita por Nelson Rodrigues, encaminhada por um amigo, escritor, apaixonado pelo nosso amor comum.

Nelson, que disputa cabeça a cabeça com Francisco Horta o título de tricolor mais apaixonado pelo Flamengo, é de uma profundidade Maracaneana. Lá atrás, ainda sem ter noção deste mundo novo, Nelson já sabia que, pela grandeza, no Flamengo é proibido pensar pequeno.

Curtam esta obra de arte que, para facilitar a leitura, está também transcrita logo abaixo da imagem…

BOM DIA

NELSON RODRIGUES

1 — Amigos, nós conhecemos o brasileiro de longa data. E, por isso, ele, brasileiro, não nos ilude. Sabemos de suas limitações Por exemplo: sabemos que o brasileiro está sempre a um milímetro da depressão. Ontem, encontrei-me com um velho conhecido. Como não nos víamos há muito tempo, houve, de parte a parte, uma efusão tremenda.

2 — Conversa vai, conversa vem, e ele pergunta: “Como vão “Os Sete Gatinho”?” Digo-lhe: — “O Neville está caprichando!” E como tínhamos vários assuntos a conversar, convidei-o para almoçar comigo: — “Não peço, porque hoje a depressão vem mais cedo”. Vejam vocês a sina do brasileiro: — tem depressão com hora marcada.

3 — Por isso, eu compreendo homens como o Márcio Braga. Como presidente do Flamengo, tem uma vasta responsabilidade. Não pode falar como qualquer um de nós. Quando ele diz um vago “bom dia”, está se dirigindo a uma multidão gigantesca. Quando ele vai abrir a boca, seus assessores cochicham: — “Cuidado! Cuidado!” E o Márcio treme em cima dos sapatos.

4 — Ontem, o nosso Márcio falou à massa rubro-negra. Avisou à sua inspirada assessoria: “Vou dirigir uma mensagem otimista aos rubro-negros.” Os assessores recuaram dois passos e avançaram outro tanto. Em seguida, disseram: — “Não faça isso, Dr. Márcio! Tudo menos otimismo!”

5 – Aqueles frívolos rapazes, como bons brasileiros, não querem nem ouvir falar em euforia. O Márcio Braga, porém, tem, de vez em quando, as suas rebeldias magníficas. Falou assim: “Vocês querem saber de uma coisa? O Flamengo vai ser tri- campeão!” E os assessores baratinados: — “Como, Dr. Márcio? Tricampeão no mesmo ano?”

6 — Márcio ergueu o gesto inspirado: — “Exatamente. No mesmo ano!” Foi aquele deslumbramento feroz. Um clube de massa, como o Rubro-Negro, precisa dos grandes desafios. Nada de timidez, nada de pânico, mas uma confiança cega nas próprias forças. Um clube que tem uma audiência de louco, como o Flamengo, precisa das grandes tiradas. o que a torcida rubro-negra não aguenta são as banalidades insuportáveis.