(Jose JACOME / AFP)

Imprudência, ignorância e burrice

Desde 1993/1994 subo e desço a famosa – e tão maltratada – estrada Rio/Petrópolis e, neste tempo todo há algo que sempre me chama atenção. Nunca desci a serra, em dia ou noite de chuva, que não houvesse carro capotado ou batido.

Como sou bom observador, aprendi que dirigir em condições normais é uma coisa e, na chuva, há de se ter a estratégia do “seguro morreu de velho”, onde o acelerador deve ser tratado com toda delicadeza. Em síntese, é imprudência, ignorância e burrice dirigir na chuva como se dirige em uma estrada normal.

Neste jogo do vexame dos 5 a 0, basta substituir Petrópolis por Quito e chuva por altitude, e teremos a mais aproximada explicação para a tragédia rubro-negra.

Em dezenas de vezes, como jornalista e como dirigente, tive o desprazer de conviver com a altitude. Já vi nosso rei, nosso maior ídolo, sequer conseguir sair do hotel para o estádio. Vi João Paulo, ponta do Santos e Flamengo, em jogo da Seleção Brasileira, desmaiar no aquecimento, fazendo um polichinelo.

Certa vez, pela Rádio Globo, narrei, comentei e fiz as reportagens, pois Jorge Curi e João Saldanha não resistiram aos efeitos da altitude.

Os cuidados e precauções devem ser tomados, tanto para descer a serra, como para se jogar na altitude. O que se viu neste jogo contraria tudo que ouvi e vi dos mais variados treinadores que sempre pregavam a compactação do time, a valorização da posse de bola, poupando energia ao máximo.

Nesta partida, fizemos o inverso. Marcação alta, que despende muito mais energia, além de não permitir o time mais agrupado. Erramos estupidamente na estratégia.

Este treinador, quer dizer, aprendiz de treinador, é um teórico, em que pouco importam situações de jogo e elenco disponível. Para ele, radical, o que interessa é a sua teoria. Um louco!!!

Como disse meu amigo Eduardo Manhães, uma coisa é ser teórico, até porque, o papel aceita tudo. A outra, é implantar a teoria, onde o buraco é mais embaixo.

Eduardo Manhães me lembrou que este Dome já esteve no Flamengo, em que o projeto da antiga diretoria era entregar a ele as categorias de base, para que implantasse o que existe no Barcelona, onde, desde o mirim até os profissionais, há uma única forma de jogar. Tese, por si só, discutível, na medida em que a tática está diretamente relacionada ao material humano disponível.

No projeto anterior, a ideia era fazer de Barbieri um novo Guardiola, e Dome seu auxiliar direto. Barbieri acabou sendo apenas um estagiário e Dome, de auxiliar teórico e rei da teoria, a treinador do Flamengo.

Acho que muita coisa que vem dando errado poderia ter sido evitada se conversa houvesse. Será que não se pergunta ao treinador com que time e de que forma vamos jogar? Este simples questionamento dá oportunidade ao treinador, através de um sadio debate interno, de rever decisões e conceitos. A sensação que tenho é a de que não é só o nosso time que joga espaçado. Há, também, enormes buracos no time que joga fora de campo…

Agora, a pergunta que não quer calar. Se há uma conclusão de que esta foi uma ideia infeliz, por que não mudar imediatamente?