Por que Waldemar?

Não lembro bem quando, talvez há uns quatro meses, concedi entrevista em que o tema central não me dizia respeito, pois não havia participado do episódio em que torcedores rubro-negros contestaram, ao vivo e a cores, a contratação de Waldemar Lemos como treinador do time.
Esta minha entrevista, somada a inúmeras outras, acabou se transformando em um seriado, exibido na Apple TV + e, se não me equivoco, também na ESPN.

Nada contra o pitoresco ser explorado no mundo do futebol, só que, de forma organizada, onde não paire qualquer dúvida, até por uma questão de justiça e respeito ao passado.
Da forma como é apresentada a minissérie, a conclusão é que o Flamengo ao longo do tempo foi uma verdadeira bagunça. Todos os personagens foram colocados em um único balaio, como se tivessem agido da mesma forma e na mesma época.
No que me compete, na condição de ex-presidente, no período de 1995 a 1998, deixo claro que:

1 – Neste período o Flamengo manteve a dignidade, honrando com seus seiscentos funcionários e profissionais do Departamento de Futebol, os seus compromissos contratuais e trabalhistas, onde os salários eram pagos, religiosamente, em dia.
2 – A sede da Gávea e a ex-Sede Nova, no Morro da Viúva, foram recuperadas. Idem o nosso estádio, com arquibancadas modulares e vestiários dignos.
3 – A autoestima rubro-negra foi resgatada com a contratação de Romário, o melhor jogar do mundo, sem que o Flamengo tivesse investido um único centavo. Só no jogo de estreia de Romário, em Goiânia, contra a seleção do Uruguai, o Flamengo, em 1995, teve o faturamento líquido de um milhão e quinhentos mil dólares.
4 – O marketing foi decisivo para a manutenção da dignidade e da retomada da auto estima. Neste período, as sementes do sócio torcedor e da FLATV foram plantadas, além de verdadeira revolução nas parcerias, patrocínios e convivência comercial com as redes de televisão.
5 – Shopping Center aprovado em todas as instâncias, com a consequente mudança do departamento de futebol para o Fla-Barra, complexo custeado totalmente pelo grupo Multiplan, de acordo com contrato entre as partes.

Em síntese, neste período, o Flamengo foi muito além de manter a dignidade.
O problema é que nesta série, tudo aqui relatado foi misturado com a mais perversa página da nossa história, que envolve corrupção e desvio de recursos. No momento em que o Flamengo deveria “nadar de braçada” com os quase 90 milhões de dólares injetados pela ISL, dos quais só 61 chegaram aos nossos cofres, além de, ao invés de acionar judicialmente o grupo Multiplan por ter dado causa a não construção do shopping, foi aceito, da forma mais absurda, negociar uma dívida que não existia e, ainda por cima, com a falência da ISL, houve a inadimplência, gerando dívida colossal. O tiro de quase morte na imagem do clube foi o despejo do Fla-Barra, com o consequente retorno para a Gávea, àquela altura, totalmente abandonada.
Os jogadores citados estavam se referindo a este período, fato que na edição da minissérie não ficou bem claro, comprometendo a verdade.

Mudando de assunto, dentro do mesmo tema: Tenho respeito a todos os profissionais. Nada pessoal contra o treinador Waldemar de Oliveira, porém, como vice-presidente de futebol, entendi que a mudança no comando seria fator decisivo para conquistar a Copa do Brasil de 2006. Como jamais pequei pela omissão, fiz o que tinha que ser feito. Não me arrependo. Aliás, a torcida do Flamengo também.
Sugiro aos queridos companheiros responsáveis pela minissérie, uma ajeitada na edição, em respeito ao princípio básico do jornalismo que é a verdade.

Desculpem o desabafo. Era necessário. Pela preservação da sagrada imagem do Flamengo e em respeito à verdade dos fatos.