Maria Lúcia

O meu tempo do rádio provavelmente tenha sido a minha etapa mais feliz, mais contundente, principalmente com relação aos encontros de vida, até porque, neste período de fortíssimas emoções, comecei a formar o meu mundo, habitado por pessoas muito especiais e, entre elas, Washington Rodrigues, o Apolinho. Com o meu querido amigo aprendi que a melhor linguagem é a direta, a linguagem que todos possam entender e abraçar. E, aprendi com ele, competindo com ele. Como o talento do Velho Apolo era, e continua sendo, descomunal, somando vários sucessos na carreira, não só como repórter, mas também como comunicador, a minha única saída era trabalhar duro, tentando ser um repórter respeitado pelas notícias novas e seguras, como também, criar fatos novos, como uma nova linguagem na comunicação esportiva, valorizando o trabalho em equipe, com programas inovadores como o “Enquanto a bola não rola” e ” Bola de fogo”, que chegavam a picos de audiência só verificados com a bola rolando, isto é, na hora da transmissão do jogo mais importante do domingo. Desta “briga”, ele ainda na Globo e eu na Tupi, depois ele na Rádio Nacional e eu na Globo, nasceu uma grande e profunda amizade familiar. Só não estávamos juntos quando estava eu trabalhando para uma emissora de rádio, e ele para outra. No mais, sempre juntos. Minha família foi apresentada ao Pato Donald, Mickey, Pluto e cia… pelo casal Washington e Maria Lúcia, que bateram o recorde mundial de visitas à Disney. Momentos únicos, maravilhosos, inesquecíveis. Washington e Maria Lúcia, moravam na Timóteo da Costa, no Alto Leblon e, para lá fui de mala e cuia, para um apartamento muito próximo ao deles. Quem armou tudo foi Maria Lúcia. Klebinho e Dudu adoraram, pois poderiam estar o tempo todo ao lado de Washington Jr. e Bruno e, ainda por cima, com o Clube Federal na cara do gol, que acabou virando o quintal das duas casas. Na outra decisão importante de vida, Washington e Maria Lúcia tiveram papel decisivo. Após uma experiência frustrante de ter uma casa em Búzios, quando o dinheiro da entrada para a compra do imóvel me foi devolvido, Maria Lúcia, com sua sensibilidade de anjo, me perguntou o motivo de uma casa na praia, se o perfil da família era muito mais para a serra. Neste mesmo dia, fomos juntos ver umas casinhas em Petrópolis e, por ironia do destino, acabamos ficando com a primeira que nos foi mostrada pelo super corretor de imóveis, Indalécio Villas. Lá, jogamos peladas memoráveis, rompemos o ano jogando bola… sempre juntos. No meio de semana, as peladas eram no Alcidão, e o Velho Apolo, com sua torcedora número 1 sempre assistindo, era o centroavante (e bom!) do meu time.

Família Rodrigues

Família Rodrigues

Neste convívio, observei algo realmente mágico. Maria Lúcia, no fundo, era a grande responsável pela união de várias famílias, com sua alegria contagiante e seu poder em juntar as pessoas em torno dela. O que vou colocar aqui, espero que não deixe nenhuma das mulheres que conosco conviveram com uma pontinha de ciúme, claro que, ciúme no bom sentido. A verdade é que nunca vi, ao longo de toda minha vida, uma mulher vestir com tanta vontade e determinação a camisa do seu homem. Maria Lúcia era antes de tudo, Washington Futebol Clube. E ponto! Amor incondicional, louco como todo amor maior, cúmplice e amigo em todas as horas.

Ontem, Maria Lúcia nos deixou. Como sempre cuidou de todos, preparou cada um de nós para este momento. O sofrimento dela na etapa final de vida, de certa forma, foi mais um carinho que teve ela com todos que a amavam. Sei o quanto é difícil, mas torço para que o meu querido Velho Apolo tenha força para encarar esta cacetada da vida. É a vida.

Descanse em paz, querida amiga. Você foi a cúmplice que todo homem sonha ter.