Decidir na incerteza

Alguém já se imaginou assumindo um compromisso na dependência de um emprego, de um empréstimo, doação, caridade ou, seja lá do que for?

Qualquer pessoa, com um mínimo de responsabilidade, jamais irá atirar no escuro, pois, se comprometer sem a certeza de que o que foi acordado será cumprido, no mínimo pode ser avaliado como irresponsabilidade.

Faço esta introdução que, deve ser considerada da forma mais ampla possível, para que possamos mergulhar de cabeça no nosso mundo rubro-negro.

Antes desta loucura do coronavírus, Jorge Jesus sinalizou o montante que o sensibilizaria para permanecer no Flamengo. Proposta apresentada, mesmo ante a possibilidade de pequenos ajustes, havia no ar a quase certeza de que as partes iriam se entender. Aí, como um tufão, apareceu o inesperado vírus que virou o mundo de cabeça para baixo, a tal ponto de deixarmos de ter certeza sobre as coisas mais simples, quanto mais as que requeiram grande sacrifício financeiro.

Em síntese e, este exemplo talvez sirva para tudo que diga respeito às nossas vidas, como assumir um compromisso importante sem que se tenha a certeza de que possa ser honrado?

Este vírus está transformando o mundo. Quem não entender que tudo está mudando, que para a esmagadora maioria as perdas serão inevitáveis, o novo mundo se anuncia trágico.

O momento requer sabedoria e inteligência, mesmo para os mais bem afortunados que, se não entenderem a transformação, deixarão de ser – e, num piscar de olhos.

Que os nossos dirigentes estejam atentos. O melhor anti-estresse, o infalível, é não gastar além do que se arrecada. Como vivemos na mais absoluta e total incerteza, sem previsão de vacina para o vírus, sem possibilidade de testagem rápida e eficiente, sem ter a certeza de que, quem contrai o vírus, imune está, se poderá vir ou não uma segunda onda, o melhor é estar preparado para o pior, mesmo esperando o melhor.

Quem assim pensar, sobreviverá. No caso do Flamengo, com ou sem o nosso doce Portuga. Até porque, a prioridade do momento é sobreviver, mesmo com sacrifícios, mas com dignidade.