Francisco Horta

Conheci Francisco Horta na época em que era repórter de rádio. A primeira entrevista foi em um restaurante italiano, na Barra da Tijuca, que hoje não mais existe chamado Tarantella. Um italianão típico, com frios pendurados e panos de mesa quadriculados, puxando sempre para a cor vermelha. O Tarantella, que ficava na beira da praia, era uma festa diária, talvez por isso Horta gostasse tanto de lá, onde a classe artística assinava o ponto quase que diariamente.

Conheci um dirigente completamente diferente. Um juiz de direito, culto, sensível, agradável, criativo e permanentemente alegre. Ele era feliz dia sim, dia também. Se motivo houvesse para quebrar esta corrente de alegria, encontrava sempre na explicação para o momento infeliz, a alavanca para retomar o seu dia a dia de felicidade.

horta1Horta sempre foi um otimista. Nesta fase, eu repórter, ele presidente do Fluminense, a relação foi muito estreita em função da palavra que para mim define a vida: AFINIDADE. Quando falo em afinidade, pode até soar cabotino, pois quem lê conclui que a admiração era recíproca. Eu diria que ficou recíproca depois dele perceber o quanto eu o admirava e o quanto me fazia bem sua companhia. Foram muitas noites e, principalmente, madrugadas no Tarantella. Sim, porque o nosso personagem não dormia quase nada. Amava a noite e era inspirado por ela. As suas grandes ideias, que acabaram por revolucionar o futebol, todas, “inclusive, todas”, nasceram com a benção da lua. E quantas e quantas testemunhei. Volta e meia cito Horta neste blog, toda vez que ouço um dirigente dizer que não pode contratar porque o clube não tem dinheiro. Horta contratou um fenômeno chamado Rivelino, com o Fluminense pobre, pobre, de marré, marré, e ainda pagou com um cheque que, no momento da entrega, não pesava uma grama. IMG_1427-0.JPGDepois, em função da enorme criatividade de Horta, ficou robusto e, quando foi colocado na balança pelo presidente do Corinthians, pesava o que tinha que pesar. Gênio! Uma imagem correta para esta operação, seria dizer que um mesmo jogador cobrou o córner e fez o gol de cabeça. Nesta contratação de Rivelino, Horta criou o fato e num passe de mágica viabilizou a maior jogada tricolor de todos os tempos.

O troca troca, hoje normal, naquele tempo era impensável. Horta convenceu exatamente o Flamengo, seu maior rival, a mudar o rumo do futebol. Gênio! Independentemente do seu amor ao tricolor, abraçava as causas justas e ia para a briga. Certa vez, o Flamengo foi proibido de sair para jogar uma partida beneficente na Itália. Quem ganhou a guerra foi ele. Apelou para o judiciário e, na marra, o Flamengo viajou e Zico pode esbanjar todo o seu talento, encantando os italianos.

No rádio, na Globo e na Tupi, foi meu companheiro permanente nos programas “Enquanto a bola não rola” e “Bola de Fogo”. Disciplinado e genial, é como posso definir esta fase dele.

Na próxima terça-feira, está figura mágica e querida completará 80 anos. Um presidente da república que amasse o futebol certamente decretaria feriado nacional.