Na contramão do Brasil

No dia em que os opressores e criminosos levaram um golpe fatal e de mestre, com o STF determinando a proibição de celulares, mesmo desligados, na cabine de votação e, com isso, livrando o eleitor de qualquer tipo de constrangimento para exercer o seu direito de votar de acordo com a sua consciência, o que se viu na reunião do Conselho Deliberativo do Flamengo foi a antítese deste largo passo democrático dado pelo país.

Foi constrangedora a colocação de duas urnas, uma para receber os votos do não – contra o recurso visando anular uma decisão do Conselho soberano do Flamengo – e outra urna com o sim, para receber os votos que aprovariam o recurso.
Isto, a pouquíssimos metros, quase que colada à mesa, onde estava do presidente do clube ao “ponta esquerda” da diretoria, todos vigilantes, atentos, policiando e constrangendo quem fosse votar.

Esta foi uma artimanha que tem como base o desrespeito ao processo democrático.
Assim que cheguei, fui procurado por vários companheiros que, de uma forma ou de outra, participam da atual administração, garantindo, de maneira espontânea, que votariam contra o recurso, pois consideravam uma agressão ao clube. Algumas destas pessoas quando souberam que a votação não seria secreta e que estariam sendo vigiadas no voto, meio sem jeito, se desculparam dizendo que, ante as circunstâncias, não poderiam cumprir o que haviam prometido.

Houve até um grupo em que o comandante, o líder, me informou que, estrategicamente votaria ele pela aprovação do recurso, porém, os outros componentes, desconhecidos da diretoria, votariam em peso pela rejeição.
Resumo da ópera: que papelão! Como pode o clube mais popular do país dar este exemplo antidemocrático, em ação típica das milícias que, na marra, na intimidação, tiram do pobre eleitor o sagrado direito de expressar sua preferência através do voto.

A reunião não chegou ao final, pelo simples fato de não ter sido dada ao recorrido o amplo direito de defesa. Há até quem ache que esta decisão foi tomada pela quase certeza de que a derrota, no voto, seria inevitável.
Inacreditável foi saber que o tal recurso foi interposto menos de vinte quatro horas após a decisão soberana do Conselho Deliberativo, em julho de 2021, que confirmou a honraria a mim conferida. Incrível como, em menos de um dia, descobriram dezesseis sócios inadimplentes. Que facilidade, hein? E autorizado por quem, enxovalhando honra e privacidade de cidadãos brasileiros? E pior ainda: o recurso ser retirado do baú, um ano depois…
Muito triste ver aquela quantidade de pessoas, que poderia estar desfrutando o prazer de estar com suas famílias, seus amores, seus amigos, para, rigorosamente, nada!

Agradeço de todo coração aos que lá estiveram, motivados em fazer com que uma decisão soberana do Conselho Deliberativo fosse respeitada.
No abraço aos ídolos eternos, Zico e Junior, que com coragem manifestaram repúdio aos que imaginam ser o Flamengo o quintal da casa deles, abraço todos aqueles que, até de muletas e cadeiras de roda, foram dizer não à tentativa de manchar, por irresponsável picuinha, 127 anos de respeito estatutário e ao processo democrático.

Muito obrigado!